quarta-feira, 9 de abril de 2008

ALGUMAS CURIOSIDADES DA INCICLOPEDIA


Três entradas do livro "Inciclopédia", de Gideon Haigh, Tinta da China, 2006:

Rebuçados peitorais do Dr. Bayard (p. 69):

Feitos com açucar, glucose (numa proporção de 30 por cento), água descalcificada, alteia, mel (da Austrália) e xarope de plantas medicinais, os rebuçados peitorais do Dr. Bayard fazem parte do imaginário português. Fabricados à razão média de 4000 quilos por dia, num ruidoso edifício de 1200 metros quadrados com cave e rés-do-chão, na Rua Gomes Freire, Amadora, estes rebuçados que prometem o alíbio da tosse passam por nove estapas de produção e por seis máquinas diferentes antes de chegarem às mãos dos clientes. Ao todo, são mais de mil rebuçados embrulhados por minuto, 40 quilos de messa cozidos a cada três minutos, 40 toneladas de mel e 600 de açúcar gastas por ano.

A história da fábrica remonta a 1939, quando Álvaro Matias, originário de Vale de Mula (Almeida), trabalhava numa mercearia da capital. Foi aí que conheceu um farmacêutico francês, o Dr. Bayard, que encontrara em Lisboa, como tantos outros cidadãos europeus. Um destino de fuga aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Com o tempo, os dois homens desenvolveram uma amizade, iniciada com a venda de um presunto e com aulas particulares de francês, e depois estreitada pela solidariedade do marçano, à medida que a situação financeira do Dr. Bayard se agravava e os bens de primeira necessidade iam escasseando. Terminada a guerra, o farmacêutico voltou para França com a família, deixando a Álvaro Matias, como agradecimento, a receita dos rebuçados, assim como a assinatura e os quatro desenhos que ainda hoje ornamentam a embalagem. Algum tempo depois, Álvaro Matias, actualmente nonagenário, começou uma pequena indústria caseira (a primeira máquina só foi comprada em 1951). O negócio cresceu e é hoje gerido por um filho, José António, e por um neto. O Dr. Bayard não deu mais notícias e o papel com a receita original continua muito bem guardado, em parte incerta.

Idiotas, débeis mentais, imbecis e cretinos (p. 110):

De acordo com o enquadramento legal britânico, um idiota é um indivíduo com um QI inferior a 20, um imbecil tem um QI entre 20 e 49, e um débil mental um QI entre 50 e 69. Os cretinos são, em termos específicos, pessoas com deformidades ou atraso mental causados por deficiências da tiróide; hoje em dia o cretinismo é mais comummente chamado de hipertiroidismo. “Idiota” deriva do grego idios, que tem o sentido de “próprio”, “privado” ou “particular”, como em “idiosincracia”. “Débil” vem do latim debile, que quer dizer “fraco” ou “frágil”. “Imbecil" deriva da construção latina imbecille, que significa “sem bastão”, no sentido de “frágil”, sem sustentação. “Cretino” vem do francês crétin, cuja etimologia não está completamente esclarecida. Uma vez que se supõe que, originalmente, o vocábulo queria dizer “cristão”, no sentido de “pessoa sagrada”, o “cretino” pode ser um “tolo de Deus”, por assim dizer.

Os sete pecados mortais segundo Ghandi (p. 151):

De acordo com a moral judaico-cristã, os sete pecados mortais são: ira, inveja, gula, avareza, luxúria, soberba e preguiça. O líder político e espiritual indiano Mohandas Karamachand Ghandi (1869-1948) elaborou a sua própria lista das características mais perigosas para a humanidade: 1. Riqueza sem Trabalho; 2. Prazer sem consciência; 3. Ciência sem Humanidade; 4. Conhecimento sem Carácter; 5. Política sem Princípios; 6. Comércio sem Moralidade; 7. Culto sem Renúncia.

2 comentários:

Anónimo disse...

"1. Riqueza sem Trabalho; 2 Prazer sem consciência; 3 Ciência sem Humanidade; 4 Conhecimento sem Carácter; 5 Política sem Princípios; 6 Comércio sem Moralidade; 7 Culto sem Renúncia."

Como não entendi o 7º perigo, fui ao dicionário (PRIBERAM) ver o segnificado de "renúncia", para confirmar se teria mais algum sentido que não o da "desistência", ou de "voluntariamente deixar de fazer parte de".

Culto sem renúncia significa assim à primeira vista Culto ( de religião) sem uma acção voluntária de abandono desse culto. Julgo que isto pode ser então grosseiramente interpretado como ter um culto(dogmático)sem uma capacidade crítica que nos permita arrepiar caminho e renunciar a ele ( ao dogma, à crença cega e acrítica).

Mas continuei a pesquisar no dicionário e fui ver significados para "RENUNCIAR".
Deparei-me com isto:
(...)

sacrificar-se;

resignar;
(...)

Assim, fiquei sem saber se o 7º perigo reside em:
1) culto sem afastamento voluntário
2) culto sem sacrifício
3)culto sem resignação

Qual é então o 7º perigo de Ghandi, quanto à prática / adopção do Culto?
H1) Não se afastar deste ?(a religião é perigosa);

H2)Não fazer sacrifícios em nome do culto? ( o sacrifício faz parte da religião, o não-sacrifício compromete a crença); o sacrifício é sinal de boa vontade e de alteridade.

H3) O culto, na senda da ideia do sacrifício, não é verdadeiro sem resignação. A resignação deve fazer parte da crença/culto.


Claro que este Culto referido por Ghandi poderá não ser religioso. Mas como o culto do dinheiro já está assinalado antes, o culto do enriquecimento fácil também, o culto do prazer também, julgo que só restará a questão religiosa.

Qual foi então o 7º perigo, referente ao Culto religioso, que Ghandi enunciou?

Para finalizar, os pecados de Ghandi são bem mais graves que os pecados judaico-cristãos. E tristemente actuais, passados 60 anos...

Anónimo disse...

onde se lê "segnificado", deve ler-se "significado".

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