sexta-feira, 11 de abril de 2008
HÁ AR E AR, HÁ IR E ESPERAR
Minha crónica no "Público" de hoje:
Muito se tem falado do novo aeroporto de Alcochete, mas eu quero falar do velho aeroporto da Portela, em Lisboa. Do aeroporto de Frankfurt ao aeroporto da Portela, ao longo de uma distância de 1200 milhas, um passageiro demora três horas num avião da TAP. Acontece que a mala do passageiro demora no mesmo trajecto quatro horas e meia. A hora e meia a mais é passada à chegada a percorrer a meia milha entre a pista e a passadeira da bagagem. É como se a mala, chegada ao solo lusitano, ganhasse uma prodigiosa inércia e se recusasse terminantemente a mover-se.
Quem vai para o ar previne-se para terra. De modo que o melhor é levar para o desmesurado tempo de espera pela bagagem um romance volumoso, por exemplo Crime e Castigo. Mas, nesse livro, o castigo é devido a um crime. A “seca” da espera é um castigo sem nenhum crime. Ou talvez o crime tenha sido a escolha da TAP. O passageiro devia saber que esta foi a transportadora da rede europeia que registou, no ano passado, o pior índice de atraso na entrega de bagagens, segundo os números da Associação de Linhas Aéreas Europeias (26º e último lugar na lista). Acresce o facto de aquela companhia também ter “ganho”, no mesmo ano, o último lugar na pontualidade à chegada nos voos de pequeno e médio curso. Um atraso soma-se a outro atraso.
Em 16 de Agosto passado o Público noticiava que, em média, se espera pela mala mais de 45 minutos. A mesma notícia dava conta de milhares de reclamações mensais. Eu, que esperei 90 minutos, nem sequer reclamei porque não adiantava nada. Se, aparentemente, até os governantes lá passam e acham tudo bem... Como muitos passageiros (e a companhia portuguesa transportou 8,3 milhões no ano passado) habituámo-nos todos, governados e governantes, a chegar cá e a suportar o insuportável. Em nenhum lado do mundo suportaríamos tamanha falta de consideração, mas aqui aceitamo-la como uma sina. Temos paciência. Rezamos para que a mala apareça e, embora noutra passadeira e a desoras, quando já desesperávamos, eis que ela acaba, aleluia!, por aparecer. Quando aparece, claro.
Tem mesmo de ser assim? É óbvio que não, não é assim em lado nenhum da Europa e não tem de ser assim aqui. E não há nenhuma razão física para a inércia das bagagens ser só nacional. O problema está bem identificado há bastante tempo através das muitas queixas das quais a comunicação social tem aliás feito eco. A sua resolução é uma questão de boa organização, é uma questão de emular o que se faz nos outros aeroportos europeus. Contudo, receio que não serei o último a queixar-me. A responsabilidade está diluída: é não só da TAP, que detém metade da Groundforce, a principal operador de handling no aeroporto (a outra metade era espanhola mas foi adquirida há pouco por três bancos nacionais, talvez porque os espanhóis não suportavam mais a vergonha internacional), mas também da ANA, a empresa dos aeroportos nacionais, que tem a maioria da Portway, a outra empresa de handling. Se a Groundforce não tem força para mover as malas em terra, que constitui afinal um dos objectivos centrais da sua existência, porque não é despedida, sendo o serviço entregue a outra empresa? Se o cliente está a pagar e bem (lembro que ao preço do bilhete acrescem taxas de aeroportos), o que está a ser feito com o dinheiro do cliente? Onde pára a fiscalização económica?
A propósito de fiscalização económica: O passageiro chegado à Portela tem outra sina. A de ser roubado, ou pelo menos maltratado, muitas vezes insultado, pelo motorista do táxi se tiver o azar de ir para perto, por exemplo para a Gare do Oriente. Os preços são arbitrários, sendo o contador um mero objecto de adorno. Não admira por isso que os passageiros mais avisados procurem, quando chegam, os táxis na zona das partidas. Os transportes públicos são poucos e maus. Ao menos no Porto o metro já chega ao aeroporto. Em Lisboa, a ampliação do metro é muito mais lenta do que a mala. Consta que só chegará à Portela quando o aeroporto lá não estiver...
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7 comentários:
Caro Carlos
Tem toda a razão. A espera pelas malas na Portela é simplesmente exasperante e um péssimo cartão de visitas a quem nos visita. Não conheço outro aeroporto com esperas tão longas como na Portela. Concordo inteiramente que nada será feito enquanto não houver uma ameaça séria (a nível concorrencial) às empresas de handling ou, alternativamente, enquanto estas empresas não começarem a ser fortemente penalizadas pelas longas demoras.
Caro Carlos
Apesar da sua análise e experiência não estarem obviamente erradas, creio que peca por um exagero (tipicamente português) de ser-mos mais exigentes conosco, até do que com os outros. Ou doutra maneira (porque na realidade não somos exigentes) somos muito maledicentes das coisa Lusitanas, mesmo quando não são assim tão más.
Discordo frontalmente que o problema que descreveu seja exclusivamente português! Há quanto tempo não passa por Madrid? Ou Charles DeGaulle? Ou mesmo Heathrow?
Penso ser muito mais grave em termos sociais, o Metropolitano não chegar ao actual aeroporto.
Ou o mesmo Metropolitano não contemplar em nenhuma das suas estações em Lisboa, acessos em escada rolante desde a Superfície até à plataforma de embarque!!!
Na prática qualquer cidadão pagante de impostos mas com dificuldades de locomoção, está impedido de poder utilizar este serviço público em situação de conforto e qualidade idênticos ao dos outros cidadãos.
E isto acontece (pasme-se) nas estações construidas nos últimos 3 anos, como nas estações construídas há 40 anos. Isto sim é grave, porque a capacidade análise e planeamento do nível de serviço a proporcionar ao cidadão, continua ausente dos projectos de obras públicas, agora, como no passado.
Caro Carlos,
é de facto inteiramente verdade, que os tempos de espera na Portela são substancialmente superiores que nos outros aeroportos internacionais onde já estive. É de facto uma situação grave.
Contudo, mais grave ainda é o facto de não haver transportes públicos com qualidade e regularidade para o aeroporto! Eu sou estudante e moro na residência do IST no Parque das Nações, a 5 min de carro do aeroporto. No início do 2º semestre, conheci uma rapariga, Romena, que mora no mesmo piso que eu. Entre várias conversas, soube que ela tinha apanhado um taxi do aeroporto até à residencia. Já sabia das "manhas" dos taxistas e logo lhe perguntei quanto lhe tinha custado a viagem. Ao que ela me explicou que à chegada a um país onde ela nunca tinha estado, dirigiu-se aos taxis, e no 1º perguntou quanto lhe custava a viagem até à Residência Duarte Pacheco, Oriente, ao que o taxista lhe disse 15€. Ela achou muito caro e perguntou ao taxista atrás, o orçamento foi igual e ela pensou que fosse realmente o preço justo! Obviamente que eu lhe expliquei que ela tinha sido BURLADA, pois no máximo deveria ter pago 5€ incluindo a bagagem!
De facto existem dois autocarros que eu costumo apanhar na portela, para vir até ao Oriente. Contudo acho inadmissível que se tenha de andar pela calçada portuguesa cheia de buracos, atravessar 3 estradas, e descer para uma rua que à noite não tem qualquer vigilância, para se apanhar um autocarro que na melhor das hipóteses chega de 20 em 20 minutos! Da última vez que o fiz estava a chegar de Frankfurt e foi na altura das inundações em Lisboa lá para meados de Fevereiro. Apanhei imensa chuva, pois a paragem é pequena e apenas cabem 4 pessoas se acompanhadas de bagagem! Não sei a quem convém este estado de coisas, mas a mim que sou estudante e prefiro pagar 1,35€ de bilhete a bordo que 15€ de Taxi, mesmo tendo de apanhar um pouco de chuva ou mesmo ser assaltado num paragem tão escondida e sem vigilância alguma!
«a outra metade era espanhola mas foi adquirida há pouco por três bancos nacionais, talvez porque os espanhóis não suportavam mais a vergonha internacional»
Quem pensa que os negócios se regem pela vergonha é muito, mas mesmo muito, naif. Este problema ocorre em quase todos os aeroportos e não é exclusivo de Lisboa.
Quanto aos taxis tem razão embora tipicamente respeitem os taximetros mandam umas bocas fortes e por vezes esperam "gratificações" de mais de 100% do valor da viagem.
Experimente nem ir para tão longe como a Gare do Oriente...
Então posso dar outro exemplo. Uma viagem de Ponta Delgada para Lisboa demora cerca de 2 horas. Com bagagem, para o check-in é preciso 1 hora de antecedência. Já aconteceu, à chegada a Lisboa, esperar-se 2 horas pela bagagem. Resumindo, uma viagem de 2 demorou 5 horas.
777ALFAÓMEGA88
Portugal sempre assim foi graças ao seu dilecto povo.
Razão tinha o outro governante no Terreiro de Paço quando afirmou:
É só Fumaça! O Povo é sereno!
O Tuga é assim:
Se tem razão para reclamar, cale-se e saí de rabinho entre as pernas.
Se não tem razão para reclamar, faz um arraial, atira os foguetes e ... até apanha as canas.
Já perdi as esperanças que se faça algo de positivo em portugal. Isto vai de Mau a Piau...esperem só pelo incremento da crise social e até vão achar que os problemas actuais eram muito suportaveis.
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