segunda-feira, 22 de julho de 2019

PROPOSTA DE UM NOVO CURRÍCULO PARA A MATEMÁTICA

Em Dezembro passado, o Ministério da Educação constituiu o Grupo de Trabalho de Matemática (cf. Despacho n.º 12530/2018). No final de Junho o grupo apresentou o documento Recomendações para a melhoria das aprendizagens dos alunos em Matemáticaque se encontra em discussão durente noventa dias para "posterior aperfeiçoamento e complementação, dando então origem a uma versão final".

São perto de trezentas páginas que incluem um historial e uma análise dos documentos que têm orientado a disciplina ao longo das últimas décadas no nosso país nos diversos âmbitos e níveis do sistema - educação pré-escolar, ensino básico, ensino secundário e cursos profissionais: programas, metas (de aprendizagem e curriculares) e aprendizagens essenciais. Esse historial e análise estende-se a projectos que têm sido experimentados para superar problemas de aprendizagem.

Segue-se um olhar a documentos curriculares comummente referidos quando se passa para o plano internacional: dos Estados Unidos da América, de Singapura e da Finlândia. E exploram-se os resultados de programas de avaliação internacional (PISA e TIMSS).

Quase no final, no tópico 9.3  (Um ponto de situação sobre o atual contexto curricular), inclui-se uma alusão à matemática no Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular e às necessidades curriculares futuras que devem estar de acordo com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. A alusão ao Projecto é descritiva, com recuperação de dados de um estudo com carácter de avaliação publicado em 2018, a alusão às mencionadas necessidades curriculares merece atenção.

Aqui recuperam-se estudos e propostas de entidades cuja vocação não é educativa, é económico-financeira. A saber: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e fundações ligadas a empresas de abrangência global. Estamos a falar de entidades que penetram cada vez mais fundo nos sistemas de ensino, direccionando, como é compreensível, os currículos escolares em função dos seus próprios interesses. É, pois, de estranhar que académicos que investigam o estado do ensino, integrem esses estudos e, sobretudo, as suas propostas num documento que será tomado em consideração pela tutela. Eis uma passagem do mencionado documento:
"Em jeito de conclusão, é absolutamente inequívoco que a Matemática é e será uma disciplina incontornável na formação de qualquer cidadão, em especial na sua preparação para o mundo do trabalho. Um currículo que responda a essa exigência deve ser: pouco extenso; relevante e flexível; envolver todos os parceiros na sua construção; prever o desenvolvimento de competências de resolução de problemas, de raciocínio matemático e de trabalho com situações da vida real, nomeadamente privilegiando o tratamento e interpretação de dados, bem como o pensamento crítico; e dar oportunidades diversificadas a todos os alunos para que se sintam confortáveis na abordagem a problemas cuja resolução requeira Matemática."
A terminar, são apresentadas vinte e quatro recomendações, agrupadas em quatro áreas nas quais se destacam diversas necessidades de que, a seguir, se dá uma brevíssima ideia:
currículo da matemática (destaca-se a necessidade premente de elaboração de um novo currículo de Matemática para toda a escolaridade obrigatória),
dinâmicas de desenvolvimento curricular (destaca-se a necessidade de os processos de mudança curricular serem acompanhados por dispositivos de regulação),
avaliação das aprendizagens dos alunos (destaca-se a necessidade de reforçar a avaliação formativa, não havendo retenção a não ser no final dos ciclos), formação de educadores e professores (destaca-se a necessidade de investimento na formação inicial e a prática de ensino supervisionada, e a necessidade se centrar a formação contínua nas escolas e focados nas práticas.

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