quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

VOLTAS AO SOL

O astrofísico Carl Sagan gostava, para referir a idade de uma pessoa, de usar a expressão “voltas ao Sol” em vez de anos. Morreu após ter dado 62 voltas ao Sol, a 20 de Dezembro de 1996. Agora que o novo ano está iminente, é uma boa altura para lembrar que o ano não é mais do que a unidade de tempo que corresponde a uma volta completa do nosso planeta em volta da sua estrela.

Que o ano comece a 1 de Janeiro, entre o solstício de Inverno a 21 de Dezembro e a data do periélio terrestre a 3 de Janeiro (quando a Terra está à menor distância do Sol, por estranho que isso possa parecer), não passa de uma convenção. Podia começar noutro dia? Poder podia e era a mesma coisa... As revoluções do nosso astro em torno do astro-rei repetem-se com uma extraordinária regularidade. Como todas as convenções, também essa tem uma história. O início do ano em 1 de Janeiro começou com o estabelecimento do calendário juliano pelo líder romano Júlio César, no ano 46 a.C. Antes disso o ano começava em Março. Acrescentaram-se então dois meses ao ano (Novembro e Dezembro) e os últimos dois meses do ano antigo (Janeiro e Fevereiro) passaram a ser os primeiros do novo ano. O ano da mudança ficou justamente designado por “ano da confusão”.

Uma outra confusão houve, embora menor, em 1582. A fim de melhor obedecer à astronomia, uma bula do Papa Gregório XIII, de 24 de Fevereiro, revogou o calendário juliano, decretando que fossem retirados alguns dias a esse ano. O dia 15 de Outubro surgiu logo após o 4 de Outubro, criando assim um “buraco” no calendário. O dia 1 de Janeiro de 2009 no calendário gregoriano, que ainda vigora, é o dia 19 de Dezembro do calendário juliano. Países católicos como Portugal, Espanha, Itália e Polónia seguiram imediatamente o édito papal (que tinha sido preparado por uma douta comissão que incluía Christophorus Clavius, talvez o mais famoso estudante de Coimbra). Outros seguiram-no mais tarde, como a Inglaterra. Comentou o astrónomo Johannes Kepler: “Preferiam estar em desacordo com o Sol a estar de acordo com o Papa".

8 comentários:

Marco Neves disse...

Olá! Sempre interessante.
No artigo, há algo que não compreendo: por que razão se acrescentaram os dois meses com a adopção do calendário juliano? O ano tinha antes apenas dez meses? Além disso, Novembro e Dezembro têm nomes que provêm de "nove" e "dez", o que tem lógica se pensarmos que foram criados quando o ano começava em Março. Parece-me estranho os meses terem sido "inventados" exactamente quando os seus nomes perdiam a lógica. Vale o que vale, mas aqui vai: http://en.wikipedia.org/wiki/Julian_calendar
Pelos vistos, em Portugal, até ao séc. XVI, o ano não começava em Janeiro.

Marco Neves disse...

Já agora, bom ano!

touaki disse...

Antes de mais um bom ano de 2010 independentemente de ele ser mesmo 2010 d.C. ou não e começar verdadeiramente em 1 de Janeiro.
Mas uma pequena correcção histórica - Júlio César nunca foi ou se intitulou imperador de Roma. O primeiro a usar o título foi Octávio.

Paulo disse...

Prof. Fiolhais,
Carl Sagan faleceu em 1996.
Um abraço de um antigo aluno

Paisano disse...

Que a convenção seja a de intitular o primeiro dia do ano como primeiro de Janeiro (Janus)é completamente aceitável, porque as convenções são isso mesmo .... convenções.

Portanto, o facto de o dia UM do ano ser o dia Um de Janeiro está convencionado.

O que já não se entende é o seu posicionamento em relação a determinado momento de posicionamento do planeta Terra ao descrever a sua órbita no sistema solar.

Teria feito todo o sentido fazer coincidir o dia do iníco da contagem do calendário com o dia de um posicionamento específico da Terra na órbita.

E, pelo menos, existem quatro momentos que poderiam ser escolhidos, dois solstícios e dois equinócios.

Com as técnicas de medição da época, falamos de há 2050 anos, o solstício de Inverno era bem determinável.

Paulo Pimenta disse...

O calendário Gregoriano introduziu a correção secular dos anos bissextos que determina que os anos terminados em 00 não são bissextos, com exceção dos anos divisíveis por 400. Desta forma os solstícios e equinócios passaram a ocorrer sempre nas mesmas datas, sem acumular erros.

Anónimo disse...

O astrónomo Medler propôs, em 1864, corrigir o calendário juliano, excluindo um ano bissexto de 128 em 128 anos.
A comissão formada por Gregório XIII deve ter feito as seguintes contas: 31*400/128=96,875 (há, no calendário juliano, em cada 128 anos, 32 bissextos), donde 97 bissextos em cada 400 anos.

Referência: N. Beskin, Fracções contínuas, Ulmeiro, 2001.

Américo Tavares

De Rerum Natura disse...

Já emendei o ano da morte de Sagan, muito obrigado pela correcção da gralha (demorei a emendar por ter estado fora e sem rede na passagem do ano).
Carlos Fiolhais

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