A
força e o simbolismo das imagens cinematográficas estão presentes em dois
filmes ímpares: Terra, de Aleksandr Dovzhenko, e O Vento, de Victor Sjöström.
No
filme do realizador ucraniano, depois de o herói (um trabalhador rural) ser
assassinado, traiçoeiramente (consideravam-no um revolucionário), o corpo é
transportado numa carroça aos solavancos, por entre searas, girassóis e macieiras.
Sob um céu nublado, os girassóis, consternados, seguem e reverenciam o cadáver,
como se ele próprio fosse o sol ou a verdade, e as vergônteas das macieiras,
pesarosas e pendendo carregadas de maçãs, roçam-lhe, desesperadamente, as
narinas e os lábios, como que para o vivificar (retornar à terra). É o paraíso a
despedir-se do homem a caminho do céu.
Depois
de a mulher receber a notícia da morte do marido, desnuda-se, por completo, no
quarto, e, com a brancura do corpo descoberta por um clarão, chora,
loucamente, como se pretendesse estar mais próxima dele, tanger-lhe a pele.
Atualmente,
no realizador turco, Nuri Bilge Ceylan, e nos seus filmes, Sonho de Inverno e
Era uma Vez na Anatólia, encontro um pouco da arte de Aleksandr Dovzhenko.
Também
no filme do realizador sueco, Victor Sjöström, a imagem é expressiva e
arrebatadora. Quando a bela Lillian Gish desce do comboio, depois de atravessar
o deserto, um vento indomável ergue-se de supetão. O medo apodera-se dela (da
sua vulnerabilidade), e, enquanto os olhos se erguem desconfiados para o céu, segura
o chapéu e os cabelos caídos sobre os ombros. Neste filme, o vento simboliza as
adversidades do casamento, que só poderão ser superadas pela união.
Se
tivesse que escolher os dois filmes que mais me impressionaram, escolheria,
decerto, os filmes que referi atrás. Também não me posso esquecer de outros realizadores
mais conhecidos: Federico Fellini (Os Inúteis), Jean Vigo (L’Atalante),
Jean Renoir (A Regra do Jogo), Eisenstein (Outubro) e François
Truffaut (Les Quatre Cents Coups).
Recentemente,
diante da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Coimbra e sob o frémito de uma árvore frondosa, cujo nome desconheço e gostaria
de conhecer, enquanto falava de cinema, com duas senhoras, não me recordei d’a Terra
nem d’O Vento. Pois, aqui os deixo.
Sem comentários:
Enviar um comentário