terça-feira, 14 de maio de 2019

O EXERCÍCIO FÍSICO E A SAÚDE PÚBLICA


Meu artigo de opinião, publicado hoje in "Diário as Beiras":

 “A linguagem é uma forma de mal-entendidos”.
Antoine de Saint-Exupéry

Através deste jornal, no passado dia15 de Abril do ano em curso, tomei conhecimento de “Consultas de Actividade Física” destinadas a “reforçar a integração da actividade física na prestação de cuidados de saúde, nomeadamente ao nível dos cuidados de saúde primários e melhorar a formação e captação dos profissionais de saúde para promover o exercício físico”.
Por me preocupar com a importância do exercício físico na prevenção das chamadas doenças hipocinéticas (assim havidas por terem como etiologia o pouco movimento), evoco uma conferência por mim proferida, em idos de 1972, na Sociedade de Estudos de Moçambique, instituição cultural-científica “Palmas de Ouro” da Academia de Ciências de Lisboa, intitulada: “Educação Física – Ciência ao Serviço da Saúde Pública”.
Nela, por entender que educar é aceitar o desafio do futuro perspectivado no presente e no passado, citei o académico Alexandre Berg: “A força muscular do homem e dos animais domésticos apenas produz 1% de toda a energia produzida e consumida na terra, quando, em meados do século XIX, produzia 94%”.
Com o aumento progressivo desta situação, com os jovens, e não só, da nossa geração sentados em postura incorrecta, horas a fio, em frente ao computador ou à televisão, este “status quo” constitui um retrocesso para a posição bípede humana, responsável por discopatias que obrigam o idoso e os jovens cifóticos a andarem curvados.
 Bipedia longamente conquistada em milhões de anos, libertadora das mãos para o fabrico, ontem, de objectos rudimentares, hoje, de tecnologia avançada, capacitada para permitir ao homem erguer as mãos ao céu em prece a Deus!
 Regredindo ao início deste texto, recordo um protocolo assinado entre o ISEF de Lisboa, actual Faculdade de Motricidade Humana, e o Centro de Saúde de Oeiras e a intervenção que um dos seus médicos, Ramos Osório, teve na Conferência Mundial de Motricidade Humana, promovida pelo ISEF da Universidade Técnica de Lisboa, na Fundação Gulbenkian, de 2 a 5 de Dezembro de1988. Afirmou este clínico: “Nós técnicos de Saúde, possuímos a capacidade inerente da profissão para prestar os cuidado de Saúde, mas sentimos a necessidade da ajuda de outros técnicos para a tarefa de os educar no quotidiano no sentido da promoção do seu estilo de vida e saúde”, sem especificar a natureza da respectiva habilitação profissional.
 “Et pour cause”, pela apetência que certos aventureiros ainda possuem para invadir um terreno para os quais não têm habilitação académica “quantum satis”, recordo o que a este respeito criticava um professor do antigo INEF, em inícios da década de 50: “Enquanto em tempo idos os médicos só tiveram a concorrência dos barbeiros o professor de Educação Física ainda vê o seu campo de acção invadido por curiosos com simples papéis com o imprimatur do Estado”.
Para a tanto obstar impõe-se, a exemplo do Centro de Saúde de Oeiras, assinar um protocolo entre a Faculdade de Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra e os Centros de Saúde da Região Centro, garantindo que a acção profiláctica do exercício físico seja orientada e promovida por licenciados universitários de Educação Física.
 Isto porque sendo a linguagem uma forma de mal-entendidos, segundo o autor de “O principezinho”, presta-se a confusões, intencionais ou não, sobre o que é entendido por “captação e formação dos profissionais da saúde para promoverem o exercício físico”. Aliás, essa indefinição, propositada ou não, deve ser prontamente corrigida, para evitar, que ela seja uma porta aberta para situações que possam fazer perigar a saúde dos utentes dos Centros de Saúde!

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