quinta-feira, 2 de setembro de 2021

"Referências internacionais que podem, devem e têm de ser seguidas"

Apontamento na sequência de dois anteriores (acesso aqui aqui)

No Diário de Notícias de hoje, em papel e online, foi publicada uma entrevista ao Ministro da Ciência e do Ensino Superior, realizada pela jornalista Ana Meireles. Da extensa entrevista destaco as questões pedagógicas abordadas. Nada de novo no discurso do Ministro em relação ao que há escassos meses declarou ao jornal Expresso, com excepção do destaque dado ao empreendedorismo, uma referência internacional que, na sua perspectiva, "pode, deve e tem de ser seguida". Para quê pensarmos se existem essas sacrosantas referências que nos exigem obediência?
Defende que deve haver menos aulas teóricas e mais práticas... 

Até pode não haver uma diferença entre aulas teóricas e práticas. O que nós temos é um número muito grande, comparativamente a nível europeu ou internacional, do número de horas de contacto dos nossos estudantes. No sul da Europa, e em Portugal, no ensino superior um estudante tem no mínimo 22 horas de contacto, nalguns cursos ainda tem 26 horas. Isto é definido no quadro de autonomia de cada instituição. Sobretudo nas sociedades anglo-saxó­nicas, o número de horas de contacto é, maioritariamente, com professores e são de 14 a 16 horas. Portanto, são menos 30%. 
A ideia é cada vez mais ter ensinos presenciais, mecanismos de interação e aprendizagem ativa, com grupos de trabalho, com mecanismos de autoaprendizagem, mas com muita interação social, não necessariamente só em horas de contacto com os professores. Isso facilita integrar os estudantes em atividades de investigação e inovação, quer em estágios profissionais quer em estágios científicos. 
Passa, sobretudo, por uma adaptação gradual dos temas de aprendizagem e dos currículos, para uma maior integração da investigação e da inovação. Esse é um percurso que temos necessariamente de fazer, também, em articulação com o processo de acreditação dos cursos, o qual tem de ser sempre independente. A modernização curricular é um dos desafios importantes que a pandemia nos despertou. Se os outros usam 14 horas de contacto, ou entre 14 e 16, porque é que nós temos de usar 22? 
 
O Técnico, por exemplo, vai reduzir em 50% as aulas teóricas e a Nova vai implementar em todos os cursos cadeiras ligadas à programação e ao empreendedorismo. Acha que é algo que será seguido por outras universidades em Portugal?

São referências internacionais que podem, devem e têm de ser seguidas. Temos outras boas experiências internacionais de formas de ensino ativo, de trabalho de projeto, de ensino orientado para desafios, quer sociais quer científicos ou humanitários. E, por isso, cada vez mais sabemos que é preciso diversificar as metodologias de ensino. Não é apenas estando sentado numa sala de aula que se aprende, aprende-se de várias formas. Cada vez mais, também, com tecnologias digitais, e em colaboração interinstitucional, deve ser possível modernizar o sistema de ensino. E se é verdade que em Portugal já há boas práticas de ensino, continuam a persistir práticas que eu diria que são menos boas ou que são mesmo más práticas. 

E é algo para o qual tem sensibilizado as universidades?

O mais possível! E mais uma vez no Plano de Recuperação e Resiliência é critério de avaliação a modernização pedagógica. Um critério claro na avaliação das propostas é a necessidade de as instituições modernizarem os seus currículos e sobretudo os sistemas de ensino e aprendizagem.

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