"O amor é importante (mas não muito filosófico)
A maioria de nós apaixona‑se num dado momento da sua vida, e há inúmeros romances, peças de teatro, canções e poemas acerca dos triunfos e tragédias do amor. O amor é muito importante para nós — determina o modo como pensamos e nos comportamos. Tem um enorme papel na pessoa que somos e em quem nos tornamos. Há quem diga que tem um elemento espiritual e ético que falta à simples luxúria.
Como sabemos quando estamos apaixonados? É uma emoção que nos parece evidente em si mesma. Porém, é um fenómeno privado, não algo que possamos descrever literalmente ou explicar com clareza. Como poderia de todo tornar‑se algo lógico, corroborado ou refutado, tornado moral ou imoral? Afinal de contas, no amor e na guerra vale tudo. O leitor pode ver por que razão isto é um problema para os filósofos.
O cortejar e a cultura
Há muitas regras culturais não escritas que regem o romance. Tradicionalmente, o amor envolve um homem activo que «corteja» uma mulher, a qual inicialmente finge indiferença. Isto torna o acto de cortejar um manancial de possíveis mal‑entendidos e constrangimentos. As mulheres supostamente existem num estado de «disponibilidade» passiva, embora possam ocasionalmente dar ao seu escolhido um ou outro incentivo.
O amor pode também ser instantâneo. Muitos jovens continuam a afirmar que, intuitivamente, «souberam» logo que acabariam por casar com aquela rapariga que viram «do outro lado de uma sala apinhada de gente».
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Q Acredita no amor à primeira vista?
R Paixão e luxúria à primeira vista são uma coisa. O amor parece ser algo diferente.
Q Poderemos de todo decidir estar apaixonados?
R O amor não parece algo que se possa escolher. Seria como escolher uma crença. Ou a temos ou não. É uma questão involuntária.
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O amor pode também tornar‑se obsessivo, um tipo de doença. O amor pode ser terrivelmente destrutivo. Pode destruir casamentos, traumatizar os filhos, levar ao desespero suicida. Vá à ópera e veja.
Portanto, o amor romântico é, ainda, em parte, «cultural», e a sociedade ainda vê com maus olhos as mulheres promíscuas, porque a sociedade permanece patriarcal — os homens têm mais poder económico e político. Porém, muitas mulheres são hoje economicamente independentes e menos constrangidas pelas expectativas masculinas. As raparigas arrojadas convidam os rapazes para sair e não esperam receber longos poemas dedicados à sua pureza e beleza. Temos mais liberdade, mais parceiros, pelo que aprendemos mais acerca do poder, da insegurança e das complexidades das relações. No entanto, o amor não correspondido pode ainda assim ser uma experiência horrível.
Será o amor apenas físico?
Além de ser parcialmente cultural, o amor romântico é obviamente também algo bastante «natural». O desejo sexual é algo inato, um impulso tão natural quanto a fome ou a sede.
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PARA PENSAR
Apaixonar‑se produz nos nossos corpos consideráveis acontecimentos de natureza química que estimulam os centros de prazer do cérebro para nos deixar felizes e excitados, até mesmo algo doidos. Isto sucede porque a Natureza quer que perpetuemos os nossos genes e os misturemos, e apaixonar‑se é o início deste processo. Os homens em geral procuram companheiras jovens e belas, e as mulheres gostam de homens bem‑parecidos. No entanto, as mulheres procuram também segurança, estatuto e fiabilidade. Precisam de parceiros que as protejam e à prole até que os seus próprios filhos se tornem potenciais parceiros. Talvez seja por esta razão que as mulheres, pelo menos superficialmente, são mais relutantes do que os homens em ter relações, e os homens mais promíscuos.
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Contudo, o amor não tem apenas a ver com a procriação. As pessoas são atraídas umas pelas outras por todo o género de razões: compaixão, amizade, empatia, um desejo de pertença, medo da solidão, sentimentos de insegurança e inferioridade, egotismo e outros sentimentos, quer bons quer maus.
Amor maduro — o fim do romance?
Não é fácil determinar quanto de cultura ou de Natureza determina o comportamento romântico dos
homens e das mulheres — porque se trata de uma mistura confusa de ambos. O amor romântico é uma mescla complexa de poderosos impulsos inatos e convenções sociais, culturais e históricas que canalizam ainda os nossos instintos para os códigos de comportamento a que a sociedade dá preferência.
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Q Haverá maneira de saber se uma relação perdurará?
R Como poderíamos saber se uma relação perdurará?
Como quase tudo na vida, trata‑se de um jogo. Muitos de nós sentimo‑nos já fisicamente atraídos por alguém que posteriormente viemos a considerar enfadonho, irritável, trivial, obsessivo ou apenas desagradável. Portanto, é uma boa ideia considerar o carácter, além da aparência. O amor, a longo prazo, é mais do que a mera paixão.
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Se somos como a maioria das pessoas, então a paixão acabará por se tornar menos premente, ainda «romântica», mas também mais consciente e menos determinada por desejos físicos. A nossa relação será moderada pelo respeito mútuo e pela empatia. Ambas as partes se apercebem de que é sensato permitir aos seus parceiros serem eles mesmos e não uma cara metade idealizada. Parece mais monótono, mas tem os seus méritos. Há maior abertura, talvez, e mais negociação. Isto pode ser uma coisa boa, ou não. Pode tornar‑nos felizes e satisfeitos, ou não. Tudo depende das pessoas envolvidas.
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Q Os amantes não podem ser amigos. Concorda?
R Esta perspectiva do amor é algo cínica. Sugere que os amantes não sabem na verdade muito acerca uns dos outros e que não aderem a tudo o que foi dito no capítulo anterior acerca da amizade, como a confiança, a partilha, o compromisso e o florescimento. Ainda assim, o amor parece de facto mais volátil e perigoso do que a amizade, especialmente nas suas fases iniciais.
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O filósofo pessimista Arthur Schopenhauer (1788‑1860) pensava que o amor romântico é algo que não raro termina mal, independentemente de quem somos. No momento, todos pensamos que nada há mais importante do que o amor. Far‑nos‑á felizes para sempre. Contudo, infelizmente, diz‑nos
Schopenhauer, o amor é apenas o logro da Natureza para nos levar a procriar. Pensamos que se trata de mais do que isso, mas não. Apaixonamo‑nos por pessoas que, subconscientemente, acreditamos irem eliminar gradualmente as nossas más qualidades quando tivermos filhos. Sou alto e narigudo,
portanto, procuro alguém mais baixo e com um nariz pequeno. E quando tivermos tido filhos e os tivermos criado, bom, foi o fim da viagem para nós. Por que razão haveria um impulso biológico involuntário de ter algo a ver com a nossa própria felicidade pessoal?
O pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856‑1939) concordava com boa parte disto e pensava que casar tinha um preço bastante elevado. Temos de suprimir os nossos desejos mais irracionais e destrutivos de modo a viver numa sociedade ordenada e racional. Isto pode manter‑nos seguros, mas também fazer‑nos infelizes.
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PARA PENSAR
Quando somos amados sentimo‑nos valorizados e especiais. Gostamos mais de nós próprios, tornamo‑nos mais confiantes. O amor pode começar com tempestades de emoção incontrolável, mas pode acabar por ser bom para nós, e até fazer de nós pessoas melhores. Talvez assim seja. Contudo, o amor interfere também na autonomia dos indivíduos. Quando estamos desesperadamente apaixonados, somos menos «livres». Assim, isso faz do amor uma coisa má?"
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(...)
1 comentário:
Toda esta tralha!
Ou se ama ou se pensa.
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