quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O MEU VOTO


Antes de o colocar na urna, o Prof. Galopim de Carvalho (na fotografia) enviou ao De Rerum natura o seu voto, que divulgamos:

O meu voto, como cidadão independente dos aparelhos partidários e interventor cívico activo, é apenas um entre milhões que no próximo Domingo vão decidir o futuro próximo de Portugal. Vale tanto quanto o do mais intelectualmente debilitado ou alienado dos portugueses.

 Já o escrevi e entendo oportuno lembrar que estamos a viver tempos de indecoroso aviltamento, mercê de uma elite, entre políticos e grandes nomes do direito e das finanças que, numa promiscuidade interesseira, descarada e impune, nos está a conduzir, decidida e conscientemente, no caminho do empobrecimento económico e também, estupidamente, no do definhamento científico e cultural.

Esta caminhada de submissão a uma União Europeia cada vez mais afastada dos princípios que a fundaram, decorre perante a passividade acrítica de uma parte considerável dos nossos concidadãos mantidos incultos, destituídos de pensamento autónomo, alienados pelo futebol e pelos programas televisivos de entretenimento que nos impõem e nos entram pela casa dentro a toda a hora. Tudo isto sob a magistratura conivente de um Chefe de Estado que pouco mais de metade dos votantes (53,14%) colocaram no mais alto cargo da Nação, numa eleição em que quase metade dos eleitores se abstiveram e que, há muito, deixou de ser o Presidente de todos os portugueses. Marcados, ainda, por receios antigos, são muitos os portugueses que não ousam questionar um poder que os despreza e maltrata e muitos também os que, sem saberem porquê, lhe fazem respeitosa e submissa vénia.

 A única forma, dentro da democracia, de romper com esta triste escuridão em que, com excepção de uns tantos privilegiados, fomos levados a viver, é o VOTO, que nos espera no próximo Domingo.

Desde que o neoliberalismo cego do PSD (traidor do pensamento e da prática social democrata que lhe deu nascimento) tomou conta dos nossos destinos, amparado nesta actual muletazinha conhecida pela sigla CDS-PP, vai para quatro anos, os portugueses assistem, resignados e pacificamente, ao retrocesso social e cultural imposto, insisto em dizer, por uma União Europeia cada vez mais afastada dos princípios que a fundaram.

As conquistas na segurança social, nos cuidados de saúde, na ciência, no ensino e no apoio à cultura conseguidas na vivência em democracia que se seguiu à Revolução dos Cravos estão a fugir da nossa vida colectiva como areia por entre os dedos.

Perdemos uma parte significativa da independência nacional e assistimos à asfixia e destruição de muitas das nossas valências económicas. Estamos a viver tempos de miséria e, até, de fome para um número cada vez maior de famílias, de miserável abandono dos idosos, de corrupção descarada e impune e de aumento do número e da riqueza dos ricos. A chamada classe média está a afundar-se, o desemprego tornou-se uma realidade dramática dos que já não conseguem encontrar um posto de trabalho e é um incentivo crescente à igualmente dramática emigração de uma juventude que a democratização do ensino qualificou a níveis nunca antes conseguidos.

 Perante esta realidade o único voto desejável é o que afaste do poder os que, com base na mentira, nos tem conduzido neste lamentável caminho. E esse voto, no momento que estamos a viver e para pôr fim a esta infelicidade só pode ser o voto no PS. 

 O meu voto sempre foi à esquerda deste partido, onde militam cidadãos que muito respeito a par de outros que “não tanto assim” e que tem responsabilidades na situação que tanto nos aflige. Como cidadão independente, liberto de fidelidades aos aparelhos partidários, disciplina que sempre rejeitei, vou votar no António Costa, que conheço bem e que reputo de Homem generoso, de palavra e de muita competência para o cargo de Primeiro Ministro nos tempos que se avizinham e que, como todos sabemos, continuarão a ser difíceis mas que desejamos sejam respeitadores da dignidade dos portugueses.

António Galopim de Carvalho

6 comentários:

Ildefonso Dias disse...

É com grande tristeza que vejo o professor Galopim de Carvalho prestar-se a este triste papel. A generosidade de António Costa já a conhecemos bem, vimo-la ontem, em Setúbal, lado a lado com o amigo Coelho (já para não falar dos muitos que estão escondidos, com medo de aparecer). É o que sinto.
É triste ver alguém com a dimensão intelectual do professor Galopim de Carvalho prestar-se a este papel que é mais próprio de uma figura pública (mas intelectualmente inferior) como é o caso da Rosa Mota. A Rosa Mota não se lhe pode pedir o que não tem, e por isso não deveria ser assim com o professor Galopim de Carvalho, Mas é, Infelizmente!

Carlos Fiolhais disse...

Resposta recebida de Galopim de Carvalho:

Estimado Ildefonso Dias

Não fique triste porque eu sabia à partida o risco que ia correr ao sujeitar-me a críticas, muitas delas fundadas, por parte dos que como eu nunca esconderam as suas ideias. Sabia que iria ferir susceptibilidades,

mas, uma análise fria e desapaixonada do momento dramático que estamos a viver, que se me afigura a mais correcta, ditou esta minha tomada de posição que, convenhamos, não foi fácil. Se tiver errado esta minha análise, terei de me penitenciar. Seria mais cómodo ficar calado, mas essa nunca foi a minha maneira de estar no mundo.

Um abraço.

Galopim de Carvalho

Eduardo Martinho disse...

Uma pergunta: Que autoridade moral tem o “estimado Ildefonso Dias” para criticar o Professor Galopim de Carvalho? Para que conste: estou solidário com a posição assumida por ele.

Anónimo disse...

óhe Sô Dias, os papeis são como os chapéus. Há muitos ! Ele hãe o papel higiénico, de embrulho, etc.. Qual destes é o seu ?

Anónimo disse...

São de tal forma racionais, lúcidos e oportunos os primeiros parágrafos deste post que os vou reenviar (com o devido crédito) para alguns contactos amigos.

Contudo, por um lado não não me concedo autoridade moral para doutrinar a cabeça desses meus amigos, por isso, não reenviarei o texto a partir do 5º parágrafo.

Por outro lado, jamais reenviaria o texto a partir do penúltimo parágrafo: Não é por o cancro poder ser controlável que o vou preferir à lepra!

Dervich

Anónimo disse...

Crenças partidárias à parte, lamento apenas ver mais uma vez o cultivo da ideia (Errada) de que o voto nas legislativas é o voto para Primeiro Ministro" - "vou votar no António Costa, (...) para o cargo de Primeiro Ministro".
O voto nas legislativas é um voto para a composição da Assembleia da Republica. Ninguém por esse país a fora (exceptuando o distrito de Lisboa) estará a votar em Passos ou Costa ou Jerónimo (Catarina Martins concorre como cabeça de Lista pelo distrito do Porto) mas sim nos respectivos candidatos desses partidos pelo seu circulo eleitoral. Mais ainda afirmo, o primeiro ministro não é eleito, nem nunca foi, ele é "nomeado" e convidado a formar governo pelo Presidente da Republica de acordo com o resultado das eleições. Facto é que mesmo sendo o PaF a ganhar em número de votos poderá ser o PS o partido (individual) a conseguir mais mandatos e isso pode, inclusivé, significar que o próximo primeiro-ministro não seja o "Passos" apesar de uma - eventual - vitória do PaF.

É lamentável ver um blog gerido por tamanha massa intelectual como este a cultivar e proliferar uma ideia tão errada como esta.

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