PRÓ
Computador Magalhães: Um passe de mágica
Luísa Lobão Moniz, Mestre em Educação Intercultural e doutoranda em Ciências de Educação
JL Educação, 6-19 Maio 2009
"O governo tomou uma medida corajosa e meritória: dar a todas as crianças do 1º ciclo um computador de seu nome Magalhães.
Sermos um país atrasado foi rótulo que se nos colou desde décadas. Não mais esse atraso, muito menos o tecnológico.
Com o atraso, ou melhor, com a inadequação de certos costumes no seio da família, convivemos um pouco melhor... Ainda não secaram as lágrimas da pancada que levou, mas o Magalhães já está ligado...
Longe desta reflexão dizer que quem tão generosamente delineou este plano se sinta confortável com a realidade da violência que todos os dias recai sobre muitas, muitíssimas, das nossas crianças.
(...) Mesmo com naus perdidas o estreito ficou vencido e de Magalhães recebeu o seu nome.
Cinco séculos passados o Magalhães é nome de mini-computador que irá vencer ventos e marés. Oxalá não caia em nenhuma emboscada como se diz caiu Fernão de Magalhães nas ilhas Filipinas em 1521, oxalá o Oceano Pacífico seja a escolinha que se deseja."
CONTRA
O Magalhães
Maria da Graça Martins, professora de Matemática do ensino secundário (ESEN Viseu)
Gazeta de Matemática, nº 157, Abril 209
"Tenho de começar por dizer o que penso da "distribuição" de Magalhães aos meninos do 1º ciclo: um embuste e uma grande bandeira de propaganda.
O facto de cada aluno ter em casa um Magalhães não me parece ser uma medida prioritária, que contribua para melhorar o ensino e a aprendizagem neste ciclo.
Estamos a falar de meninos com idades entre os 5 e os 10 anos, que depois das aulas não precisam de consultar a Internet para a pesquisa ou elaboração de trabalhos. E, se no 4º ano isso acontecer, esse trabalho terá de (deverá?) ser feito na escola, na presença e com a ajuda do professor.
Os meninos com essa idade, depois das aulas, devem brincar e fazer jogos colectivos, e não ficar no quarto a "jogar" com o computador. Isso não significa que na escola do 1º ciclo não deva haver computadores com software interessante para, orientados e ajudados por professores bem preparados, quer na área das TIC quer especialmente na área da Matemática, os alunos trabalharem."
3 comentários:
Os "cientistas" e "especialistas" da educação um dia descobriram o computador e ficaram de boca aberta...! Acharam que se os alunos tivessem um brinquedo tão pós-moderno, a classe oprimida nas escolas (os alunos) podiam aceder ao conhecimento de forma natural (tal como achou Rousseau) sem a intromissão da classe opressora (os professores). Com esta ideia em mente apareceu o grande e fantástico socialista - José Pinto de Sousa - seguido de alguns radicais que pousaram no Ministério das Ideias Românticas (vulgo, Ministério da Educação) e nasceu o Magalhães!
Pois é, Fartinho da Silva apresentaste de forma irónica a verdade :) Só te equeceste de um pequeno pormenor, sobre o qual tomo a liberdade de expor: andam uns rumores por aqui na "internet" (vide www.blackouteurope.eu) de que se preparam para a empacotar, isto é, atribuir o poder, à indústria de telecomunicações, de decidir que "sites" é que o pessoal pode aceder. Neste sentido, a classe opressora passa de professores para os senhores bem intencionados que detêm o controlo dessas empresas.
Assim as criancinhas habituam-se ao esquema e, com o descrédito a que os professores estão sujeitos, qualquer dia aprendem somente matemática da economia: que 2+2="número que mais vantagens trás à empesa". Se algum professor lhes diz que 2+2=4 ainda o chamam de burro.
Prof. Carlos Fiolhais
Li com atenção os prós e os contras e discordo de alguns contras. Pelo que conheci, antes do Magalhães, já havia professores a solicitar aos alunos dos 3º e 4º anos que tinham computador em casa que apresentassem os seus trabalhos com base em pesquisas feitas na Internet. Isto apesar dos computadores da sala de aula serem pouco ou nada utilizados. Era, na minha opinião, bastante discriminatório para os alunos sem computador.
As crianças, na sua maioria, se puderem não trocam o brincar com outras ao ar livre, por ficarem sozinhas no quarto. Mas quando se diz que estão a "jogar", muitas vezes também estão a brincar a coisas tão tradicionais como jogar à bola ou às casinhas, com bonecas e tudo. Quanto ao estarem sozinhas, é muito relativo uma vez que se divertem a brincar e a partilhar as habilidades com crianças do mundo inteiro. :)
guida martins
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