A senhora Ministra da Educação tem afirmado em diversas ocasiões que os professores sabem avaliar o desempenho docente. E isto porque avaliam os seus alunos e, portanto, sabem como a avaliação se processa; porque estão na escola e, portanto, têm conhecimento do ethos em que a avaliação ocorre; porque desenvolvem estratégias e instrumentos para concretizar as directrizes da tutela e, portanto, são parte activa na construção do modelo de avaliação; etc.
Ora, não é preciso ser-se muito entendido em matéria de pedagogia para se perceber que avaliar os professores não é a mesma coisa que avaliar os alunos, que a avaliação colegial pode ser (e geralmente é) uma enorme dor de cabeça, que as estratégias e instrumentos de avaliação requerem um referencial que não pode derivar apenas e só do entendimento de cada escola…
Parece que o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores, depois de investigar, se pronunciou sobre o assunto. O seu presidente, Alexandre Ventura salientou ao Diário de Notícias que, entre vários problemas, muitos professores “alegam falta de experiência, pouco à vontade para apreciar o trabalho dos seus pares, que se reflecte no receio de que isso afecte o relacionamento interpessoal, ou falta de perfil” e que “alguns avaliados não reconhecerem competências pedagógicas aos avaliadores”.
Aqui ocorre-me uma pergunta: estes dados não seriam de prever? Mesmo sem investigação no contexto português, temos investigação suficiente que permite evitar o que aqui se refere.
Esta pergunta sugere-me outra: a lógica não deveria ter sido: investigação, formação e aplicação, uma coisa depois da outra, em vez de aplicação, investigação enquanto se aplica, e formação depois e durante a aplicação?
Só mais uma nota: recomenda este Conselho que os professores avaliadores façam formação em instituição de ensino superior, sendo que as acções de “algumas dezenas de horas não são suficientes para dotar os avaliadores das competências necessárias”.
Ora, não é preciso ser-se muito entendido em matéria de pedagogia para se perceber que avaliar os professores não é a mesma coisa que avaliar os alunos, que a avaliação colegial pode ser (e geralmente é) uma enorme dor de cabeça, que as estratégias e instrumentos de avaliação requerem um referencial que não pode derivar apenas e só do entendimento de cada escola…
Parece que o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores, depois de investigar, se pronunciou sobre o assunto. O seu presidente, Alexandre Ventura salientou ao Diário de Notícias que, entre vários problemas, muitos professores “alegam falta de experiência, pouco à vontade para apreciar o trabalho dos seus pares, que se reflecte no receio de que isso afecte o relacionamento interpessoal, ou falta de perfil” e que “alguns avaliados não reconhecerem competências pedagógicas aos avaliadores”.
Aqui ocorre-me uma pergunta: estes dados não seriam de prever? Mesmo sem investigação no contexto português, temos investigação suficiente que permite evitar o que aqui se refere.
Esta pergunta sugere-me outra: a lógica não deveria ter sido: investigação, formação e aplicação, uma coisa depois da outra, em vez de aplicação, investigação enquanto se aplica, e formação depois e durante a aplicação?
Só mais uma nota: recomenda este Conselho que os professores avaliadores façam formação em instituição de ensino superior, sendo que as acções de “algumas dezenas de horas não são suficientes para dotar os avaliadores das competências necessárias”.
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Quem se pode opor a tal proposta? É claro que os professores, a terem de avaliar, devem saber o que fazer e como fazer, mas conseguirão arranjar tempo para mais esta formação, que se quer de média ou longa duração?
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Se conseguirem, até poderão ficar aptos para avaliar o ensino e para serem avaliados, mas como encontrarão disponibilidade e calma para concretizar a sua principal tarefa, que é, lembremos: preparar o ensino, ensinar e avaliar os alunos?
15 comentários:
Não sou professor, exerci a função há já quase 20 anos. Não sou defensor da classficação pura e dura que parece querer-se impor. Mas não percebo como quem fez tanto alarido contra os rankings de escola, que faziam reflectir os professores conjuntamente sem deixar feridas, agora quer impor um sistema que só desumaniza as relações humanas dentro da classe.
Como eu concordo com esta sua expressão: "preparar o ensino, ensinar e avaliar os alunos"!
O problema é este! Hoje os professores fazem excepto aquilo que deveria ser o seu trabalho: ENSINAR! Aliás, para o Ministério e para os "especialistas" e "cientistas" da educação, o professor deve ser o cruzamento perfeito entre o burocrata, o funcionário público, o psicólogo, o sociólogo, o entertainer, o markteer, o pai, o amigo e sabe-se lá mais o quê!
Enquanto milhares de burocratas do Ministério, "cientistas" e "especialistas" da educação se divertem com as teorias mais tontas que se possam imaginar, os "alunos" vão saindo das "escolas" com conhecimentos cada menos aprofundados e o país vai tendo uma sociedade cada vez menos preparada para competir numa economia global! Desta forma vamos todos empobrecendo alegremente, achando que todos os disparates que vamos fazendo na escola não se reflectem no nosso bolso...!
Lembrem-se, meus caros, que quem vai pagar as nossas reformas são os alunos que hoje andam na "escola". Se não sairem preparados para competirem no mercado global bem podemos dizer adeus à nossa possível reforma depois de uma vida de trabalho! Nem que seja apenas por este facto, devíamos todos exigir as VERDADEIRAS reformas neste sector.
Será - juntando mais uns factos relevantes - a síntese do trabalho desta equipa do ME. De um trabalho que parece, todo ele, uma maquinação.
Um desastre de consequências que não são muito fáceis de prever.
Saudações,
Luís Vilela.
Acho extraordinárias as conclusões deste Conselho, dito Científico(mas se assim fosse realmente deveria ter como uma das suas preocupações fundamentais assegurar o rigor e a objectividade do processo de avaliação).
As conclusões a que este Conselho agora chegou suscitam várias questões:
O reconhecimento de tais dificuldades por parte dos avaliadores dos professores não colocará em causa o rigor e a imparcialidade que deveria estar subjacente a este processo de avaliação? Não mina a sua credibilidade?
As conclusões a que se chegou não conduzirão a injustiças e arbitrariedades dentro de uma mesma escola e também quando se compara a avaliação atribuída em escolas diferentes?
Não será necessário retirar consequências práticas do reconhecimento das dificuldades dos avaliadores? Ou seja: suspender a avaliação em curso?
Na minha opinião (e da maioria das pessoas, incluindo dos professores que aceitaram participar nesta fraude)o modelo de avaliação implementado actualmente é ineficaz e não permite distinguir os bons dos maus professores. Foi adoptado por motivos apenas políticos e não contribuiu em nada para uma melhoria da educação. Antes pelo contrário, fez com que os professores passassem horas a ler legislação inútil, alterada sucessivamente, horas de reuniões a discutir critérios absurdos, formações que não serviram para nada...enfim tempo perdido em vez de prepararem aulas e se dedicarem ao que interessa: ensinar os alunos.
Colocou-se em prática um modelo de avaliação sem assegurar que as condições da sua aplicabilidade estivessem garantidas, sem que previamente a competência científica e pedagógica dos avaliadores fosse demonstrada e reconhecida.
A sugestão do Conselho: tudo se resolve com umas horas de formação. Não se resolve. O problema é que as competências para avaliar não devem ser essencialmente pedagógicas como no actual modelo prevê, em que os professores de Matemática são avaliados pelos de Biologia, ou os de Filosofia pelos de História, por exemplo. Não se pode avaliar, de facto, o desempenho de um professor se o avaliador não dominar cientificamente as matérias em causa. As ideias que actualmente vigoram na educação em Portugal são uma mentira, cujas consequências absurdas se fazem sentir na avaliação dos professores mas também no ensino e na aprendizagem dos alunos e o grande "sucesso" (estatístico naturalmente e como convém) das políticas na área da educação não as consegue iludir.
As conclusões deste estudo pseudo-científico do CCAD servem essencialmente para justificar que o Ministério mude finalmente o discurso. O CCAD organiza os seus estudos em função da resposta desejada pelo "cliente" ME. Como vem sendo um cliché em Portugal, quando os políticos precisam de reconhecer um erro crasso, encomendam um "estudo científico" que lhes justifique a emenda.
Mas é evidente que a sugestão de uma formação pós-graduada em avaliação de professores não vai a lado nenhum, porque fica demasiado cara. Sustentar um corpo especial de quadros superiores avaliadores com capacidade para abarcar 150.000 profissionais não é barato.
ganda posta, gandas comentários. Aprender a aprender é isto.
Claro que já se sabia que a avaliação iria provocar o terramoto que causou; claro que todos dizem que querem ser avaliados e que o método não é o melhor-se é que existe "o" método - mas lá no fundo ninguém quer; claro que o estudo do processo só poderia chegar a estas conclusões... até, mais do que não fosse para dar mais umas gorjetas ao ensino superior...e olha quem, logo a Universidade de Aveiro a coordenar o grupo! É claro que tem de haver um quadro de avaliadores especializado que eu acho deve ser exterior à escola, o que não invalida que esse processo não contemple uma esfera de autoavaliação interna. Também concordo que avaliar professores jamais é o mesmo que avaliar alunos, mas o que a ministra quererá ter dito é que no fundo quem tanto está por dentro do que é avaliar, não faz sentido a reacção anti-avaliação que demonstra. E tanto como avaliar os professores devem igualmente ser avaliadas as organizações escolares no seu todo e daí extrair as devidas ilações. O sistema educativo não pode continuar no que tem sido ao longo destes anos todos de pura instabilidade, ao sabor dos mais diversos intersses politicos e corporativistas com gravísssimas consequências para a nossa sociedade em todos os seus planos de concorrência e convivência com os seus parceiros.
E essa de que os alunos de hoje serão os nossos futuros governantes, como quem à custa disso querer justificar o actual estado da situação do nosso ensino e nada alterar também não deve colar. Eu até trabalho em duas escolas - Agrupamento e Escola Secundária - e nunca vi tanta actividade docente e não docente, disciplinar, interdisciplinar e transdiciplinar a implicar mais presença e proximidade dos professores na escola, entre si, os alunos e o meio como recentemente. Isso sai-lhes do corpo? Ah pois sai, mas antes não era assim que sucedia. Só penso é que agora é preciso disciplinar melhor este modo de actuar para não chegarmos ao desgaste e obtermos a máxima eficácia. Estamso num período de transição em que é preciso calma e alguma orientação cuja responsabilidade compete aos orgãos de gestão. O resto é mero ruído próprio das "revoluções" como em tempos (35 anos) aconteceu,sendo já tempo de termos aprendido com isso...
J.A.Costa psicólogo
1. O anónimo que assinou J.A. Costa disse que "no fundo ninguém quer ser avaliado". Eu sou o professor e quero ser avaliado. Quero ser avaliado a sério: quero ser observado nas aulas, quero que os testes e outros instrumentos pedagógicos que elaboro sejam avaliados, quero que os resultados dos meus alunos se reflictam na minha avaliação, quero que essa avaliação se expresse numa classificação quantitativa e quero que tenha consequências na minha progressão na carreira e no meu salário. Mas não quero ser avaliado como o governo pretende. Será que estou a mentir quando digo que quero ser avaliado? É que J. A. Costa disse "ninguém".
Porque é que discordo do modelo de avaliação que o governo tenta impôr e porque é que não considero que essa discordância não é mero "ruído" nem resistência à mudança? Porque esse modelo não garante nenhuma espécie de objectividade, permitindo que o avaliado dependa das impressões subjeectivas do avaliador. Porque a maioria dos avaliadores não tem competência para avaliar professores. Porque esse modelo não valoriza aquilo que é essencial (a competência científica), mas sim o que é instrumental (as ditas competências pedagógicas, que sem competência científica não valem nada) e o que é acessório (as actividades interdisciplinares e transdisciplinares que JA Costa refere, e que normalmente são puro folclore).
Acresce que este modelo de avaliação foi tão modificado e simplificado que actualmente é uma manta de retalhos sem coerência nem qualquer hipótese de eficácia. Um exemplo: na sua primeira versão o modelo incluia como um pârametro fundamental a consideração das classificações dadas pelo professor; face ao acumular de críticas óbvias (isso levaria a uma inflação das notas)o governo suprimiu esse critério; só que faz sentido considerar os resultados dos alunos - como avaliar a capacidade de ensinar sem considerar aquilo que os alunos aprenderam? Mas para fazer isso sem cair na inflação de notas seria necessário relacionar as classificações dadas pelo professor com os resultados obtidos pelo aluno na avaliação externa(isto é, em exames nacionais). Ora, este governo distinguiu-se por um enorme ódio aos exames (típico do chamado "eduquês") e por isso essa hipótese nem sequer foi considerada.
E, nesse aspecto, é preciso dizer que o governo teve o apoio silencioso dos sindicatos e provavelmente da maioria dos professores. Que também detestam exames nacionais.
Naquilo que JA Costa escreveu transparece uma ideia bastante divulgada e cuja utilização e manipulação pelo governo ajuda a explicar porque é que inicialmente foi fácil ao governo humilhar os professores e porque é que tinha a opinião pública do seu lado (agora já não é tão claro que exista esse apoio da opinião pública).
Trata-se da ideia de que antes os professores não faziam nada: davam umas aulas (no caso de alguns poucas) mal preparadas e iam para casa gozar uma bela vida, muitas vezes com 2 empregos.
Trata-se obviamente de uma generalização abusiva. Havia muitos professores que aproveitavam carga horária (lectiva e não lectiva - muito menos reuniões, muito menos papelada, etc,) menor que a actual para ler, para estudar e assim se actualizarem e serem melhores professores.
Mas é preciso reconhecer que muitos professores não faziam isso e entendiam as suas funções docentes como algo menor e secundário, no qual investiam muito pouco. Fizeram isso impunemente durante anos e beneficiaram do apoio passivo e activo dos sindicatos. Por exemplo: quando há anos atrás não sei que governo introduziu mudanças no ensino nocturno, por ex concentrando-o nalgumas escolas e extinguindo-o em escolas em que quase não havia alunos, muitos professores protestaram e tiveram o apoio dos sindicatos. Ora, o que se passava no ensino nocturno era vergonhoso: havia professores que passava o ano inteiro apenas com 4 ou 5 alunos.
Esse é só um exemplo. Há outros, nomeadamente o absentismo (que era enorme e que diminuiu). Percebo por isso que a opinião Pública não tivesse boa imagem dos professores e que o governo os quisesse pôr na ordem - por assim dizer.
O problema é que as medidas tomadas pelo actual governo (mais 2 horas lectivas no secundário, mais horas não lectivas, a avaliação do desempenho tal como tem sido tentada) não são eficazes. O que conseguiram foi roubar muito do tempo que os professores empenhados dedicavam a estudar e a preparar aulas, impondo-lhes mais horas na escola em reuniões quase sempre inúteis e enterrando-os em papelada e trabalho burocrático (o novo estatuto do aluno é exímio nisso, embora esse não seja o seu principal defeito). Quanto aos professores pouco empenhados essas medidas não os obrigam a investir mais na sua formação e na preparação das aulas, obrigam-nos apenas a preencher papéis e a participar em reuniões - ou seja, roubaram-lhes algum tempo livre e não promoveram em nada a sua competência.
Mas as pessoas que andavam ansiosas para ver os professores apanhar uma lição não querem saber disso e estão satisfeitas com o facto de as coisas agora lhes "sairem do corpo" (na infeliz expressão de JA Costa). Mas e os muitos professores a quem as coisas sempre sairam do corpo? Alguns dos que têm idade para isso estão a reformar-se, mesmo perdendo dinheiro.
Não percebo é por que razão, se os professores sabem avaliar, o Ministério paulatinamente tornou (quase) impossível a um professor «reter» muitos daqueles alunos que ele, professor, no exercício da sua capacidade avaliativa, conclui merecerem serem «retidos» por falta de cumprimentos dos objectivos mínimos necessários à progressão...
Excelente reflexão caros Fernando Gouveia e Carlos Pires. Concordo em absoluto.
E eu que pensava que o professor Pires iria dizer que já estava a ser avaliado tal qual diz quer sê-lo!... será que já não foi a tempo de ter entregue os objectivos?! Estou a brincar e não quero pôr em questão o seu profissionalismo até porque não o conheço. Mas acabou de colocar em cima da mesa o que se passa globalmente na classe e na escola - que eu conheço tão bem quanto o senhor, desde há 25 anos, até como observador neutro e atento pelas funções que exerço. É claro que eu sou o primeiro a reconhecer, a distinguir e a valorizar (até na minha classe)quem é bom, menos bom e medíocre. E mais: a dar uma oportunidade de melhoria e até de reconversão. Agora não me peçam para continuar a pactuar com um sistema de laxismo e "quase" irresponsabilidade que durante muitos anos veio a contribuir para a estagnação e a degradação da tão proclamada escola pública - o privado é que vinha fazendo esse serviço! Eu assumo-me funcionário público a tempo inteiro, até porque quando tive carreira (1977)abdiquei de toda a actividade privada e faço, no mínimo, presencialmente, 35 horas semanais na escola, fora as horas de reuniões em que participo para lá das 17.30 e não posso pactuar com toda uma situação vigente (ao tempo, não agora) em que quem tinha os problemas para resolver, argumentava, quase sempre com o "dia livre" - este é apenas um mero exemplo, para não recordar aqui o tempo do artigo 4º, das férias da pascoa que se prolongavam mais uma semana para aproveitar dos baixos preços, etc, etc... mas não é isto que interessa até porque, hoje, felizmente, tudo isso acabou e a realidade das nossas escolas é bem diferente, fruto, sem dúvida, dum maior empenho e envolvimento dos professores e de outros parceiros - há que o reconhecer e dizer: porque isto não é coisa que passa cá para fora, aliás foram, durante muito tempo, os próprios profissionais que contribuiram para uma imagem negativa na opinião pública quando não estimulavam a participação de outros parceiros na vida colectiva da escola para eles verem como já se trabalhava. E meteram-se todos dentro do mesmo saco, os bons e os menos bons, com a agravante de todos chegarem, impávidos e descansadinhos ao topo de carreira, apesar de terem de fazer lá umas "acçõeszecas" sobre qualquer coisa, só para garantirem a progressão. Isto é justiça face, por exemplo, à grande maioria das restantes carreiras da função pública, que como certamente sabe, é preciso abrir vaga, concurso, prestar provas e, mesmo assim estava vedado o acesso ao topo?
Só por mecanismos de avaliação o mais objectivos possível - e nunca se extrai por completo a subjectividade - é que é possível distinguir e promover os melhores. E estes têm de ser recompensados e os outros, numa primeira oportunidade, ajudados a recuperar. Caso não haja melhoria deverão passar a outras funções.É óbvio.
JACosta psicologo
...Não estou tão certo assim de que a capacidade científica seja tão pertinente para o tipo de avaliação que está em causa, apesar de a considerar fundamental para o bom exercício profissional. Eu explico: o que está em questão é exactamente o que o professor chama capacidade instrumental e eu capacidade técnica (o saber fazer). É claro que a competência científica (os saberes) é-lhe inerente, mas mais do que isso é depois verificar como é que o professor a coloca em prática no justo equilíbrio entre o perfilado pelo curriculo nacional, da escola e o perfil da turma. E para além disso, no conteúdo funcional do professor existem outras dimensões que importa igualmente ter em conta - que não refiro aqui - as quais transparecem na sua atitude e intervenção no quotidiano escolar que importa avaliar e considerar no seu desempenho.
Eu não sei -hoje - o que se quer dizer com dedicar-me ao ensino dos alunos e à sua avaliação e o resto é "folclore", nas suas palavras. Para mim, dessas expressões que se vão ouvindo à guiza de se desvalorizar todo o trabalho que hoje o professor deve ter (não é só “dar aulas”) - até porque os tempos são outros e a escola compete com outras realidades - remetem, elas sim (aquelas expressões) para um tempo que jamais faz sentido hoje: trabalho individual do professor, pesquisando, preparando aulas para alunos irreais (o aluno médio), chegar à escola, "dar a sua aulinha", aplicar os seus testes, fazer os exames, passar quem tem de passar, reprovar quem tem de reprovar e voltar para casa no fim do seu horário lectivo e duma ou outra reunião... eh pá! isto neste século!... afinal para quê tanta formação?... a tele-escola, o propedêutico, a net até é capaz de fazer melhor (nalguns casos). Afinal nós até somos da época desse tipo de escola, da tal "boa" escola, e só fomos capazes de chegar até aqui?! Dá a impressão que falta algo mais…Já não vou mais longe, mas atente-se no trabalho e na filosofia da Escola da Ponte em Vila das Aves (ou de outras semelhantes, há tantas, felizmente).
É evidente que hoje também acho que se está a cair no extremo oposto a que muitos chamam maldita burocracia. Mas considero que faz parte dum processo de aprendizagem: aprender a estar em grupo, a trabalhar em equipa, a lidar (parcimoniosamente) com a “papelada” (mas afinal os papeis não são também instrumentos de trabalho dos profissionais da escola/educação?!), a dirigir e a estar em reuniões (nunca se apercebeu de colegas estarem completamente "em branco", nessas reuniões e acharem-se no direito de estarem sempre a interferir e a perturbar os trabalhos-de quem é a culpa?).
JACosta psicologo
...Quanto aos avaliadores. Eu, realmente, vendo alguns que conheço enquanto professores e avaliadores de alunos (que me perguntam, por exemplo como é que se faz uma adaptação curricular)estarem a avaliar professores, alguns dos quais mais competentes e trabalhadores do que eles, também fico muito preocupado. Mas, também aqui, pergunto-lhe: recorda-se de como às vezes é que estes avaliadores alcançaram os pontos que lhes permitiram chegar onde chegaram? Não só nos últimos 7 anos, mas já antes: não era por rotatividade ou, pior, "tu até nem tens muito que fazer, podias ficar delegado de disciplina" ou chateias e vais apanhar com uma direcção de turma, ou, ou... estes eram alguns dos processos como sabe. E isto, mais cedo ou mais tarde, paga-se. Mas está mal e deve ser corrigido. Eu sou defensor de avaliadores externos, à semelhança da inspecção, mas com função avaliativa e não inspectiva.
Para os professores pouco empenhados, como diz, estas medidas não produzirão efeito, eu digo-lhe que "água mole em pedra dura...", mais do que não seja, o envolvimento com os mais empenhados e a punição explicita ou implicita à atitude deles acabará por fazer efeito. Além de que o seu desempenho no meio do global ir-se-á notar mais sendo alvo fácil a chamadas de atenção pelas diferentes estruturas e orgãos (estou a lembrar-me dum conselho pedagogico ou do próprio director).
Portanto, vamos duma vez por todas distinguir os bons dos maus, com critério e rigor, melhorar os processos para sermos justos com quem o merece. Agora continuarmos como antes... isto é só o começo. Mas também não vale a pena repetir medidas que noutros países já deram... Isto só se consegue sabendo aproveitar a autonomia da escola, que cada escola é capaz de construir por si, e com realismo darem-se os passos que cada comunidade educativa achar serem os melhores para si. Porque nós também somos o ministério da educação!
JACosta psicologo
Se até aqui tinha que esconder o meu trabalho como professora para não ser discriminda pelos meus pares, agora, e pelo menos na escola onde estou neste momento, já não só não preciso de esconder trabalho, como este passou a ser valorizado.
No entanto, o seu último parágrafo é incisivo: e a DISPONIBILIDADE é o único método pedagógico eficaz.
Por isso, mais uma vez, as certezas são-me uma quimera.
Continuo a achar que devia haver uma Ordem de Porfessores. Mas vejo os meus pares (e a sociedade em geral) cada vez mais distantes de uma mentalidade que permita rever as questões fundamentais de uma forma honesta, criativa e eficaz para a construção de uma sociedade que não me faça recear pelo futuro dos meus netos.
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