quinta-feira, 21 de março de 2013

A felicidade de aprender

Chegou ao fim, há pouco mais de uma hora, o primeiro Dia Internacional da Felicidade, declarado pela Organização das Nações Unidas.

Podendo parecer que não, a felicidade é um assunto central na Pedagogia. O seu debate foi convocado logo nos primeiros textos que se reportam à educação formal e nunca mais desapareceu do horizonte dos filósofos que se interessaram e interessam por esta área. As orientações desse debate têm, naturalmente, sido diversas, como é compreensível em assunto tão subjectivo, mas a sua extensão e inflexões daria, no presente, um tratado do maior interesse.

Num registo leve, que não deixa de ser profundo, várias têm sido as obras a tocar no tema. Aqui deixo uma breve passagem duma que considero particularmente bem conseguida: A felicidade de aprender e como ela é destruída, da autoria de François de Closets
"Não entendo como a felicidade de aprender é partilhada por tão poucos  - essa felicidade que iluminou toda a minha vida, e fez dela uma existência sem rotina e sem tédio. Gostaria de perceber como é possível que o prazer da descoberta não desempenhe na vida da maior parte das pessoas o mesmo papel que nelas desempenha o prazer de amar ou de possuir (...)
Nenhuma sociedade havia dado, antes da nossa, instrução a todas as crianças e liberdade a todos os adultos. Esta dupla oportunidade, a crer no sonho social de muitos utopistas, deveria ter despertado o gosto pela iniciativa, o desejo pela investigação, uma curiosidade insaciável. Aconteceu, apenas, que esse sonho não se concretizou. O que vemos à nossa volta é uma passividade generalizada, um conformismo moldado pela pressão mediatico-publicitária. Todas as atitudes se tornam previsíveis, todas as reacções esperadas - os sinais de um condicionamento tristemente eficaz estão por toda a parte visíveis.
(...)
As sensações que experimentara no contacto com o mundo da ciência - a vertigem da ignorância, a angústia do erro, o esforço de aprender, o prazer da descoberta, o jogo da simplificação -, voltei a encontrá-las na abordagem de outros domínios, quando a ciência deixou de me interessar. À beira dos sessenta anos, continuo a sentir-me como sobre uma linha de partida, pronto para novas expedições. No dia em que a minha curiosidade esmorecer, nesse dia saberei que o meu tempo terá passado.
Essa felicidade que busco através da curiosidade não é, no entanto, uma extravagância nem, aliás, uma esquisitice da minha natureza. Há mais gente assim. Gente com pude partilhar uma espécie de cumplicidade gustativa e um pouco glutona. Há mais gente do que se pensa a cultivar o seu jardim secreto. Diferem todos uns dos outros, é certo; cada jardim tem as suas flores e os seus arbustos próprios, mas o que une todos os jardineiros é o amor com que se entregam à tarefa, unicamente interessados no prazer que ela lhes dá."
Referência completa: Closets, F. de (2002. Edição original: 1996). A felicidade de aprender e como ela é destruída. Lisboa: Terramar, 9 a 13.

2 comentários:

José Batista disse...

Saídos da opressão, logo nos
viciámos em sensações intensas e imediatas, de que (ainda) nos empanturramos. O ontem passou, o amanhã não interessa e é preciso viver o momento presente. Desfrutar. Exibir. Consumir. Descartar. A toda a velocidade. Quem semeia? Quem prepara? Quem auxilia? Quem acompanha? Quem ouve? Quem se sacrifica? Quem tem paciência? Quem escuta quem já muito viveu? Quem permanece ao lado de quem perdeu a beleza física ou as forças ou o poder ou o dinheiro?
Para muitos (de nós) a vida tornou-se uma droga cada vez mais ineficaz a satisfazer as (nossas) dependências/necessidades e vivem(mos) em "ressaca" permanente...
Há lá tempo para aprender... E disposição para aprender... E gosto em aprender...
Sendo que, em Portugal, para nos levar ao extremo do desespero já bastavam os que (diligentemente) nos desgovernam e nos roubam. Descaradamente e impunemente.
E a acção dos pais e dos professores, no meio disto, foi levada no vendaval ou... fez parte dele.
Quando acordarmos vamos apanhar os cacos, vamos?

Cláudia da Silva Tomazi disse...

ser fiel.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...