Meu texto que saiu no último número do "Artes", abreviatura da revista cultural "As Artes entre as Letras", que acaba de fazer 10 anos:
Dez anos não é um tempo pequeno. Como o tempo médio de vida
humana é inferior a cem anos, é uma parte substancial das nossas vidas. Nos
meus últimos dez anos, tal como os meus contemporâneos, pude beneficiar da
leitura de “As Artes entre as Letras” (ou só “Artes”), o jornal cultural com
sede no Porto que tem espelhado as artes e as letras de todo o país e do mundo.
Graças ao amável convite da Nassalete Miranda, estive no projecto desde o seu início
quer no Conselho Editorial quer como colaborador regular. Orgulho-me, por isso,
de ter ajudado ao crescimento da criança que viu a luz do dia em Maio de 2009 e
que agora passa na idade a ter dois
dígitos.
Há sempre uma história antes da história. E o jornal que
agora está de parabéns encontra os seus antecedentes no suplemento cultural
“Das Artes Das Letras” de longa e muito rica tradição (data de 1942) do
“Primeiro de Janeiro”, o periódico que a Nassalete diligentemente dirigiu entre
2000 e 2008. Pois eu também colaborei nesse suplemento de boa memória. Foi aí
aliás que fui treinando a escrita que depois se foi espraiando por outros
sítios. Estou naturalmente grato pela oportunidade que a sempre jovem directora
me proporcionou, dando espaço a um jovem desconhecido. Eu fui feliz por poder escrever
num jornal que me tinha acompanhado na infância, desfrutando dos desenhos do
Príncipe Valente. Foi um editor valente – Guilherme Valente – com quem eu já
colaborava, na Gradiva, que me pôs em contacto com a Nassalete. Para mim, entre
os dois jornais culturais, vão quase vinte anos de colaboração.
Por que é que tenho ajudado a juntar a ciência às artes, ou
melhor à cultura, primeiro no “Das Artes Das Letras” e depois no “As Artes
entre as Letras”? Pela simples razão simples de que a ciência faz parte da
cultura, que não é só feita de artes e letras. Depois da polémica das “duas
culturas” de C. P. Snow, ainda há quem julgue que a ciência é uma cultura e que
as artes e humanidades são outra, estando as duas separadas. Mas não, são ambas
partes da mesma cultura, sendo múltiplas as ligações entre elas que devem ser
enfatizadas. A ciência tal como a arte é um impulso humano, é uma tentativa de
descobrir, de conhecer. A ciência tal
como a arte exige imaginação, sonho, criatividade. A ciência tal como a arte
pretende fazer sentido, ligar coisas que estavam antes separadas, revelar a
unidade do mundo.
Nos aniversários costumam-se desejar muitos anos de vida. Se
tudo correr como esperamos, a o “Artes” vai continuar, tem de continuar. O jornal
ganhou um lugar indiscutível no nosso panorama cultural. Não são muitos os
jornais que reúnam o ensaio e o comentário nas mais várias formas da cultura com
a própria criação artística me literária, ao mesmo tempo que acompanham a
actualidade cultural. Fazem muita falta, pelo que é preciso defendê-los. Desejo,
por isso, que a Nassalete Miranda e a sua excelente equipa consigam, neste
tempo nada fácil em que a cultura ainda é vista pelos poderes instituídos como
uma coisa de somenos, prolongar a infância do “Artes” numa adolescência feliz.
No mínimo, mais outros dez anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário