sexta-feira, 15 de junho de 2012

E NO FINAL GANHA A ALEMANHA


Minha crónica no "Sol" de hoje (na imagem o golo de Wembley, que afinal não o foi!):

O antigo jogador inglês Gary Lineker explicou uma vez: “O futebol é um jogo para 22 homens, 11 de cada lado. Os jogadores chutam a bola de um lado para o outro. A bola tem de entrar numa baliza, defendida por um guarda-redes. O jogo demora 90 minutos e no final ganha sempre a Alemanha.”

Mais uma vez se cumpriu esta “regra do jogo” no recente Portugal-Alemanha no Campeonato da Europa. De nada valeu o violento pontapé de Pepe à barra que ressaltou para o chão sem a bola ultrapassar a linha de baliza. A jogada, embora mais clara (ninguém reclamou desta vez o golo), fez-me lembrar o famoso “golo de Wembley”, na final de 1966 do Campeonato do Mundo entre a Inglaterra e a Alemanha. Aos 11 minutosdo prolongamento, o inglês Geoff Hurst chutou forte contra a barra e a bola ressaltou para a linha de golo. O árbitro ficou na dúvida. Olhou para o juiz de linha soviético e este validou o golo, que daria a vitória à Inglaterra em nítida violação da regra de Lineker. A jogada é uma das mais discutidas de sempre. Foi analisada por físicos e engenheiros, incluindo uma equipa da Universidade de Oxford que publicou um artigo sobre o assunto. Apesar desse artigo ser inglês, a conclusão foi favorável à Alemanha (o “fair play” é inglês!). A bola não entrou na baliza completamente, como exigem as regras do futebol: o diâmetro da bola tem de ultrapassar totalmente a linha de baliza e, no caso, faltaram 6 cm.

Este caso é discutido num livro da autoria de um físico alemão, Metin Tolan, Professor na Universidade de Dortmund, que tem o título “Por vezes ganha o melhor” (Piper, 2011), um frase que bem pode rivalizar com a de Lineker, e o subtítulo “A física do jogo de futebol”. Este livro não está ainda traduzido em português, mas, num país que, em profunda crise, procura a salvação no futebol, bem poderia estar. Aprende-se lá não só a ciência do futebol,incluindo toda a complicada mecânica que descreve a trajectória de uma bola com efeito, mas também a filosofia do jogo. A frase que achei mais interessante não foi a de Lineker, mas sim a de Max Merkel, um jogador e treinador austríaco: “No futebol é como no amor. O que acontece antes pode ser muito bonito, mas não passa de um namorico. A bola tem de entrar lá dentro.”

1 comentário:

Anónimo disse...

"Aprende-se lá não só a ciência do futebol, incluindo toda a complicada mecânica que descreve a trajectória de uma bola com efeito, mas também a filosofia do jogo."

Uma frase, duas asneiras que ilustram bem o calibre intelectual do autor.

A primeira: a ciência do futebol não é a Física. O futebol é muito mais que a mecânica da trajectória da bola, ou mesmo que a biomecânica muscular. É psicologia de grupo, é trabalho técnico e táctico, é conhecimento do próprio jogo, é ciência do desporto. Enfim, é muito mais, e muito interessante, que a trajectória da bola. Mas, enfim, a coisa ainda não é grave.

A segunda: num livro de Física não se aprende, a sério, Filosofia. Por vezes, lá encontram, usualmente de forma muito ingénua, alguns problemas com importância para a Filosofia. Mas mesmo que tal fosse possível, é verdade é que só uma muito pobre noção de Filosofia pode levar alguém a escrever "Filosofia do jogo". Uma coisa é pensar o jogo, como jogá-lo, outra é a Filosofia. Não há tal coisa como a Filosofia do jogo das caricas ou de apanhar o elevador, da mesma maneira que não há a física dos anjos ou dos números primos. E isto é mais grave, que este autor gosta de mandar vir filosofadas e é muito bem pago por estes artigos.

NO AUGE DA CRISE

Por A. Galopim de Carvalho Julgo ser evidente que Portugal atravessa uma deplorável crise, não do foro económico, financeiro ou social, mas...