domingo, 20 de abril de 2008

Estado Novo, ortografia nova


Recorde-se o Acordo Ortográfico de 1931, quando Portugal estava em plena ditadura salazarista (1926-1974): Não é uma coincidência que desde que Portugal é uma democracia, e desde que a língua escrita não é uma coutada de ricos amigos do regime, as reformas ortográficas têm caído em saco roto. Sem um estado centralista por detrás, e sem uma população maioritariamente iletrada, a ideia de legislar sobre a língua é felizmente uma miragem.

Imagem graciosamente enviada por Medina Ribeiro.

11 comentários:

António Viriato disse...

Caros Confrades do Rerum Natura,

Saliento que a discussão do momento é a do Acordo Ortográfico ou a da sua falta e não a do Estado Novo, Salazar, o Autoritarismo, o Centralismo ou a do dito Fascismo, embora também se possa e até deva debater qualquer um destes temas, aqui ou noutro qualquer fórum, mas sem reacções pavlovianas, antes com serenidade e com a máxima objectividade possível.

Deixei no anterior texto sobre o Acordo dois comentários, que gostaria de ver mais comentados pela selecta tertúlia que, por vezes, aqui se reúne.

Se mo permitem e sem querer abusar da hospitalidade, vou reproduzi-los a seguir :

I - Caros Confrades,

Como se comprova, pelos diversos artigos colocados e bastante comentados, em muitos recantos da vasta blogosfera, o tema da Ortografia da Língua Portuguesa interessa e excita muitos nossos compatriotas. Uns a favor do Acordo, claramente mais afectos ao partido do governo socrático, outros, parece que em maior número, contra o dito Acordo.

Muitos dos argumentos usados, de um e do outro lado, são frouxos, alguns mesmo erróneos e denotam pouco estudo destas matérias, para demasiada vontade argumentativa.

Referir as divergências gráficas do inglês britânico com o inglês americano, pouco ou nada significa para a discussão presente. Elas são mínimas, na grafia, sem nenhuma repercussão na pronúncia : colour/color, center/centre, neighbour/neighbor, etc. Já as vocabulares e as sintácticas são mais significativas, mas o respeito que os americanos sempre manifestaram para com a cultura britânica fez com que dela sempre se tivessem aproximado, lendo os seus autores, clássicos e coevos, conhecendo os seus artistas, ouvindo a sua música, etc.

Em suma, entre os EUA e o Reino Unido sempre existiu um certo equilíbrio no chamado intercâmbio cultural, coisa que nunca se verificou entre o Brasil e Portugal, por muitos motivos, com culpas divididas, mas em que tem pesado imenso um certo complexo de ex-colonizado, por parte do Brasil, em que uma certa elite intelectual, de orientação mais esquerdizante, sempre gostou de explicar os seus inêxitos sócio-económicos, na base da desqualificada colonização portuguesa, versus a de tipo anglo-saxónica, apesar de os vários exemplos de fracassos colonizadores, por esse mundo fora, desta última versão, a par de outros relativamente mais bem sucedidos, pelo menos no respeitante a um certo desenvolvimento económico, embora já não se possa dizer o mesmo, no plano civilizacional.

E esta é, a meu ver, evidentemente, uma das razões das acentuadas divergências linguísticas entre Brasil e Portugal : o fraco respeito que o ex-colonizado reserva ao seu ex-colonizador, ainda por muitos dos seus habitantes visto como responsável das suas actuais faltas de sucesso sócio-económico.

Sei que o assunto é polémico, mas julgo que tem seu fundamento. Muito gostaria de sobre ele ouvir os nossos prezados contertulianos, ainda melhor, se fossem brasileiros.

Fico aguardando opiniões.

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II - Acrescento apenas mais algumas trivialidades, para testar o grau de coesão da Comunidade Luso-Brasileira :

1 – Qual o Acordo Ortográfico que está em vigor no Brasil e porquê ?
2 – Qual a percentagem de música portuguesa que passa nas Rádios e nas TV do Brasil e o que se passa na situação inversa, de qualquer tipo que seja ?
3 – Idem para o Teatro e Cinema portugueses, sem discussão da sua qualidade ?
4 – Por que razão insistem os brasileiros em querer «traduzir» os livros portugueses lançados no mercado brasileiro ?
5 – Por que razão os actores portugueses no Brasil têm de abrasileirar a sua pronúncia para poder trabalhar nas suas telenovelas ?
6 – Por que motivo o Herman José falava com pronúncia brasileira no programa do Jô Soares ?
7 – Por que razão este último, num seu programa muito popular em Portugal, o «show» do Gordo, salvo erro, caricaturava um português, trajado à minhota, de tamancos e com beata atrás da orelha, que apenas se ocupava de levantar e descer o pano, gritando «para cima» e «para baixo», a plenos pulmões, invariavelmente trocando as acções, fazendo subir, quando deveria fazer descer o pano e vice-versa, no meio da gargalhada geral, perante a boçalidade da personagem ?
8 – Qual a atenção noticiosa consagrada a assuntos de Portugal, nos órgãos de Comunicação Social do Brasil, com excepção da concedida aos êxitos da nossa selecção, quando esta os alcança, ainda que aqui o que apareça em destaque seja a figura do treinador Scolari ?

Não prolongo o rol das assimetrias, por fastidioso na sua mera enumeração ?

Alguém quererá comentar estas anomalias ?

Carlos Medina Ribeiro disse...

Antes de mais, agradeço ao Desidério Murcho por ter dado aproveitamento ao documento que lhe enviei.

Já agora, veja-se [aqui] o mesmo excerto de «O Primo Basílio» antes e depois dessa data (1931), e note-se que até o título da obra e o nome do autor foram alterados.
Talvez não tenha havido qualquer vantagem nisso, mas deve haver um meio-termo qualquer, pois eu também não gostaria se ainda estivesse em vigor a ortografia do séc XV, que também se vê no post que refiro...

Anónimo disse...

É extraordinário que num blog como o Rerum Natura se digam coisas cujo fundamento é a mais profunda ignorância (e ausência da mínima preocupação de se ir informar). Eu não estou a favor nem contra o Acordo, mas lembro que a reforma ortográfica de que fala este folheto é a aprovada, em Portugal, em 1911, em plena República (os brasileiros é que andaram anos a ver se assinavam ou não - até que lá se resolveram a seguir a norma de 1911 - mais ou menos)
Caso algum dos leitores esteja interessado, chamo a atenção para a seguinte excelente separata de um professor francês, que faz o historial da questão, publicada pela Gulbenkian, nos Arquivos do Centro Cultural Português, vol.X (Paris, 1976):
Bourdon, Albert-Alain, "Orthographe et Politique sous la première République Portugaise"
Cumprimentos

Carlos Medina Ribeiro disse...

Deve haver um motivo qualquer para o facto de, 34 anos depois de Abril, ainda haver quem recorra ao anonimato para expressar as sua "ideias" (passe a boa vontade do eufemismo...).

E é pena, também, que blogues interessantes como este se prestem a fazer a mesma função que habitualmente está reservada às árvores e aos candeeiros de rua para 'marcação de território'.

Assim, não, meus caros do De Rerum Natura. Assim, não!

Anónimo disse...

CMR acusa o toque e desata a moralizar autoritário: Assim, não. Assim, não.

34 anos depois de Abril há ainda quem julgue que o estatuto social é condição para a autoridade intelectual. 34 anos depois de Abril há cada vez mais CMRs, máquinas de opinião, demagógicas, arrogantes e ocas. Já passaram 34 anos de Abril, e ainda não nos livrámos dos CMRs...

Florêncio Cardoso disse...

Freud dizia: «Quando Pedro me fala de Paulo, fico a saber mais sobre Pedro do que sobre Paulo».

Da mesma forma, quando alguém insulta outra pessoa num local como este, recorrendo aos métodos e termos execráveis do Dâmaso Salcede (o tal cujo lema era «Eu sou forte!», mas que se borrou todo quando o seu anonimato foi desfeito), ficamos a saber mais sobre o insultador (mesmo anónimo) do que sobre o insultado.

Anónimo disse...

Caro CMR

Se me permite um comentário, acho que, mais uma vez (e julgo que até com a mesma pessoa) cometeu a grande ingenuidade de dar trela a um anónimo cuja postura cívica e linguajar está abaixo de qualquer classificação.

Há um velho ditado que diz: «Nunca lutes com um porco. Primeiro, porque é isso que o faz feliz. Depois, porque te sujas em contacto com ele».

Duarte

Anónimo disse...

Isto já é enjoativo

Jorge Oliveira disse...

E gostava de ver abordadas as questões levantadas pelo António Viriato.

E em jeito de observação, julgo que neste, como noutros blogues, o formato dos comentários não ajuda muito à sua proliferação. O espaço de escrita é "apertado" e os textos de maior dimensão prolongam-se excessivamente em "comprimento". Não se consegue arranjar outro formato?

Anónimo disse...

eu nao sou fa da lingua portuguesa e nem das raizes da ortografia brasileira ,o q eh normal com 17 anos, mas penso q é perda de tempo discutir algo jah decidido com opinioes fracas
que levam a um desentendimento desnecessario.
VAMOS FALAR DE FUTEBOL huahauhauahuah....me respondam....

Sidney Falcão disse...

Antônio Viriato,

Sou brasileiro e lamento discordar de você. É bem verdade que os portugueses foram muito importantes na formação cultural do povo brasileiro, juntamente com os povos indígenas e africanos. No entanto, é verdade também que determinadas atitudes portuguesas na época do Brasil colonial, ainda se refletem até hoje. O conceito de uma economia escravagista introduzida no Brasil, prosseguiu no país mesmo quando tornou-se independente, o que era um verdadeiro atraso.

Até 1808, o Brasil nem se quer imprimia um livro, por exemplo. Quando a corte de D.João VI transferiu-se para o Brasilnaquele ano, fugindo do exército de Napoleão Bonaparte, a situação mudou. O rei português teve que adotar iniciativas para uma melhor instalação da sua corte na colônia sul-americana, como criação de um banco, uma imprensa oficial, biblioteca entre outras medidas. Caso contrário, continuaríamos no atraso durante boa parte do século XIX.

Sobre as suas "trivialidades" que perguntas:

- Não sei a quantidade de músicas brasileiras veiculadas aí em Portugal, mas aqui no Brasil, infelizmente, a música portuguesa é praticamente inexistente nas programações diárias das rádio brasileiras.

- Exibiçaõ do cinema português no Brasil nas salas comerciais é 0%. Infelizmente.

- Sobre a insistência das editoras brasileiras insitirem na "tradução" dos livros de autores portugueses, acho que a explicação é simples. Apesar de falarmos a mesma língua, existem algumas diferenças. Os brasileiros pouco têm contato com o cinema, com o teatro, com a literatura, com as telenovelas, ou seja, com o que se faz de contemporâneo com a língua portuguesa aí em Portugal, daí a razão, acredito eu, dessas "traduções". Pelo que percebo, os portugueses têm mais contato com as produções brasileiras contemporâneas. acho que isso resume tudo em duas palavras: influência econômica.

- Sobre o seu questionamento aos atores portugueses "abrasileirarem" a pronúncia nas telenovelas. Oras, porque eles estão atuando numa produção brasileira!!!!

- Não vi, mas pelo que você descreveu, o Jô Soares estava maldosamente encenando uma piada de português.

- Em relação às notícias de Portugal na imprensa brasileira, são poucas. As últimas foram sobre a seleção de Portugal na copa do mundo e da morte de José Saramago.

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Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação e...