terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Porquê escrever?


Os escritores podem escrever por diversas razões. Podem, por exemplo, escrever porque um jornal lhes pede para explicar ao público as razões porque escrevem. O "El País Semanal" perguntou, no primeiro número deste ano, a vários escritores porque é que escreviam. E que ficou o público a saber?

Umberto Eco é sucinto:
"Porque gosto".
O mesmo com Carlos Fuentes, que responde com outra pergunta:
"Porque respiro?"
Achei interessante a resposta de John Banville, autor de várias novelas relacionadas com a ciência, que remete para outros escritores:
"Escrevo porque não sei escrever. Um jornalista perguntou uma vez a Gore Vidal porque escreveu Myra Breckinridge, e ele respondeu: "Porque não existe". Foi uma boa resposta. Pôr algo de novo no mundo é um privilégio que não é concedido a muita gente. E, mais a mais, a realidade não é real para mim até que tenha passado pela peneira das palavras. Por isso, suponho que escrevo com o fim de imaginar a realidade totalmente real. A arte cria a vida, disse Henry James, e assim é de facto".
Por seu lado, Javier Marías é o que se pode chamar um homem prático:
"Como já disse de outras vezes, escrevo para não ter um chefe nem ter que me levantar cedo.

Também porque não há muito mais coisas que saiba fazer e prefiro escrever - diverte-me muito mais - do que traduzir ou dar aulas, que ao que parece também sei fazer. Ou sabia, são actividades do passado.

Também escrevo para não dever quase nada a quase ninguém e não ter que cumprimentar quem não quero.

Porque penso melhor quando estou diante da máquina de escrever do que em qualquer outro lugar e circunstância.

Escrevo romances porque a ficção tem a faculdade de nos ensinar o que não conhecemos e o que não acontece, como diz um personagem do romance que acabo de escrever. E porque imaginar ajuda muito a compreender o que, de facto, nos acontece, isso a que se chama "real".

O que não faço é escrever por necessidade. Podia passar anos muito tranquilo, sem escrever uma única linha. Mas é preciso ocupar o tempo nalguma coisa e é preciso ganhar algum dinheiro. Também escrevo por isso."

6 comentários:

Rui Baptista disse...

Sobre a "tarefa" da escrita, trago à colação a opinião de William Gold, Prémio Nobel da Literatura(1983): "Sentar-se a escrever é um esforço ingrato; mas acho ainda mais ingrato o não se sentar a escrever".

Anónimo disse...

"a realidade não é real para mim até que tenha passado pela peneira das palavras. Por isso, suponho que escrevo com o fim de imaginar a realidade totalmente real. A arte cria a vida, disse Henry James, e assim é de facto"."

Um excelente exemplo do lixo que não deveria fazer parte de um blog que diz que se diz de ciência e com um título associado ao atomismo.

Anónimo disse...

Essa pergunta deveria ter sido inicialmente feita aos sumérios. JCN

Cisfranco disse...

Porquê escrever?
Para pensar melhor.

Américo Oliveira disse...

Pergunta do mesmo género foi feita a José Afonso: porquê cantar? Quando todos esperavam uma resposta na linha das que aqui são apresentadas, esclareceu: "comecei a cantar porque não me deixavam fazer outra coisa!"

Anónimo disse...

Cada qual sabe de si: não seria por ser escriturário que Pessoa se entretinha a escrevinhar?! JCN

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