Os escritores podem escrever por diversas razões. Podem, por exemplo, escrever porque um jornal lhes pede para explicar ao público as razões porque escrevem. O "El País Semanal" perguntou, no primeiro número deste ano, a vários escritores porque é que escreviam. E que ficou o público a saber?
Umberto Eco é sucinto:
"Porque gosto".O mesmo com Carlos Fuentes, que responde com outra pergunta:
"Porque respiro?"Achei interessante a resposta de John Banville, autor de várias novelas relacionadas com a ciência, que remete para outros escritores:
"Escrevo porque não sei escrever. Um jornalista perguntou uma vez a Gore Vidal porque escreveu Myra Breckinridge, e ele respondeu: "Porque não existe". Foi uma boa resposta. Pôr algo de novo no mundo é um privilégio que não é concedido a muita gente. E, mais a mais, a realidade não é real para mim até que tenha passado pela peneira das palavras. Por isso, suponho que escrevo com o fim de imaginar a realidade totalmente real. A arte cria a vida, disse Henry James, e assim é de facto".Por seu lado, Javier Marías é o que se pode chamar um homem prático:
"Como já disse de outras vezes, escrevo para não ter um chefe nem ter que me levantar cedo.
Também porque não há muito mais coisas que saiba fazer e prefiro escrever - diverte-me muito mais - do que traduzir ou dar aulas, que ao que parece também sei fazer. Ou sabia, são actividades do passado.
Também escrevo para não dever quase nada a quase ninguém e não ter que cumprimentar quem não quero.
Porque penso melhor quando estou diante da máquina de escrever do que em qualquer outro lugar e circunstância.
Escrevo romances porque a ficção tem a faculdade de nos ensinar o que não conhecemos e o que não acontece, como diz um personagem do romance que acabo de escrever. E porque imaginar ajuda muito a compreender o que, de facto, nos acontece, isso a que se chama "real".
O que não faço é escrever por necessidade. Podia passar anos muito tranquilo, sem escrever uma única linha. Mas é preciso ocupar o tempo nalguma coisa e é preciso ganhar algum dinheiro. Também escrevo por isso."
6 comentários:
Sobre a "tarefa" da escrita, trago à colação a opinião de William Gold, Prémio Nobel da Literatura(1983): "Sentar-se a escrever é um esforço ingrato; mas acho ainda mais ingrato o não se sentar a escrever".
"a realidade não é real para mim até que tenha passado pela peneira das palavras. Por isso, suponho que escrevo com o fim de imaginar a realidade totalmente real. A arte cria a vida, disse Henry James, e assim é de facto"."
Um excelente exemplo do lixo que não deveria fazer parte de um blog que diz que se diz de ciência e com um título associado ao atomismo.
Essa pergunta deveria ter sido inicialmente feita aos sumérios. JCN
Porquê escrever?
Para pensar melhor.
Pergunta do mesmo género foi feita a José Afonso: porquê cantar? Quando todos esperavam uma resposta na linha das que aqui são apresentadas, esclareceu: "comecei a cantar porque não me deixavam fazer outra coisa!"
Cada qual sabe de si: não seria por ser escriturário que Pessoa se entretinha a escrevinhar?! JCN
Enviar um comentário