terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O escândalo do Climategate e a conferência de Copenhaga.


Reproduzimos, com a devida autorização e agradecimento ao autor, o artigo publicado ontem no Expresso online pelo Prof. Delgado Domingos, reconhecida autoridade nacional em Climatologia e Engenharia do Ambiente, sobre o escândalo Climategate:

"O escândalo do 'Climategate' e a Conferência de Copenhaga

O caso Climategate, onde se manipularam dados para provar o aquecimento global, é um dos maiores escândalos científicos da História, pelo modo como afecta a credibilidade pública da comunidade científica e sobretudo pelas suas implicações económicas e políticas.

Passaram há pouco 42 anos sobre um dos maiores desastres de origem climática em Portugal: as inundações de 1967 em Lisboa. Centenas de mortes e centenas de milhões de prejuízos materiais. Será que este desastre se deveu às emissões de CO2eq (CO2 equivalente) ou ao aquecimento global? Claro que não!

Aliás, na altura, a imprensa internacional explorava os receios de uma nova idade do gelo devido ao arrefecimento global que se verificava.

Em 1967, a probabilidade de ocorrência da precipitação que provocou o desastre em Lisboa era conhecida. Uma precipitação com características análogas pode repetir-se amanhã e as suas consequências só serão menores se as necessárias medidas de prevenção forem entretanto tomadas (e nem todas o foram!).

Catástrofe de Nova Orleães não foi causada pelo aquecimento global

O que se passou com a destruição de Nova Orleães pelo furacão Katrina foi análogo: as consequências de um furacão com aquelas características eram bem conhecidas, e as imprescindíveis obras de reparação e reforço das protecções foram insistentemente pedidas mas sistematicamente adiadas.

A catástrofe não teve nada que ver com emissões de CO2eq ou aquecimento global. As tragédias climáticas no Bangladesh não são provocadas por emissões de CO2eq, aquecimento global ou subida do nível do mar, mas sim pelas inundações resultantes do assoreamento dos rios originado pela erosão que as extensíssimas desflorestações a montante agravaram e pelo crescente aumento do número de habitantes e construções em leito de cheia.

Segundo a ONU, mais de mil milhões de pessoas estão actualmente ameaçadas pela fome ou subnutrição, e agita-se o fantasma do seu aumento ou das suas migrações massivas se não forem combatidas as emissões de CO2eq para reduzir o aquecimento global.

A situação dramática e escandalosa destes milhões de seres humanos não tem nada a ver com as emissões de CO2eq, nem com o aumento oficial de 0,8 ºC na temperatura média global nos últimos 150 anos.

Temperaturas não aumentam desde 1998

Aliás, apesar de as emissões de CO2eq terem aumentado acima do cenário mais pessimista do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU, desde 1998 que a temperatura global não aumenta.

Os exemplos anteriores poderiam continuar mas a conclusão seria sempre a mesma: as consequências catastróficas de fenómenos climáticos são evidentes e têm aumentado devido a acções humanas.

O que sucedeu em 1967 em Lisboa e se repete cada vez mais agravado por esse mundo fora não é devido a emissões de CO2eq ou alegado aquecimento global.

É devido simplesmente ao facto de fenómenos climáticos naturais, que sempre existiram, terem efeitos cada vez mais catastróficos porque as acções humanas sobre o território criaram as condições para isso ao desflorestarem as cabeceiras de rios (que agravaram o seu assoreamento e as consequentes inundações), ao aumentarem os riscos de deslizamento das encostas (porque eliminaram a vegetação que as estabilizava), ao construírem cada vez mais em leitos de cheia, e ao provocarem alterações cada vez mais extensas e profundas no uso do solo.

Os efeitos das alterações no uso do solo são cada vez mais evidentes nas alterações climáticas locais e nos seus reflexos globais.

Sendo evidente que a variabilidade natural do clima sempre existiu e que as acções humanas têm vindo a agravar os seus efeitos, a subversão conceptual que a União Europeia liderou, reduzindo tudo, ou quase tudo, às consequências do aquecimento global provocado por emissões de CO2eq é muito grave e, em última instância, contrária aos louváveis ideais que afirma defender e que suscitam o apoio das organizações ambientalistas e de multidões de bem intencionados.

Um dos maiores escândalos científicos da História

É neste contexto que rebenta o escândalo do chamado Climategate. Em termos da comunidade científica, o Climategate é um dos maiores escândalos científicos da História, não só pelo modo como afecta a credibilidade pública da comunidade científica mas sobretudo pelas implicações económicas e políticas de que se reveste.

De facto, nunca existiram tantas declarações, tantos tratados, tantos protocolos e tão gigantescos fluxos financeiros tendo como único fundamento a credibilidade e o suposto consenso da comunidade científica expresso nos Summary for Policy Makers (SPM) do IPCC.

Esse fundamento desapareceu, mas os interesses envolvidos (políticos, económicos, financeiros e industriais) são de tal monta e a percepção pública da fraude científica é tão lenta que a ficção criada pela UE ainda se irá manter durante muito tempo.

O Climagate consistiu na divulgação, através da Internet, de um conjunto de ficheiros, que incluem programas de computador e emails trocados entre alguns dos principais autores dos relatórios do IPCC, de entre os quais assumem particular relevo os de Phil Jones, director do Climate Research Unit (CRU) da Universidade de East Anglia e Hadley Centre (Reino Unido), de autores do notório hockeystick e instituições responsáveis pelas bases de dados climáticos, como o National Climate Data Center (NCDC) e o Goddard Institute for Space Studies (GISS) dos EUA, consideradas de referência pelo IPCC.

O hockeystick é o termo usado entre os cientistas para designar o gráfico em forma de stick de hóquei que representa a evolução das temperaturas do hemisfério norte nos últimos mil anos, e que foi criado por um grupo de cientistas norte-americanos em 1998.

Manipulação de dados

Os referidos ficheiros encontravam-se num servidor do CRU e a sua autenticidade não foi até agora contestada. Aliás, muitos deles apenas confirmam o que há muito se suspeitava acerca da manipulação/fabricação de dados pelo grupo.

Todavia, muito do que era suspeito e atribuível a erro humano surge agora como intencional e destinado a manter a "verdade" (do IPCC) de que houve um aquecimento anormal e acelerado desde o início da revolução industrial devido à emissões de CO2eq.

Esta "verdade" é incompatível com o Período Quente Medieval (em que as temperaturas foram iguais ou superiores às actuais apesar de não existirem emissões de CO2eq) e a Pequena Idade do Gelo que se seguiu. É também incompatível com o não aquecimento que se verifica desde 1998. Esconder ou suprimir estas constatações foram objectivos centrais da fraude científica agora conhecida.

Silenciar os cientistas críticos

Em termos científicos, o que os emails revelam são os esforços concertados dos seus autores, junto de editores de revistas prestigiadas, para não acolher publicações que pusessem em causa as suas teses ou os dados utilizados pelo grupo, recorrendo mesmo a ameaças de substituição de editores ou de boicote à revista que não se submetesse aos seus desígnios.

Propuseram-se mesmo alterar as regras de aceitação das publicações para consideração nos Relatórios do IPCC de modo a suprimir as críticas fundamentadas às suas conclusões. Em resumo, procuraram subverter, em seu benefício, toda a ética científica da prova, da contraprova e de replicação de resultados que está no cerne do método científico, controlando o próprio processo da revisão por pares.

Em conjunto, conseguiram impedir que fossem publicados a maioria dos dados e conclusões que pusessem em causa e com fundamento o seu dogma do aquecimento global devido às emissões de CO2eq.

O Climategate provocou já uma invulgar reacção internacional, como uma simples pesquisa no Google imediatamente revela (mais de 10.600.000 referências menos de uma semana depois da sua revelação).

No intenso debate internacional em curso e que irá certamente continuar por muitos meses/anos, surgiram já todos os habituais argumentos de ilegalidade no acesso aos documentos; de idiossincrasias próprias de cientistas-estrelas que se sentiram incomodados; citações fora de contexto, etc.

Em meu entender, o mais revelador e incontestável nos ficheiros divulgados nem são os emails, apesar do que mostram quanto ao carácter e a honestidade intelectual dos cientistas intervenientes, mas sim os programas de computador para tratar os registos climáticos que utilizaram para justificar as conclusões que defendem.

Diga-se o que se disser, os programas executaram o que está nas suas instruções e não o que os seus autores agora vêem dizer que fizeram ou queriam fazer.

Dados climáticos até 1960 destruídos

Antecipando porventura o que agora sucedeu, os responsáveis pelos dados climáticos de referência arquivados no CRU, vieram publicamente confirmar que destruíram os dados das observações instrumentais até 1960 e que apenas retiveram o resultado dos tratamentos correctivos e estatísticos a que os submeteram.

Ou seja, tornaram impossível verificar se tais dados foram ou não intencionalmente manipulados para fabricar conclusões. Neste momento há provas documentais indirectas de que o fizeram pelo menos nalguns casos.

Existe ainda um efeito perverso na referida manipulação que resulta de os modelos climáticos utilizados para a previsão do futuro terem parâmetros baseados nas observações climáticas passadas, que agora estão sob suspeita.

Afecta também todas as calibrações de observações indirectas relativas a situações passadas em que não existiam registos termométricos.

Independentemente de tudo isto, o mais perturbador para os alarmistas é o facto de, contrariamente ao que os modelos utilizados pelo IPCC previam, não existir aquecimento global desde 1998, apesar do crescimento das emissões de CO2eq.

E se alguma coisa os ficheiros do Climagate revelam são os esforços feitos para que este facto não fosse do conhecimento público.

Comportamento escandaloso e intolerável

O comportamento escandaloso e intolerável de um grupo restrito de cientistas que atraiçoaram o que de melhor a Ciência tem só foi possível porque um grupo de políticos, sobretudo europeus, criou as condições para o tornar possível.

Isso ficou claro desde a criação do IPCC e torna-se evidente para quem estuda os relatórios-base do IPCC (WG1-Physical Science Basis) e os confronta com os SPM.

Todavia, seria profundamente injusto meter todos os cientistas no mesmo saco, pelo que é oportuno lembrar que se deve a inúmeros cientistas sérios e intelectualmente rigorosos uma luta persistente e perigosa contra os poderes estabelecidos, para que a ciência do IPCC fosse verificável e responsável.

Foram vilipendiados e acusados de estar ao serviço dos mais torpes interesses. Os documentos agora revelados mostram que estavam apenas ao serviço da Ciência e do rigor e honestidade dos métodos que fizeram a sua invejável reputação.

Seria também irresponsável agir como se as consequências da variabilidade climática e da utilização desbragada de combustíveis fósseis tivesse desaparecido com a revelação do escândalo. Muito pelo contrário.

Problemas ambientais de fundo devem ser atacados

Chame-se variabilidade climática ou alteração climática, os problemas de fundo da sustentabilidade ambiental permanecem e agravam-se pelo que devem ser atacados com determinação e realismo.

Se os esforços internacionais mobilizados para a Cimeira de Copenhaga conseguirem ultrapassar a obsessão do aquecimento/emissões (liderado pela União Europeia) para se concentrarem na eficiência energética, nas energias renováveis, na minimização dos efeitos das alterações nos usos do solo, no combate à desflorestação, à fome e aos efeitos da variabilidade climática, teremos uma grande vitória para o planeta se a equidade e a justiça social não forem esquecidas.

Ao que parece, as propostas da China e dos EUA vão neste sentido tendo a delicadeza suficiente para não humilhar a União Europeia. Esperemos que sim."

J. J. Delgado Domingues

29 comentários:

Paisano disse...

Finalmente consegue-se começar a desmontar uma montagem que poderia ter sido uma boa oportunidade para a Ciência não fosse a VÃ GLORIA com que alguns quizeram aboletar-se.

" A VERDADE É COMO O AZEITE, PODE LEVAR TEMPO MAS ACABA POR VIR À SUPERFÍCIE "

Anónimo disse...

Sugiro que os posts sobre alterações climáticas tenham, como por exemplo os de homeopatia ou criacionismo, o tag (etiqueta) «Pseudo-ciência». Obrigado.

Roberto disse...

Hino do climategate:

http://www.youtube.com/watch?v=nEiLgbBGKVk

Francisco Sousa disse...

Obrigado pela honestidade. É que muitas vezes ela se encontra muito distante da imprensa generalista. Especialmente em questões de política mascarada de ciência como esta.

Francisco Sousa

Sérgio O. Marques disse...

Já tem aí uns oito anos que fui a uma palestra sobre essa problemática. O palestrante (que não me lembro quem foi) apresentou argumentos contra a ideia do aquecimento global com origem antropogénica. Nunca pensei que viesse a ter tanta repercussão agora.
Vejamos como será daqui a uns anos com a ideia de que atravessamos o pico da produção de petróleo.
Acho que misturar dessas "ciências" com capitalismo é como misturar sódio na água. -Estoira!

Tarelho disse...

Ola, parabens por este blog fantastico que me tem ensinado muito. São excelentes os esclarecimentos sobre este escandalo, de um nivel que ainda não tinha encontrado. Queria apenas deixar uma nota. Embora afirme que a influencia maior veio dos politicos europeus, eu queria lembra quem é o maior rosto, o maior "embaixador", desta suposta fraude do aquecimento global: Al Gore, politico influente e conhecido dos Estados Unidos da America.
Obrigado e continuem a informar desta forma tão louvavel porque as pessoas precisam muito que seja assim, ja que andam tão mal esclarecidas pelos media...

Anónimo disse...

Um dia veremos tudo isto escrito mas sobre o CERN e a partícula de Higgs (e outras coisas). O processo é sempre o mesmo, fruto de uma actividade científica onde vale tudo. Primeiro os modelos, depois os dados.

Rui leprechaun disse...

Excelente o último anónimo! Claro que o bosão de Higgs é um puro mito, fruto de modelos matemáticos fantasistas que enxameiam a pomposamente chamada "Física das partículas", mas que não tem por base nenhum verdadeiro modelo físico racional para a compreensão do modelo atómico.

Seria bom que esse dia não demorasse muito, mas as falsas verdades dificilmente se evaporam do dia para a noite. Deveras, só por impensável milagre se vai deixar de falar do "aquecimento global" - vide o inenarrável discurso de Guterres... lamentável! - pois essa mentira é fulcral para impor o desenvolvimento das energias renováveis, as quais, no modelo económico vigente, seriam insustentáveis por excessivamente dispendiosas e pouco eficientes.

Já agora, e pegando noutra frase MUITO discutível... eis então o cerne da questão:

atravessamos o pico da produção de petróleo

E será que o petróleo, bem como o carvão ou o gás natural, é mesmo um combustível fóssil? A sua origem é biótica ou abiótica, podendo até coexistirem ambas? Afinal, existem hidrocarbonetos em planetas sem vida, e em laboratório já se obtiveram compostos químicos compatíveis com os mecanismos abióticos propostos como origem desse "óleo de rocha".

Em suma, não somente o aquecimento global é uma farsa politicamente cozinhada e que de científico não tem nada, como a justificação do malefício e finitude dos combustíveis "fósseis" é altamente duvidosa.

Mas isto seria um comentário a desenvolver em post próprio sobre o tema... "peak oil or not peak oil"... does truth freeze or boil?! :)

Francisco Trindade disse...

O Rerum Natura com a publicação deste texto mostra uma grande honestidade intelectual visto que este artigo vai contra aquilo que o blog e especialmente alguns dos seus membros como por exemplo a Palmira F. Silva e outros dum modo enfático defendiam até à pouco tempo: A fraude do aquecimento global.
Obrigado pela vossa honestidade. Destacaram-se nomeadamente da mídia dita "de referência" (não sei de quê)com o Público e o Diário de Notícias que continuam a batalhar na mesma tecla: a do aquecimento global.

Francisco Trindade

Rui Curado Silva disse...

Existem milhares de artigos científicos publicados em revistas da especialidade por milhares de cientistas que revêem os trabalhos e repetem experiências e observações. O resultado desse trabalho teve como consequência que o aquecimento global é causado pelo com mais de 90% de certeza.

Quem faz ciência sabe que uns quantos emails que dizem respeito a um grupo restrito de cientistas de uma instituição pirateados por gente com intenções bem precisas que colocam em causa toda a ciência que foi feita. É normal que o Prof. Delgado Domingos não tenha essa noção porque não publica um artigo científico há mais de 20 anos e tem menos artigos científicos publicados que os alunos de doutoramento do meu laboratório. Agora o Jorge Buescu é que deveria ter mais cuidado. Andar à cata da pequena falha para por em causa todo o manancial de ciência que já foi consolidada, é uma atitude que anda mais próxima da atitude dos astrólogos que de um cientista. Para por em causa o manancial de ciência que foi produzido sobre o aquecimento global é preciso outro manancial de ciência no sentido contrário. Onde está ele?

Rui Curado Silva disse...

Deixo aqui uma passagem do Real Climate em que se desvenda com clareza as verdadeiras intenções (ou a ignorância) dos piratas ao seleccionarem esta ou aquela passagem de um email:

No doubt, instances of cherry-picked and poorly-worded “gotcha” phrases will be pulled out of context. One example is worth mentioning quickly. Phil Jones in discussing the presentation of temperature reconstructions stated that “I’ve just completed Mike’s Nature trick of adding in the real temps to each series for the last 20 years (ie from 1981 onwards) and from 1961 for Keith’s to hide the decline.” The paper in question is the Mann, Bradley and Hughes (1998) Nature paper on the original multiproxy temperature reconstruction, and the ‘trick’ is just to plot the instrumental records along with reconstruction so that the context of the recent warming is clear. Scientists often use the term “trick” to refer to a “a good way to deal with a problem”, rather than something that is “secret”, and so there is nothing problematic in this at all. As for the ‘decline’, it is well known that Keith Briffa’s maximum latewood tree ring density proxy diverges from the temperature records after 1960 (this is more commonly known as the “divergence problem”–see e.g. the recent discussion in this paper) and has been discussed in the literature since Briffa et al in Nature in 1998 (Nature, 391, 678-682). Those authors have always recommend not using the post 1960 part of their reconstruction, and so while ‘hiding’ is probably a poor choice of words (since it is ‘hidden’ in plain sight), not using the data in the plot is completely appropriate, as is further research to understand why this happens.

Ver aqui:
http://www.realclimate.org/index.php/archives/2009/11/the-cru-hack/#more-1853

Só quem não percebe como funciona o processo científico é que pode dar credibilidade a este episódio...

Anónimo disse...

Diz o comentador Rui Curado Silva : "Para pôr em causa o manancial de ciência que foi produzido sobre o aquecimento global é preciso outro manancial de ciência no sentido contrário. Onde está ele?"

Vejo duas dificuldades :

1) Sobre o aquecimento global não foi produzido nenhum manancial de ciência, mas sim um manancial de mentiras.

2) É muito pouco provável que os opositores desse manancial de mentiras estejam na disposição de incorrer em comportamento idêntico ao dos prevaricadores.

Finalmente, parece que Rui Curado Silva é investigador e professor universitário. Merecia que lhe retirassem o título académico e a licença para leccionar.

Rui Curado Silva disse...

Aqui interpreto o anonimato como um sinal de falta de coragem de dar a cara pela sua argumentação que é completamente vazia. O que só reforça a pertinência da pergunta:

Onde está o manancial de publicações científicas que contrariam minimamente as milhares de publicações que consolidam o aquecimento global respeitantes a observações, modelizações, experiências, trabalhos teóricos nas áreas da termodinâmica, química, geologia, oceanos, biologia, astronomia, física molecular, física atmosférica, etc.? Onde estão eles?

joao pedro disse...

O que se descobriu nestes mails? Basicamente que os cientistas também dizem mal de outras pessoas quando trocam mails entre si.
Se realmente houvesse uma conspiração, descobrir-se-iam coisas muito mais óbvias, como contactos entre cientistas e políticos ou grupos económicos, e até negociações e pagamentos. Não era apenas uma colecção de frases isoladas que, tiradas do contexto informal em que foram escritas, podem dar a impressão de fraude.

João Sousa André disse...

É sempre bom ver opiniões discordantes, mas é pena que sejam sustentadas em asneiras do calibre deste artigo, especialmente vindo de alguém que, como escreve o Rui Curado Silva, não é cientificamente activo há muitos anos e usa e abusa do título de "grande especialista em climatologia" atribuído, aparentemente, pelos jornais correntes.

Se há coisa que os e-mails roubados revelam é que há processos às vezes tendenciosos na avaliação dos efeitos das alterações climáticas. Isto não surpreende quem esteja em ciência. Há uma teoria inicial e há sempre vontade de a provar. É mau que assim seja, mas é a realidade. Curiosamente, com tanto dinheiro proveniente de indústrias petrolíferas, do carvão, etc, não parece haver muita pesquisa no sentido contrário.

Dir-me-ão que os e-mails mostram que houve silenciamento. Ora, eu não li tudo (são demasiados e-mails e eu tenho mais que fazer) mas aquilo que tenho visto referido são as referências ao uso de um "truque" no tratamento de dados (que não mais refere que o uso de uma boa ideia) e à remoção dos dados anteriores a 1960 em determinados contextos (e que se refere apenas à facilidade de leitura dos mesmos, não há "destruição de dados", como Delgado Domingos diz).

Não vejo nada que fale de ameaças ou de boicotes. Isso são invenções delirantes da mente deste autor, que provavelmente se confundiu com aquilo que os cientistas sofreram quando quiseram denunciar o aumento das emissões de CO2.

Quanto Às tais inundações, furacões, etc, claro que não foram especificamente causadas pelas alterações climáticas. Nada o é especificamente, as alterações climáticas levarão, isso sim, a um aumento de fenómenos. Escrever o que ele escreveu é alimentar histórias da carochinha para quem não entenda a ciência.

Mal esteve o Jorge Buescu, que é perfeitamente capaz de escrever de forma clara e apresentar muitos e bons argumentos científicos contra a tese das alterações climáticas sem ter de copiar para aqui esta baboseira pegada.

José M. Sousa disse...

«reconhecida autoridade nacional em Climatologia»

Isto deve ser piada de mau gosto.

Algumas das afirmações do sr. Prof. são espantosas! Nomeadamente estas:

«um dos maiores escândalos científicos da História»
«Em conjunto, conseguiram impedir que fossem publicados a maioria dos dados e conclusões que pusessem em causa e com fundamento o seu dogma do aquecimento global devido às emissões de CO2eq.»
«Aliás, apesar de as emissões de CO2eq terem aumentado acima do cenário mais pessimista do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU, desde 1998 que a temperatura global não aumenta.»

José M. Sousa disse...

O que é lamentável em que não estejamos a discutir isto:


«The report also notes that global warming continues to track early IPCC projections based on greenhouse gas increases. Without significant mitigation, the report says global mean warming could reach as high as 7 degrees Celsius by 2100.»
[NOTA: não é um qualquer blogger ou indivíduo isolado que afirma isto.]

in The Copenhagen Diagnosis - updating the world in the latest climate science

«The purpose of this report is to synthesize the most policy-relevant climate science published since the close-off of material for the last IPCC report»

Anónimo disse...

Fez muito bem o Jorge Buescu ao divulgar o texto de Delgado Domingos. A ambos deixo uma palavra de apreço. Os artigos de um e de outro lêem-se sempre com muito gosto.

Pelo contrário, aqueles que aqui os criticam não têm a noção da sua própria irrelevância. Quer eles queiram, quer não, os aldrabões do alarmismo climático estão a ser desmascarados em todo o mundo civilizado. Em Portugal demora sempre um pouco mais, mas há-de cá chegar.

José M. Sousa disse...

É curioso como estes anónimos são tão assertivos - sem nunca justicaram seriamente as suas afirmações - mas nunca dão a cara, naturalmente porque são anónimos, aliás violando a recomendação do próprio blogue. Direi eu, fraca convicção das suas posições.

Luís Leão Costa disse...

Da falibilidade humana

Parece-me hoje cada vez mais evidente a existência de uma agenda política a inquinar a possível verdade científica à volta do tema do aquecimento global. Acontece que foi um seu artigo neste site, “Lógica e falácia da correlação-causalidade” que me fizeram reflectir à data, de que por vezes a ciência pode ser apunhalada por cientistas que “vendem a alma ao diabo” e se submetem a interesses menos nobres ao porem-se ao serviço de estratégias menos honestas de alguns grupos empresariais.

Este é um Problema Político muito real, pois como homens talvez quase todos (uns mais outros menos, quem se achar totalmente imune que atire a primeira pedra…), podemo-nos deixar seduzir pelo vil metal, e servirmo-nos de algo que tem credibilidade – a ciência, para se apoiar pretensas soluções científicas que objectivamente os seus próprios autores sabem decerto estarem erradas, mas trazem a alguns muito lucro.

Dou-lhe assim os meus parabéns pelo interesse que tem dedicado à causa, pois ainda que haja aquecimento global, que põe como hipótese nesse dito artigo, diferente deste que o questiona, vejo no Prof. Jorge Buescu a procura do que realmente deve orientar a pesquisa científica, a procura de uma “maior verdade”, sempre sujeita à possível refutação popperiana, mas que não é conduzida por ínvios caminhos de se fazerem favores a estratégias empresariais e ao vil metal.

Contudo sem pensar em possíveis arquétipos platonianos de verdade, antes socraticamente questionando, julgo, como disse, ser possível encontrarmos uma “maior verdade”.É neste caso e similares que julgo ser possível aos agentes da Ciência e da Politica denunciarem, usando o papel importante da Lógica, aqueles que nos querem vender soluções falaciosas só para servirem os seus interesses egoístas pessoais e de mercado.

Nuno disse...

Boa Tarde,

Não sou astrónomo, mas confio no consenso científico quanto a um sistema solar heliocêntrico, apesar de não o conseguir demonstrar.

Não sou Biólogo, mas confio no consenso científico quanto á Teoria da Evolução, apesar de não o conseguir demonstrar.

Não sou Climatólogo, mas confio no consenso científico de dezenas de organizações, academias científicas e publicações reconhecidas têm em torno da Teoria do Aquecimento Global Antropogénico (AGA), apesar de não o conseguir provar. Faço-o apesar das opiniões de bloggers e uma pequena parte da comunidade científica (num sentido mais abrangente do que apenas a Climatologia). Porquê? Porque quero tomar uma posição e escolho as fontes mais seguras sobre um assunto que não é da minha área de especialidade. A alternativa é não ter posição.

Estes emails desafiaram este consenso? O Dr. Domingos, climatólogo e cientista reconhecido pelos seus pares desafia a Teoria do AGA? Senti-me desafiado no meu apoio por isso fui voltar conferir as fontes científicas que considero de referência. Estas mantêm a tese do AGA após este episódio. O implicado directo afastou-se da sua posição académica e o seu trabalho vai ser revisto. Aceito a sua conclusão.

Porquê? Porque a alternativa a confiar nas instituições científicas e no seu trabalho sério é ter que fazer uns semestres (vários?) á Faculdade de Ciências e concluir por mim mesmo. Não tenho esta disponibilidade. Não sou climatólogo, como já disse.

O problema REAL de toda esta questão e destes "cépticos" que aqui comentam (do tipo especial de cepticismo que já decidiu que é um FACTO, não uma teoria com um qualquer grau de probabilidade, que não exista um AGA) é este:

O público em geral não confia nas instituições científicas.

Confia nas teorias de conspiração, no Código da Vinci, no CERN que vai implodir o universo (como li aqui), etc. etc.
Qual é a solução? Maior facilidade de partilhar a informação mais acessível (cientificamente) ao público, para não estimular a "imaginação".

A única coisa que prova este episódio é que há muito a fazer para estabelecer melhores pontes de confiança entre a investigação científica e o público. É uma das missões da Ciência esta capacidade de comunicação. É tragicamente ignorada, e muito pelos próprios cientistas atrevo-me a dizer.

Cumprimentos.

ps. É sinal da trivialização do conhecimento desta Era Wikipedia o uso que comentadores dos dois lados fazem de copy/pastes da Internet e de dumping de links para ensaios, apesar de não fazerem a mínima ideia do que estão a enviar.
Como trabalho numa área científica onde se vê muito público a fazer este "trabalho de casa" na internet antes das reuniões devo dizer que este hábito é no mínimo frustante e no máximo extremamente ofensivo. Haja humildade.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Para se ter uma noção de como alguns constroem caudais de ciência aconselho vivamente a leitura deste post:
http://ambio.blogspot.com/2009/12/literatura-ceptica.html
henrique pereira dos santos

Luís Leão Costa disse...

Ainda acerca da falácia correlação-causalidade

Verifiquei que ao comentar em anterior escrito o seu post onde se expressa à posição do Prof. Delgado Domingos, não abordei o que de maior interesse encontrei no seu post “Lógica e falácia da correlação-causalidade”, ou seja o pouco significativo efeito do CO2 antropogénico no possível efeito do aquecimento global.

Embora a ciência seja um óptimo meio de o Homem poder controlar a seu favor a adversidade do meio ambiente haverá contudo a nível macro desenvolvimentos cósmicos que o humano dificilmente algum dia poderá controlar, tal como o facto de um dia a expansão solar vir a engolir todo o sistema planetário, só restando talvez ao humano ter nesses dias muito longínquos, meios tecnológicos de aportar a outro sistema estrelar num exoplaneta habitável ao humano.

Mas como não queremos fazer ficção científica ou futurologia julgo que será de todo o interesse estudarmos no presente os efeitos da actividade solar para a vida futura no planeta, sem contudo negligenciarmos os efeitos negativos de muitas actividades humanas como são referidas pelo Prof. Delgado Domingos, bem diferentes contudo das fundamentalistas soluções dos ditos paladinos do aquecimento global onde despontam Al Gore e outros, que terão como motivação principal lançar alarmismo para se venderem soluções de duvidosa validade que seriam “insustentáveis por excessivamente dispendiosas e pouco eficientes” como se refere aqui num interessante comentário.

Assim queria perguntar-lhe se não continuará válido o que referiu no dito post (23Abr2007) e que cito:

“(Já agora, para que não haja alarmismos injustificados: a actividade humana é responsável por apenas 3% das emissões de CO2, que por seu lado constituem apenas 20% dos gases de efeito de estufa; 70% são vapor de água.)

Aumento de temperatura e aumento de CO2 estão de facto correlacionadas e vão a par. Mas sempre foram! E o aumento do CO2 sempre se seguiu ao aumento de temperatura! A causa não é o Homem: é outra, que provoca ambas estas variações correlacionadas.
(…)
Os ciclos solares essenciais foram identificados em 2001, e têm sido confirmados independentemente, por vários métodos, desde então. Se for este o mecanismo de forçamento do clima, e portanto do aquecimento global, bem podemos tentar diminuir as emissões de CO2 à vontade: estamos a dar a resposta errada a um pseudoproblema. Temperatura e CO2 vão aumentar acompanhando a verdadeira causa, o aumento da actividade solar.

Correlação não implica causalidade.”

Para eventuais leitores deste comentário só terei a dizer que pessoalmente não o conheço, só deste blog, se refiro o citado artigo é porque o julgo muito válido para a abordagem séria do tema do aquecimento global, como tal será de toda a justiça citá-lo o que aliás tenho feito em comentários a notícias sobre a temática, em especial no jornal Expresso.

Nuno disse...

Não sou astrónomo, mas confio no consenso científico quanto a um sistema solar heliocêntrico, apesar de não o conseguir demonstrar.

Não sou Biólogo, mas confio no consenso científico quanto á Teoria da Evolução, apesar de não o conseguir demonstrar.

Não sou Climatólogo, mas confio no consenso científico de dezenas de organizações, academias científicas e publicações reconhecidas têm em torno da Teoria do Aquecimento Global Antropogénico (AGA), apesar de não o conseguir provar. Faço-o apesar das opiniões de bloggers e uma pequena parte da comunidade científica (num sentido mais abrangente do que apenas a Climatologia). Porquê? Porque quero tomar uma posição e escolho as fontes mais seguras sobre um assunto que não é da minha área de especialidade. A alternativa é não ter posição.

Estes emails desafiaram este consenso? O Dr. Domingos, climatólogo e cientista reconhecido pelos seus pares levanta dúvidas sobre a Teoria do AGA? Senti-me desafiado no meu apoio por isso fui voltar conferir as fontes científicas que considero de referência. Estas mantêm a tese do AGA após este episódio. O implicado directo afastou-se da sua posição académica e o seu trabalho vai ser revisto.Aceito este desfecho.

Porquê? Porque a alternativa a confiar nas instituições científicas e no seu trabalho sério é ter que fazer uns semestres (vários?) á Faculdade de Ciências e concluir por mim mesmo. Não tenho esta disponibilidade.

O problema REAL de toda esta questão e destes "cépticos" que aqui comentam (do tipo especial de cepticismo que já decidiu que é um facto, não uma teoria com um qualquer grau de probabilidade, que não exista um AGA) é este:

O público em geral não confia nas instituições científicas.

Confia nas teorias de conspiração, no Código da Vinci, no CERN que vai implodir o universo etc. etc.
Qual é a solução? Maior facilidade de partilhar a informação mais acessível (cientificamente) ao público, para não estimular a "imaginação".

A única coisa que prova este episódio é que há muito a fazer para estabelecer melhores pontes de confiança entre a investigação científica e o público. É uma das missões da Ciência esta capacidade de comunicação. É tragicamente ignorada, e muito pelos próprios cientistas atrevo-me a dizer.

Cumprimentos.

Miguel B. Araujo disse...

Caros,

Aqui fica uma desmontagem dos argumentos do artigo do Prof. Delgado Domingos:

http://ambio.blogspot.com/2009/12/climategate-resposta-delgado-domingos_06.html

Sugiro que a bem da equidade seja dada tanta visibilidade a esta resposta ao artigo em discussão como este que aqui se divulga.

Cumprimentos a todos,

Miguel Araújo

Rui leprechaun disse...

Só quem não percebe como funciona o processo científico é que pode dar credibilidade a este episódio...


Ó Rui Curado da Silva!

Mas que pseudo-explicação é essa, afinal?

Quem tenha um mínimo de conhecimento acerca daquilo que está envolvido nesse "truque dos dados proxy", logo reconhece que o Real Climate não disse da missa a metade, certo?

Ora vejamos:

it is well known that Keith Briffa's maximum latewood tree ring density proxy diverges from the temperature records after 1960

Em 1º lugar, esta datação de Briffa já foi à vida ou deu o que tinha a dar. Há novos aperfeiçoamentos importantes, que têm em conta outros factores para além da temperatura, mas isso agora não vem aqui ao caso.

A 1ª questão que se põe ao ler a afirmação anterior é logo a seguinte:

Mas se existe essa divergência após 1960, coincidindo com o aumento da temperatura registada, será que o mesmo não se terá verificado igualmente no passado?!

Ora, onde é que Real Climate, IPCC, CRU, NASA, mai-los doutíssimos climatologistas e subidos cientistas discutem e fundamentam essa hipótese? Ou ainda, por que razão haverá tal divergência SÓ a partir de 1960, de tal modo que não são aceites os dados proxy mais recentes mas se usam os antigos?

Claro que onde isto nos vai levar é ao Período Quente Medieval, óbvio! A notória e inegável falsificação das teses que pretendem sustentar um hipotético "aquecimento global antropogénico" data do espantoso gráfico "hockey stick", à revelia de TUDO o que era consensual na climatologia até à data.

É esse o cada vez mais famoso... por tristes razões... "truque" de Mann, na tal original multiproxy temperature reconstruction (...) to plot the instrumental records along with reconstruction so that the context of the recent warming is clear.

Este é o cerne da questão e de TODOS os diferendos ou a cisão, por assim dizer, que então se foi alargando na comunidade científica com os defensores e os cépticos do AGW.

É que só é possível sustentar o mito de que estamos num ciclo climático anormal, ou num pico de calor inaudito no último milénio, se for ignorada a realidade inegável do Período Quente Medieval, pelo menos no hemisfério norte, referida sem margem para dúvidas em múltiplos registos históricos. Este sim, é o verdadeiro truque e passe de mágica!

A mentira escandalosa do "hockey stick" não pode ser validada nem por todos os artigos "peer-review" do mundo, pois está baseada numa falsidade óbvia e sobejamente denunciada. Se os "dados proxy" não servem depois de 1960, por não reflectirem o aumento de temperatura, é claro que também não podem servir para a reconstrução do clima há muitos séculos atrás!

Claro que Rui Curado da Silva sabe isto muito bem, mas prefere usar a mesma velha técnica de propaganda que o Real Climate também ensaia no seu artigo: dizer meia verdade e esperar que os leitores sejam parvos ou fiquem ofuscados pelo brilho que emana da ciência dos impolutos sábios iluminados!

Termino ainda com este parágrafo final retirado do site Resistir, que dá a dimensão da gravidade potencial daquilo que pode estar a acontecer, fruto da patente desonestidade de muitos daqueles que dizem fazer ciência, incluindo também os que "branqueiam" truques e dão assim cobertura a grosseiras falsificações gritantes!

...toda esta imensa histeria global – que vai culminar amanhã, 7 de Dezembro, na Conferência de Copenhagem – constitui uma derrota para a Ciência. O cepticismo público que isto pode provocar é um crime sem par na história do pensamento científico. Não nos referimos apenas ao recente escândalo com os investigadores britânicos e americanos que aldrabavam estatísticas e censuravam os seus colegas nas peer review, o Climategate. É muito mais do que isso: é a possível desmoralização da própria ciência em geral, enquanto tal, abrindo caminho para o irracionalismo.

(continua)

Rui leprechaun disse...

So... think about it, porque a mentira ou a fraude NÃO compensam!

Ah! e os inquéritos à opinião pública comprovam justamente isso mesmo, o tal aquecimento está a arrefecer e muito, no meio do descrédito generalizado que todos estes episódios lamentáveis não podem deixar de provocar...

Antes ainda desta vergonha ser conhecida, um inquérito feito em Outubro, pelo Pew Research Centre, revelou que a percentagem de americanos que acreditam haver provas sólidas do aquecimento global caiu de 71% para 57% em apenas 18 meses. Outra pesquisa da prestigiada Rasmussen Reports mostrou que o número de eleitores americanos que consideram ter o aquecimento global causas naturais já supera aqueles que acreditam que é resultado da acção humana - 44% contra 41%.

Deixem as mentiras para os políticos, a Ciência só pode sobreviver se for servida por pessoas honestas, sem conluios subservientes que maculem a integridade do saber, que deve estar sempre acima do poder!

Rui Nunes disse...

Sempre houve fenómenos climáticos extremos. Quem defende o aquecimento global defende que hoje têmo-los com maior frequência. E na minha perspectiva isso parece-me evidente. Na perspectiva da estatística também: houve 8 cheias em 1960 no mundo inteiro, pouco mais em 1976, e um aumento progressivo a partir de então até 170 cheias em 2005. Agora tivémos as maiores de sempre no reino unido. Para os que defendem o aquecimento global, é inegável que meteorologia está a dar argumentos.

Nos anos 70 a temperatura média do planeta estava mesmo a baixar. Ora, quando se introduz nos modelos climáticos o efeito da actividade solar e outras influencias naturais eles também replicam esse mesmo arrefecimento; se não tiverem em conta a actividade humana, esse arrefecimento deveria ter continuado até hoje; mas se incluirmos a nossa actividade, eles replicam muito bem a progressão das médias anuais desde 1975 - aumentando). E se as médias de temperaturas dos anos 70 são úteis para os opositores do aquecimento global, porque as médias actuais, não são? Para o nosso Instituto de Meteorologia a média aumentou 1.2 graus desde 1930. Estará o IM a manipular os dados? A interpretá-los mal?


Pessoalmente afirmar que o Katrina se deveu ao aquecimento global é forçado. Mas ter visto, entre 2005 e este ano duas tempestades tropicais ao largo das costas portuguesas e 2004 os nossos irmãos brasileiros tiveram a visita do primeiro furacão no atlântico sul (dizia-se ser impossível?). Isto também me deixa a pulga atrás da orelha.

Afirmar que a ocupação humana vem acerbar as consequências dos fenómenos meteorológicos é bem verdade. Mas para mim não invalida a possibilidade de que os próprios fenómenos meteorológicos estejam a mudar a sua natureza pela lenta alteração do clima.

A natural variabilidade do clima é um facto. A minha temperatura corporal também é variavel ao longo das horas e dias. Mas um dia de febre não é, para nenhum de nós, "another day at the office". É sinal para agir (ou sinal de que o corpo está a agir). Ora falando de temperaturas médias do planeta, e para não questionar a afirmação de que a temperatura não aumentou desde 1998, peguemos então na média desse ano. Esse valor foi o mais elevado dos últimos 1000 anos (embora, penso, não a mais alta dos últimos 10 000 anos). Ao mesmo tempo vamos a caminho da concentração de dióxido de carbono atmosférico mais alta dos últimos 400 000 anos (e o aumento foi 200 vezes mais rápido do que neste período todo). Eu sei que os opositores desacreditam que o CO2 influencie a temperatura mas eu sigo a regra de Occam - opto pela explicação mais simples até encontrar outra melhor - a ciência sempre progrediu com base nesta simples regra. E se o fizer, a conclusão lógica é a de que é melhor fazermos alguma coisa e depressa!

Quanto aos ficheiros - se os opositores conseguem argumentar com dados concretos (como haver glaciares a aumentar e estudos isolados cujos dados apontam em direcções distintas da mainstream) quanto mais tendo na mão "emails" fora de contexto e escritos em linguagem coloquial. Esses mails não são ciência. Esta discussão é desejável (os opositores são importantes porque são o maior teste aos argumentos dos defensores) mas deve permanecer dentro das regras da ciência. E mesmo que os cientistas de East Anglia tivessem feito batota, não representam a restante comunidade científica mundial.

Rui Nunes

Allvesquita disse...

Sua ingenuidade científica é notável!

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