sábado, 12 de novembro de 2011

O Colégio dos Nobres, Uma oportinudade perdida

Post recebido de António Mota de Aguiar:

É por demais conhecida a revolução profunda que o Marquês de Pombal empreendeu no ensino em Portugal. Um atento historiador do século XIX, escreveu:

“(…) O reinado de D. José marca uma época memorável nos annaes da construção publica em Portugal. A Reforma operada nos estudos universitários foi tão profunda, tão radical, tão vasta, que sem grande exageração póde dar-se-lhe o nome de restauração, e até de creação, como em verdade se lhe deu em alguns diplomas d’aquella época.(…)
(José Silvestre Ribeiro in “História dos Estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artísticos de Portugal nos Sucessivos Reinados de Portugal”, 1871, Tomo I, p. 345)

O que Carlos Fiolhais corrobora num recente artigo neste blogue (Cem anos da Faculdade de Ciências de Coimbra, 8.11.2011) :

“A Reforma Pombalina de 1772 foi um verdadeiro “terramoto intelectual”. Inaugurou em Coimbra o ensino fundado na observação e na experiência, tendo os grandes autores da Revolução Científica como Galileu e Newton entrado nos curricula.”

Foi no quadro desta reforma, de se estabelecer um patamar académico de conhecimentos pedagógico-científicos sólido de acesso ao ensino superior, que, por iniciativa do Marquês de Pombal, foi criado, por carta de lei de 7 de Março de 1761, o Real Colégio dos Nobres, estabelecimento de educação pré-universitário, voltado para a formação dos jovens aristocratas. Para fortalecer o quadro de docentes portugueses de então, foram chamados a Portugal professores de renome de Itália e de Irlanda. O Colégio dos Nobres instalou-se no extinto colégio e noviciado jesuíta da Cotovia, onde é hoje o Museu da Ciência em Lisboa.

É muito provável que a ideia da criação do Colégio dos Nobres tenha historicamente raízes na Áustria da Imperatriz Maria Teresa: o futuro Marquês de Pombal chegou a Viena em 1845, onde permaneceu cerca de 5 anos como embaixador, no momento em que este país levava a cabo uma reforma na sociedade, que abrangia a renovação do serviço público, com profundas alterações no sistema do ensino vigente. Pretendia-se seleccionar pessoas jovens com talento e capacidade a fim de serem formadas como funcionários públicos: professores, militares e diplomatas, entre outros, os quais deviam servir o Estado com competência. Todo o sistema de ensino público foi por essa altura renovado. Em 1846 foi criada a “Theresianische Akademie”, a qual se dirigia à educação de jovens aristocratas.

Sebastião de Carvalho deve ter sofrido uma forte influência do Iluminismo austríaco, pois, quando em 1855 assumiu a pasta de 1.º ministro do Reino, lançou “um verdadeiro terramoto intelectual”.

As reformas da “Theresianische Akademie” terão porventura inspirado o Marquês na criação do Real Colégio dos Nobres, edificado na esteira do modelo austríaco: pretendia-se dinamizar a elite aristocrata portuguesa para a aprendizagem das ciências, das letras e das artes, reforçando o ensino com matérias como física e matemática, entre outras.

A ideia fazia sentido, embora só abrangesse jovens aristocratas, deixando de fora jovens oriundos de outras classes sociais. A Instituição foi inaugurada em Março de 1766 com pompa e solenidade na presença da família real portuguesa.

Porém, dez anos depois já a Instituição se tinha degradado, vindo a fechar poucos anos depois “pela improdutividade que a escola dava na formação de alunos.” Os alunos não estavam interessados em estudar as matérias agendadas, preferindo as aulas de dança, esgrima ou equitação às aulas de ciência.

O encerramento do Colégio fez-se uma dezena de anos depois de abrir, embora oficialmente somente a 4 de Janeiro de 1837. O Colégio dos Nobres fechou nos seguintes termos:

"Sendo o Real Colégio dos Nobres uma instituição que não está em harmonia com a constituição política da monarquia, em razão por ser seu instituto uma escola privilegiada (...)" (Obra já citada, tomo VI, 1876, p. 322)

Pelo meios financeiros e energias empregues na altura e as esperanças depositadas, o falhanço desta experiência constituiu um duro golpe para o ensino em Portugal. Ao contrário da “Theresianische Akademie”, cujas consequências positivas da reforma ainda hoje se fazem sentir na Áustria, o Colégio dos Nobres não deixou rastro da sua passagem. Tivesse esta experiência tido sucesso, teria certamente contribuído para o enriquecimento do ensino em Portugal.
António Mota de Aguiar

1 comentário:

joão boaventura disse...

Embora o Colégio dos Nobres não tivesse deixado rastro da sua passagem, parece ter havido continuidade nos arredores de Paris, mais precisamente, em Fontenay-aux-Roses, com todo o seu historial.

Luiz de Pina, no artigo “Portugueses Mestres no estrangeiro” (in Anais da Faculdade de Ciências do Porto, vol. XXII, n.º , imprensa Portuguesa, Porto, 1936), a p. 65 refere:

“Pede requerimento o Colégio Luso-Brasileiro de D. Pedro de Alcântara estabelecido em Fontenay-aux-Roses, fundado em 1838 por Frei José da Sagrada Família, Doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra. O abastado português Luiz António Esteves Freire muito contribuiu em dinheiro para a sua instalação. Aí ensinaram Fonseca Lobo, Manuel Coelho, Correia de Abreu e António Vale. Relembre-se também o Colégio dos Portugueses, em Roma, fundado no fim do século XIX.”

Frei José da Sagrada Família, figura com o seu nome de baptismo, no “Dicionário Bibliográfico Português”, Tomo V, de Inocêncio Francisco da Silva, da Imprensa Nacional, 1840, ou seja José da Silva Tavares, a pp. 133, havendo uma estampa litografada por Bordalo Pinheiro e digitalizada na Biblioteca Nacional.

José-Augusto França aborda o tema na sua obra “Le romantisme au Portugal: Étude des faits sócio-cultutrels” (ed. Klincksieck, Paris, 1975), a pp 90, considerando Frei José um miguelista convicto ao ponto de ocupar o cargo de secretário de D. Miguel no seu exílio, estranhando que ao colégio fosse atribuído o nome de “Colégio Luso-Brasileiro de D. Pedro de Alcântara”, precisamente o homem que derrotou o seu irmão, D. Miguel, nas lutas liberais, expulsando-o do país.

Segundo indicação do Município de Fontenay-aux-Roses, a quem escrevi, foi neste Château Sainte Barbe que terá funcionado como substituto (1838-1843) do extinto Colégio dos Nobres (1761-1837) de Lisboa, considerando o exílio de muitos nobres para França, e do próprio prelado, Frei José da Sagrada Família, conforme resposta via net foi a de que: « Nous avions que des Brésiliens s’étaient installés à Fontenay-aux-Roses au début du XIXème siècle. Nous savions aussi que leur propriété se situait dans l’actuel château Sainte-Barbe » (e-mail recebido em Fevereiro 13, 2008).

Outra será a versão do Dicionário Histórico, na biografia de Frei José da Sagrada Família, que se refere a este colégio português chegou a adquirir uma verdadeira celebridade, e não só foram ali educados muitos portugueses…

O historial está descrito no Tomo IX, da História dos Estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artísticos de Portugal nos Succesivos Reinados da Monarquia, de José Silvestre Ribeiro, impresso na Tipografia da Academia Real das Ciências (Lisbos, 1881), a pp 37 a 44, referindo que o “Colégio Luso-Brasileiro” teria a denominação de “D. Pedro de Alcântara”, pelo apoio de D.Pedro II, Imperador do Brasil, e abriu, em 17 de Novembro de 1838, nove meses depois da extinção do “Real Colégio dos Nobres”, que Passos Manuel quis como Liceu de Lisboa, quando estabeleceu o plano dos Liceus, em 1836, e alguns deputados pretenderam ainda recuperá-lo, segundo Alexandre Herculano

V.M. Braga Paixão, numa comunicação apresentada na Academia das Ciências de Lisboa, à Classe de Letras, em 28.4.1966, com o título de “«Liceu», antes de Passos Manuel”, refere, a páginas 147, que a designação de “Liceu” era anterior a Passos Manuel, e data de 1828, período absolutista miguelista.

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