sábado, 28 de junho de 2008
O INCRÍVEL HULK
Minha crónica do "Sol" de hoje (na foto de cima cena do filme com os actores Edward Norton e Liv Tyler, nos papéis de Bruce Banner e da sua namorada, e, em baixo, gravura de Goya sobre os sonhos da razão):
Hulk, ou melhor Bruce Banner, é mesmo incrível. Numa experiência secreta de uma arma por ele criada, o físico nuclear Bruce Banner foi submetido a forte radiação gama que o tornou capaz de se transformar em Hulk, um monstro de forma humana, de cor verde, que aterrorriza tudo e todos. Bruce é uma pessoa inteligente e sensível, mas, quando se irrita, fica um débil mental, de corpo enorme, que não é inteiramente mau, mas quando provocado arrasa quem lhe surja pela frente.
O filme do francês Louis Leterrier está, com muito público, nos cinemas de todo o mundo, escassos cinco anos depois depois de ter passado uma outra película sobre o mesmo tema, realizada pelo chinês Ang Lee. O superherói Hulk nasceu em 1962 nos “comic books” da Marvel, onde aliás continua, tendo passado para a televisão antes de chegar ao grande ecrã. Já nessa altura Hulk tinha de enfrentar um poderoso general norte-americano, que, para maior intensidade dramática, é pai de uma bela rapariga apaixonada por Bruce. No filme agora em exibição o general comanda um ambicioso capitão, de origem russa (resquício da guerra fria), que acaba também por se transformar num monstro pois era preciso um grande duelo final. Não vou dizer quem ganha...
Hulk é uma versão moderna de Frankenstein, o mítico personagem do Romantismo saído da pena de Mary Shelley em 1818, que passou ao cinema quando este surgiu. Frankenstein e Hulk podem ser vistos como a encarnação do medo do homem que desafia a Natureza com experiências temerárias. O século XIX, tendo necessidade de reagir ao século das luzes, imaginou histórias fantásticas como essa da criatura que, inopinadamente, foge ao criador. Criou monstros onde antes existia a razão. O pintor espanhol Francisco Goya bem previu ao inscrever numa gravura de 1799: “O sonho da razão gera monstros”.
A vida não é bem como nos filmes e a ciência não é tão má como na fita. Mas Hulk, ao actualizar Frankenstein, alerta-nos para a necessidade de manter a razão acordada. Ciência com consciência é razão que não se deixa adormecer.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
CARTA A UM JOVEM DECENTE
Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente . N...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
4 comentários:
Gostei do paralelismo entre o hulk e o Frankenstein. Apesar de preferir o de Bruce/Hulk com Jekyll/Hyde.
Eu não gosto nada do paralelismo Frankenstein/Hulk. É absolutamente errado. O Jekyll-Hyde com Banner-Hulk funciona melhor, mas não na sua origem. E puxar Goya para o assunto ainda é mais despropositado.
Nas histórias, Hulk tem bom coração e apenas quer que o deixem em paz. Se não o perseguirem, ele fica quietinho e não chateia ninguém. Além disso, a forma como Banner passa a poder transformar-se no Hulk na história inicial tem simplesmente a ver com a tentativa de salvar um rapaz que se encontrava na zona de testes da "bomba gama". Desde quando se consegue ver aqui a relação com o Dr. Frankenstein de Mary Shelley? Só mesmo para encher chouriços, que é o que esta crónica tenta fazer...
A analogia Hulk / Frankenstein é defendida por um dos autores. Ouçamo-lo numa entrevista recente.
Carlos Fiolhais
http://planetcomicbookradio.com/index.php?option=com_content&task=view&id=161&Itemid=32
STAN LEE on the literary/cinematic antecedent of THE HULK (from part 1 of the podcast)
"With the Hulk, I really based him on two properties: on Frankenstein, the monster. Because I always thought that the monster in Frankenstein was really the good guy. He didn’t want to hurt anybody. Those idiots with torches kept chasing him up and down the hills. I thought it would be fun to have monster who was basically good but nobody realized it. But then to make it more interesting, I figured if I could use the Jekyll and Hyde angle and have him be somebody who was a normal human being who turned into that monster and turned back – and the monster hated his weaker self, and the normal human being hated the monster, and they were always in conflict, but they were the same guy."
Bom, fica a correcção. Eu estava errado. Seja como for, continuo a ver como muito ténue uma ligação de Frankenstein com Hulk. Mas o erro não será seu, será (se existir, posso ser eu que não a vejo de forma clara) antes do autor.
Enviar um comentário