segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

UMA VISITA À AJUDA


No último domingo do ano passado fui visitar a exposição do Hermitage no Palácio da Ajuda em Lisboa, sobre a qual em tempos me pronunciei. Apesar de não ir com muitas ilusões, saí de lá desiludido. Só não lamento o preço do bilhete porque não paguei graças ao patrocínio do Millennium BCP. Logo para começar a venda dos bilhetes funcionava mal: vi pessoas que pagaram a exposição e a visita ao Palácio (seis euros mais dois euros) quando domingo de manhã a visita ao Palácio era grátis. Portanto, no Ministério da Cultura do andar de cima não sabiam as regras do Ministério da Cultura do andar de baixo... Registei que a exposição não fechava à hora de almoço enquanto o palácio fechava, talvez por falta de pessoal!

A exposição, tal como tem sido referido pela crítica especializada (incluindo a de vários historiadores e museólogos), é pobre. Limita-se a expor por ordem cronológica as peças cedidas a preço de ouro pelos russos. Não há nenhuma ideia subjacente a não ser a genealogia dos czares. Poucas peças são impressionantes: talvez alguns retratos de czares com maiores dimensões, como o de Catarina a Grande. Não vi nada de "espampanante", embora no vasto conjunto de objectos da corte imperial figurassem naturalmente alguns onde os meus olhos pousaram por mais tempo. Mas seria de admirar que assim não fosse dado o bem conhecido luxo imperial... Sobre as relações entre Portugal e a Rússia durante o período abrangido, nem uma imagem nem uma palavra, que eu tenha dado conta. Sobre Ribeiro Sanches, que foi médico de Catarina, não há nada.

O cenário da galeria D. Luís, onde eu não ia há muito tempo, também é pobre. Até grandes condutas nuas se vêem no tecto. No final há um livraria-loja onde devia encontrar-se o catálogo. Mas não encontrei. Disseram-me que estava esgotado e não sabiam quando voltaria a estar disponível. Nesse espaço podiam-se vislumbrar, embora virtualmente, os verdadeiros tesouros artísticos do Hermitage (não os expostos, claro) através de um programa de computador, mas o mesmo posso fazer em casa e até com maior conforto. Não havia sítio, ali ou nas imediações, onde tomar um café.

Por último, seja-me permitida uma observação sobre a conservação dos nossos monumentos nacionais. O IPPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico, que zela por eles, tem uma bela placa dourada na Ajuda, perto aliás da placa dourada da Ministra da Cultura. Essas placas douradas, essas sim, pareceram-me um pouco "espampanantes" num palácio onde as janelas de guilhotina estão em acentuado estado de degradação. O dinheiro que foi dado ao Hermitage não poderia ter sido usado para restaurar as janelas do magnífico Palácio da Ajuda, que até é um sítio de representação do Estado? Quem ajuda a Ajuda?

3 comentários:

MN disse...

Bons dias.

Não me espanta a descrição que faz, nomeadamente em relação às más condições. Tenho fortes ligações a um outro monumento nacional (Palácio de Mafra) e, infelizmente, tornou-se "normal" assistir à sua degradação, bem como dos serviços oferecidos. Por exemplo, um dos avançados sistemas de segurança consiste em amarrar com um fio de nylon as peças expostas aos móveis oitocentistas onde estas se apoiam. Quando digo amarrar, refiro-me a um fio de nylon e a um prego no referido móvel, cujo valor por vezes ultrapassará o da peça "protegida". Também será vulgar assistir a visitas feitas por empregadas de limpeza, por falta de pessoal.

É uma frase feita, mas é assim a cultura em Portugal...

Paula Crespo disse...

Apesar de não levar grandes expectativas quando fui ver a exposição, também eu fiquei desapontada com a mesma. Concordo inteiramente com o que disse: o material expositivo não justifica a fama e a organização da exposição deixa muito a desejar. Pobre, limita-se a seguir a ordem cronológica da dinastia Romanov e pouco mais.
A montanha pariu um rato...

Verissimo disse...

Concordo com o que disse. Tambem fui ver a exposição e fiquei muito desiludido.

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