Minha crónica no "Sol" de hoje (na imagem o golo de Wembley, que afinal não o foi!):
O antigo jogador inglês Gary Lineker explicou uma vez: “O futebol é um jogo para 22 homens, 11 de cada lado. Os jogadores chutam a bola de um lado para o outro. A bola tem de entrar numa baliza, defendida por um guarda-redes. O jogo demora 90 minutos e no final ganha sempre a Alemanha.”
Mais uma vez se cumpriu esta “regra do jogo” no recente Portugal-Alemanha no Campeonato da Europa. De nada valeu o violento pontapé de Pepe à barra que ressaltou para o chão sem a bola ultrapassar a linha de baliza. A jogada, embora mais clara (ninguém reclamou desta vez o golo), fez-me lembrar o famoso “golo de Wembley”, na final de 1966 do Campeonato do Mundo entre a Inglaterra e a Alemanha. Aos 11 minutosdo prolongamento, o inglês Geoff Hurst chutou forte contra a barra e a bola ressaltou para a linha de golo. O árbitro ficou na dúvida. Olhou para o juiz de linha soviético e este validou o golo, que daria a vitória à Inglaterra em nítida violação da regra de Lineker. A jogada é uma das mais discutidas de sempre. Foi analisada por físicos e engenheiros, incluindo uma equipa da Universidade de Oxford que publicou um artigo sobre o assunto. Apesar desse artigo ser inglês, a conclusão foi favorável à Alemanha (o “fair play” é inglês!). A bola não entrou na baliza completamente, como exigem as regras do futebol: o diâmetro da bola tem de ultrapassar totalmente a linha de baliza e, no caso, faltaram 6 cm.
Este caso é discutido num livro da autoria de um físico alemão, Metin Tolan, Professor na Universidade de Dortmund, que tem o título “Por vezes ganha o melhor” (Piper, 2011), um frase que bem pode rivalizar com a de Lineker, e o subtítulo “A física do jogo de futebol”. Este livro não está ainda traduzido em português, mas, num país que, em profunda crise, procura a salvação no futebol, bem poderia estar. Aprende-se lá não só a ciência do futebol,incluindo toda a complicada mecânica que descreve a trajectória de uma bola com efeito, mas também a filosofia do jogo. A frase que achei mais interessante não foi a de Lineker, mas sim a de Max Merkel, um jogador e treinador austríaco: “No futebol é como no amor. O que acontece antes pode ser muito bonito, mas não passa de um namorico. A bola tem de entrar lá dentro.”
1 comentário:
"Aprende-se lá não só a ciência do futebol, incluindo toda a complicada mecânica que descreve a trajectória de uma bola com efeito, mas também a filosofia do jogo."
Uma frase, duas asneiras que ilustram bem o calibre intelectual do autor.
A primeira: a ciência do futebol não é a Física. O futebol é muito mais que a mecânica da trajectória da bola, ou mesmo que a biomecânica muscular. É psicologia de grupo, é trabalho técnico e táctico, é conhecimento do próprio jogo, é ciência do desporto. Enfim, é muito mais, e muito interessante, que a trajectória da bola. Mas, enfim, a coisa ainda não é grave.
A segunda: num livro de Física não se aprende, a sério, Filosofia. Por vezes, lá encontram, usualmente de forma muito ingénua, alguns problemas com importância para a Filosofia. Mas mesmo que tal fosse possível, é verdade é que só uma muito pobre noção de Filosofia pode levar alguém a escrever "Filosofia do jogo". Uma coisa é pensar o jogo, como jogá-lo, outra é a Filosofia. Não há tal coisa como a Filosofia do jogo das caricas ou de apanhar o elevador, da mesma maneira que não há a física dos anjos ou dos números primos. E isto é mais grave, que este autor gosta de mandar vir filosofadas e é muito bem pago por estes artigos.
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