sábado, 6 de junho de 2009

Objectividade: invenção de professores

«Estamos no final da era da razão […]. Um novo período de explicação mágica do mundo está a nascer, uma explicação baseada mais na vontade do que no conhecimento. Não há verdade, nem no sentido moral nem científico […]. A ciência é um fenómeno social e, como tal, é delimitada pelos benefícios e malefícios que possa causar. Com o slogan de ciência objectiva, o professorado apenas se queria libertar da indispensável supervisão do estado. Aquilo que se chama crise da ciência não é mais do que esses senhores estarem a começar a ver por si mesmos o caminho errado a que foram conduzidos pela sua objectividade e pela sua autonomia».

Estas palavras, de tom apelativamente pós-moderno, são de Adolfo Hitler e quem no-las recorda é Gerald Holton, no livro A cultura científica e os seus inimigos, publicado entre nós pela Gradiva em 1998. Holton enquandra-as do seguinte modo (página 46):

“Num estudo clássico, Alan Beyerchen identificou (…) pilares fundamentais da ciência ariana. Encontramos aí temas que nos lembram desconfortavelmente aqueles que se encontram de novo na moda. Uma parte da ideologia associada à ciência ariana era claro, a de que a ciência é, como agora dizem, basicamente uma construção social, de modo que a herança racial do observador «afecta directamente a perspectiva do seu trabalho». Cientistas de raças indesejáveis, portanto não serviam; de preferência, deviam ser ouvidos apenas aqueles que estivessem em harmonia com as massas, o Volk. Mais ainda, esta visão völkisch encorajou o uso de não especialistas, ideologicamente seleccionados, como participantes em apreciações de assuntos técnicos (…). O carácter internacional dos mecanismos de consenso utilizados para chegar a acordo em questões científicas era também detestável para os ideólogos nazis. O materialismo mecanicista (…) devia ser banido da ciência e a física teria de ser reinterpretada como dizendo respeito ao espírito, e não à matéria. «Os aderentes à física ariana baniram assim da ciência a objectividade e o internacionalismo. […] A objectividade em ciência era meramente um slogan inventado por professores para proteger os seus interesses»

Em boa hora, nas comemorações do 65.º aniversário do desembarque das forças aliadas na Normandia, Barack Obama pediu que as lições desse desembarque não sejam esquecidas. E afirmou: "num momento de perigo máximo e no meio das circunstâncias mais terríveis, homens que se achavam normais descobriram que poderiam fazer o extraordinário".

Se se pensar bem, o extraordinário que esses homens, quase todos muito jovens, fizeram foi enfrentar a morte para salvar a Razão. Devemos-lhe isso e a obrigação de a manter viva, o que talvez seja a maior das lições que podemos retirar do Dia D.

6 comentários:

João disse...

Mais uns que queriam uma fatia da ciencia e moldar o resto de acordo com as suas necessidades ideologicas. Acabar com o materialismo cientifico, chamar ciencia só ao que convem... Não têm visto disso por aí?

Haddammann Verão disse...

Serviços e Intrumentos e frutos dos
púlpitos e palanques de desgraça civil.
E nós cara a cara com a veraz realidade de notícias (com vídeo) como a do "homem ensina criança a roubar e a matar", estupefactos vemos a mesma "disciplina" nos risonhos embustes, nos "tremendos" e arrogantes púlpitos de contenda, difamação e discórdia; disfarçados de coisa que presta. O vídeo parece com o da menina pastora louca ou aula da nazi-teo-pulhítica do Canalha-Mor que tá em Brasília.
Confiram: “dicirreba a cabeça dele, tú passá pu cima da cabeça dele” (No caso o ‘inimigo’ é quem não é ‘fiel’ de entregar a ‘vida’(?) e o dinheiro pras arssembréias desse tal de inferno, ou dos 'bueiros' de 'adoradores', e troços desse tipo).
Confiram: “Instruções” nas ruas dos currais do nazi-socialismo-divino dadas pelos acoluinhados e seus mandantes: “Tem que tocá o Foda-se”; “Tem qui chegá ni nós se não morre na praia”; “Si nóis não abençuá num anda”; “Tem que ser mercenário” (Pérola dum lugar que um dia foi exemplo da metarlugia); “Temu que vigiá por detrás da fréista da curtina, quem passa na rua e entra na casa do vizinho” (lição das ratazanas infurnadas nas assoc. de moradores a serviço dos ‘do bem’).
Confiram: “Internet é coisa do cão”; “Tem que vigiá os pedófilu”; “Tem que controlá” (Estão confundindo a Sociedade com o antro dos padres e pastores; estão tão afundados na mentira que pensam que ninguém vê como estão conduzindo a garotada pra disfarçar os currais dos elementos fichados de podridão).
Numa Sociedade em que exploram desgraças como a dum vôo de avião e a perda para fazerem marketing de religião; a ‘moral’ e o ‘respeito’ são armas do esperto contra otários; e só nos resta (a quem ainda pensa que presta como ser humano) o escrúpulo pessoal e a dignidade individual. Numa hora em que um (des)governo pulha incita a senzala-mista de TODOS a se esbaldar de euforia numa hora em que tudo indica o uso de reflexão, o que se pode esperar em termos de dignidade dum povo e duma nação?

Anónimo disse...

Bem, entre a peste e a cólera, os tais homens ou avançavam ou eram fuzilados por deserção.

Agora que os mandantes da guerra fossem iluminados pela Razão... Não supunha a Helena Damião tão ingénua ou simplista.

Alberto Sousa

Mário R. Gonçalves disse...

Muito bem! Cada vez gosto mais do vosso blog, pois partilho convosco muitos valores e pontos de vista. Esta do Hitler como precursor das mudanças de paradigma para uma perspectiva socio-misticista é genial. De facto a presidente do CNE tinha muito a ganhar se aprendesse História par não dizer tanta barbaridade.

Em dia de votações europeias, compreendamos melhor a história das idéias na Europa e das suas trágicas consequências, para não nos deixarmos levar de novo por ladainhas socio-misticistas que pululam nos meios intelectuais e de comunicação. Sobretudo, desconfiar de "novos paradigmas", eufemismo frequente para vigarice e prenúncio de ataque ao saber científico.

perspectiva disse...

ATOMISMO E CRISTIANISMO

Tito Lucrécio Caro, nunca reclamou, para os seus escritos, qualquer inspiração divina. No seu poema Rerum Natura, limitou-se a escrever o que pensava. Era um louco e suicidou-se.

Para ele, o Universo, a vida e o homem têm uma origem irracional. No caso de Tito Lucrécio Caro, o seu fim foi igualmente irracional.

A presença de informação codificada no núcleo da célula, em quantidade, qualidade e densidade inabarcáveis pela mente humana, refuta a sua visão do mundo.

O físico Paul Davies observa isso bem, quando pergunta:

‘How did stupid atoms spontaneously write their own software? … Nobody knows …"



Jesus Cristo, afirmou ser o Messias, o Filho de Deus. Ele disse que os céus e a Terra passarão, mas as suas Palavras nunca irão passar. Ele é o centro do Livro mais influente da história da humanidade. Era um Sábio, que morreu e ressuscitou.

Para ele, o Universo, a vida e o homem têm uma origem racional. No caso de Jesus Cristo, Ele não tem princípio nem fim. Ele é Razão eterna.

A presença de informação codificada no núcleo da célula, em quantidade, qualidade e densidade inabarcáveis pela mente humana, corrobora a sua mensagem.

Unknown disse...

Estou adorando o blog que conheci há pouco tempo. Achei muito desafiante o post. colocou-me para pensar sobre como podemos não nos dar conta dos usos possíveis de nossas teorias e crenças. E quão importante é estar sempre atento a que formas de vida podem nossos posicionamentos, sejam teóricos ou epsitemológicou ou quaisquer outros, sustentar.

CARTAS DE AMOR RIDÍCULAS

Ainda e sempre Eugénio Lisboa. Um dos sonetos que nos confiou. Alguns escritores, preocupados com serem muitíssimo escritores, sujeitam-s...