Meu artigo no "Campeão das Províncias":
A imprevisibilidade do voto
popular é um dos encantos da democracia. Viradas as urnas, há uma viragem clara
em Coimbra. A coligação liderada por José Manuel Silva, onde o PSD manda, “esmagou”
o PS, tirando o lugar de Presidente da Câmara, que parecia vitalício, a Manuel
Machado.
Há evidente mérito de José Manuel
Silva, que, eleito pelo Somos Coimbra em 2017, foi combativo na Câmara, e também
de Rui Rio, que o escolheu contra as estruturas locais do partido. A proposta
do PSD da transferência do Tribunal Constitucional para Coimbra (que eu apoio!)
foi uma boa cartada, que embaraçou o PS. Foi muito mais eficaz do que prometer
um aeroporto ou uma marina. E há um evidente demérito de Manuel Machado, que
pouco tinha para oferecer além de alcatrão nalgumas ruas e uns canteiros, e de
António Costa, que o apoiou, vindo a Coimbra dizer que só faltavam “700 metros”
(sic) para a nova maternidade. O presidente cessante foi, durante a
campanha, muito displicente. Sendo fraca a sua entourage, não fez a
renovação que se impunha.
A aritmética eleitoral é simples:
a coligação vencedora juntou os votos do PSD e do ex-Somos Coimbra, ao passo
que o PS continuou a sua trajectória descendente que vinha de trás. Coimbra mudou
porque estava saturada da arrogante governação do PS, que, ao longo de muitos
anos, foi deixando cair a relevância da Lusa Atenas no todo nacional. Há coisas
que podem e devem mudar e que estão prometidas pelos vencedores: facilidades camarárias
para o investimento, melhoria dos transportes, descentralização para as
freguesias, etc. Mas há outras que serão mais difíceis de mudar, até pela sua
ausência no programa, como a necessária mudança na “Capital Europeia da Cultura
2027” (que está sem elã), a maior atenção aos livros e bibliotecas (Coimbra não
tem Feira do Livro e tem uma biblioteca municipal abandonada) e o impulso à cultura
científica, ligando ciências e humanidades (o PSD não sabe o que fazer na rua
da Sofia e no sítio da Penitenciária).
Vamos ver como é que Coimbra vai ganhar
protagonismo no país, o que passa pela conjugação entre cidade e universidade.
Por exemplo, que propostas terá o PSD para a regionalização, além de albergar em
Coimbra o referido Tribunal? Será interessante ver o novo diálogo de Coimbra
com o governo central e com as demais cidades das Beiras, na indispensável construção
da região. Haverá suficiente habilidade política? Aos novos gestores de Coimbra
deve ser dado o benefício da dúvida. É tempo de provarem o que valem.
Quanto aos partidos menores, só o
PCP terá um vereador. Caiu em votos, tal como no resto do país. Os Cidadãos por
Coimbra caíram também: apesar de algumas boas propostas, não conseguiram sair
do nicho, livrando-se da sua ligação ao Bloco de Esquerda. A coligação
vencedora talvez precise dos Cidadãos na Assembleia Municipal. Por último, uma
palavra sobre a freguesia onde voto, Santo António dos Olivais: aí a
superioridade da coligação liderada pelo PSD foi muito mais acentuada do que no
concelho.
Coimbra virou. Ganhou a
democracia e tenho esperança que Coimbra e a região ganhem.
Carlos Fiolhais
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