segunda-feira, 31 de março de 2014

Agora? E antes?...

Nas últimas semanas li, com agrado, posts vários de alguns dos meus companheiros deste espaço sobre o tempo de antena dado pela RTP a formas várias de pseudo-ciência. É verdade que o tempo dado à ciência é ridículo face ao tempo dado a estas formas de crendice, é revoltante que isto seja feito com o nosso dinheiro e, mais, que seja feito por quem vive de uma ideia de serviço público de comunicação. Mas ficaram algumas coisas por dizer que gostaria agora de acrescentar.
 
Faltou dizer que aquilo que os contribuintes pagam pela RTP daria para colocar um serviço de cabo em cada uma das casas dos portugueses de forma gratuita e que nesse serviço de cabo passam os programas de divulgação científica que a RTP se recusa a passar.

Faltou dizer que a RTP dá há décadas espaços a confissões religiosas várias, incluindo missas dominicais, papais e outras que tais, que não deixam de ser crendices como todas as outras e que esta divulgação deste tipo particular de crendice viola o princípio da igualdade dos cidadãos perante o estado.

Faltou dizer que a RTP há décadas que dá horas de tempo de antena a curiosos de economia que parecem ser pagos em função do débito horário da asneira com capas de autoridade fornecidas pela própria RTP.

E faltou a pergunta fundamental: Afinal, quantos de nós precisam de ser prejudicados para que alguns tenham uma RTP?

7 comentários:

perhaps disse...

João Pires da Cruz

poderá ter razão, mas não iguale missas dominicais a sujeitos que lêem os búzios, dizem encarnar espíritos de santos, detectam doenças pela íris e o mais. Há aí uma diferença de grau e da natureza, não considerada. Não que a mim importe a divergência, cada um tem as opiniões que tem.

Além do mais, penso que as tais crendices devem mesmo ser referidas pela RTP ou outra cadeia televisiva; para as desmistificar. Como citado no post acima, apresente-se o contraditório. Uma televisão pública presta serviço público e, nesse sentido, tem o estrito dever de tornar mais esclarecidos os que usam o seu serviço.

Mas não faço ideia se o conceito de serviço público do senhor Alberto da Ponte é semelhante ao meu. Talvez os portugueses, que segundo aquele eurodeputado austríaco são "preguiçosos", devam sacudir a preguiça por todos os lados e começar a exigir um novo espírito a presidir à concepção dos programas. Porque, num momento em que tanto se avalia e mede em função dos fins, existem instituições que se subtraem ao critério. E não apenas a RTP.

PS: por não ser assídua na TV, reporto-me apenas ao lido aqui, acreditando:) ser a verdade dos factos

Et Bonjour

João Pires da Cruz disse...

Cara perhaps,

há milhões de pessoas neste mundo que aprenderam na escola que os seus antepassados foram queimados ou passados a lâmina de espada por causa das missas dominicais. Por isso, o estado do qual a RTP se apresenta como um braço, não deve dar luz a nenhuma crendice, independentemente dos séculos de tempo de antena que já tiveram.

Com a prova que já foi feita durante décadas e atendendo que o valor que se dá pela RTP é superior ao serviço cabo para todos, há um único serviço público de televisão a ser prestado. O encerramento.

PS: Vi os videos no youtube, outro canal que os portugueses vêm mais que a RTP :)

Carlos Ricardo Soares disse...

«foram queimados ou passados a lâmina de espada por causa das missas dominicais.»

Será? As missas dominicais fizeram isso? Tal é o seu poder? E ainda fazem?João Pires, as escolas, que eu saiba, não ensinam essas coisas. Que científica seria uma RTP que tivesse essa visão das missas dominicais?

perhaps disse...

Peço desculpa pela falta de assiduidade. Mas continuo a pensar que os erros da crença religiosa como instituição não podem servir para banir a transcendência em que se acredita ou não livremente. A religião aceita-se ou rejeita-se. Em liberdade esclarecida. É verdade que a igreja foi talvez a instituição mais bárbara, que a fé virada em poder e aliada ao fanatismo fez muito mártir a contragosto, inocente. É verdade que pode não existir um deus ordenador, pai, cuidador.

Mas a religião é uma dimensão de que o homem ainda ocupa, que tem expressão em Portugal. Não vejo razão para que o canal público não se ocupe também um pouco dessas actividades quando são expressivas.

Discordo de toda a opinião que prescinda de uma televisão pública: é melhor ter uma casa de banho antiga e com falhas reconhecidas que não ter nenhuma (as minhas desculpas à RTP pela comparação).

PS: o youtube é um aliciante de apetites; espécie de discos pedidos moderno e individualizado.

João Pires da Cruz disse...

Não seja mauzinho... Leia lá "por causa das missas dominicais" no sentido que foi dado :)

João Pires da Cruz disse...

perhaps, concordamos em discordar nessa da religião. Quando à RTP, a questão começa logo por haver 200 canais, alguns que fazem divulgação científica de facto que podem estar em casa de todos os portugueses por uma fracção do custo da RTP para o contribuinte. E isso leva à questão "o que estamos a defender?" Procure nas razões pela qual quer uma RTP algo de verdadeiramente diferenciador de todo o resto da oferta. Eu não acho nada de positivo...

Carlos Ricardo Soares disse...

Ou quis dizer que muitas pessoas foram e continuam a ser queimadas ou passadas a lâmina de espada por causa de irem à missa? Já ouviu falar em massacres de cristãos e na igreja que sofre? Acabar com a missa resolvia o problema, na sua opinião.

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...