Poema de Eugénio Lisboa em memória de Rui Baptista:
ADEUS, RUI
À memória do meu amigo,
Rui Baptista, lembrando
África, Mafra &
outras safras!
Morre-se muito, na nossa idade,
Rui! A morte abusa da nossa
fragilidade,
e prega-nos grandes partidas,
com cínicas armadilhas escondidas:
por todo o lado, escorregadelas no
banho,
que nos fazem chorar baba e ranho,
estatelados em poses esquisitas,
gritando e fazendo tristes fitas!
Morremos de todas as maneiras,
sossegados, à sombra das bananeiras,
ou, no dia seguinte, acordando
mortos,
mas serenos, cheios de confortos.
Há mortes para todos os gostos,
Rui, e a nossa não é diferente:
morremos, às vezes, nos nossos postos
e outras, teremos, com sorte, uma
morte irreverente!
Tu morreste, Rui, como eu espero
morrer,
cheio de memórias africanas, tão
boas,
porque a África nos dava bom viver,
com um mar grande e frutas boas.
Devo-te, Rui, teres-me dado um
palpite
para o lugar onde passar a noite de
núpcias
um lugar na serra, habitado por
Afrodite,
onde fiquei, descobrindo doces
minúcias!
Fomos, Rui, ao longo dos anos,
conversando, concordando,
discordando,
mas ultimamente já não fazendo
planos,
porque o fim se vinha aproximando.
Se eu acreditasse no além,
pensaria em ali te encontrar,
para continuarmos em ameno conversar:
o muito magicar ensina-me, porém,
que, quando expiramos, é mesmo o fim:
mesmo não entendendo bem o nada,
tudo acaba, sei lá porquê, porque
sim:
o nada é apenas a vida dispensada.
Mas não vale a pena, Rui, ralar-nos.
Porquê, no fim de contas, preocupar-nos?
Será mesmo que vale a pena.
só porque vamos sair de cena?
O que fomos ficará algum tempo na
memória
de quem outrora muito amámos:
isto, depois, será pálida história
que se apaga como nós nos apagámos.
Eugénio Lisboa
1 comentário:
Poema lindíssimo, repleto de realismo, afeto e sabedoria. Não pude deixar de verter umas quantas lágrimas de saudade e impotência. Um abraço repleto de carinho e muita estima. Madalena Baptista
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