Baseando-se num relatório do Ministério da Educação, o secretário de Estado Valter Lemos afirmou que um quarto dos alunos do ensino básico foi, em 2007-2008, objecto de um "plano de recuperação ou de acompanhamento", realizado ao nível da escola (um quarto significa quase cento e noventa mil!) e que essa estratégia teria dado “bons frutos no combate ao abandono e ao insucesso escolar”, pois a maioria transitou de ano.
No entanto, como muitos alunos ainda ficaram retidos, decerto para espanto dos governantes, o secretário de Estado considera ser preciso "continuar a insistir e a aperfeiçoar estes mecanismos". A meta é, como vem sendo anunciado, a "retenção zero" (meta que obviamente toda a gente deseja, ainda que "transição" não tenha um único significado), e até lá não descansará com a aplicação de "mais do mesmo".
E se o Ministério (não certamente o actual secretário de Estado, pois seria pedir muito) pensasse na advertência de Albert Einstein, que Rui Baptista aqui recordou – "fazer as mesmas coisas repetidamente esperando resultados diferentes” – e tentasse uma outra abordagem?
Por exemplo, devolver à escola a sua função primordial que é, aqui como em qualquer outro lado do mundo, transmitir conhecimentos fundamentais, de modo estruturado, recorrendo a metodologias adequadas para que os alunos os possam aprender, dando margem à diversificação curricular. E, com esse ensino permitir-lhes o desenvolvimento de capacidades cognitivas, morais, relacionais, pessoais, estéticas, motoras, essenciais ao ser humano? É só uma ideia…
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2 comentários:
Cara Helena Damião,
Aquilo que parece evidente para qualquer pessoa preocupada com o nosso futuro é demasiado esotérico para quem está sentado na 5 de Outubro e ainda mais para os lobbies que dependem do sistema criado nas "escolas".
Imagine a quantidade de instituições que teriam forçosamente que fechar as suas portas no dia em que as escolas se limitem a fazer aquilo para que supostamente foram criadas - a transmissão do conhecimento tão arduamente conquistado pelas gerações passadas...
A escola no ensino básico não é a mesma que a escola do ensino secundário e muito menos que a do ensino universitário. Há aqui uma gradação numérica descendente e uma gradação ascendente de alunos com uma normal estrutura familiar e social.
Por outro lado, talvez não se deva utilizar o termo "escola" como metonímia de "alunos", porque o primeiro vocábulo remete para uma semântica "não animado" e o segundo, remete para uma semântica "animado".
Quando se apanham crianças (seres animados) completamente destruturadas emocionalmente (para não dizer destruídas) por motivos familiares, ou de saúde, ou de vivências de guerra... que lhes são completamente alheios, e percebemos claramente que ficarem "retidas", como agora se diz, só vai agravar a sua situação por diversas razões que não são difíceis de deduzir...
... então percebemos que só nos resta dizer bem alto que é melhor para a criança prosseguir para o ano seguinte com um plano de recuperação (mesmo sabendo que a execução do mesmo é quase anedótica por falta de meios financeiros).
Mas a verdade é que isto põe completamente em causa a qualidade das aprendizagens fundamentais que tanto ambiciono para o bem da sociedade.
O que fazer?
Também me parece que não é nada tudo igual em toda a parte do mundo... na Suécia, por exemplo, penso que não será necessário tomar medidas para garantir que todas as crianças tenham almoço assegurado. Assim como não deve haver crianças cujo insucesso ecolar se deve, por exemplo, a falta de óculos, que são muito caros.
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