quinta-feira, 8 de julho de 2021

MUDAR O ENSINO SUPERIOR À SEMELHANÇA DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO

Apontamento na continuação de texto anterior: As orientações da OCDE para a digitalização do Ensino Superior.

No jornal Expresso do passado dia 2, foi publicado um longo artigo, assinado por vários jornalistas, com o título Revolução em curso nas universidades: menos teoria, mais prática e ensino à distância. Resulta de um conjunto de entrevistas a altos responsáveis pelo Ensino Superior em Portugal. 

Destaco o estreito paralelismo que o seu conteúdo denota com as orientações da OCDE para o mesmo nível de ensino, recentemente divulgadas no relatório acima indicado. Paralelismo que coincide com as orientações/recomendações dessa (e de outras organizações) e com as políticas nacionais para os níveis de ensino básico e secundário

Em suma, a unicidade de princípios para "mudar" toda a escolaridade, proposta pela OCDE, tendo bom acolhimento em Portugal, transforma-se, progressivamente, em práticas nesses níveis de ensino e, agora, também no superior. Ideias como as que se seguem ilustram a afirmação:

  • A pandemia foi a oportunidade de acelerar a mudança que era preciso fazer no ensino e que não estava a acontecer muito por inércia das instituições;
  • Conseguir a transição digital que dará rosto a essa mudança: todos os agentes terão acesso, a todo o momento, a conteúdos digitais, sendo, portanto, necessário assegurar a existência de equipamentos;
  • Dar primazia às exigência do mercado para construir o currículo, o que deve ser feito, sobretudo com empregadores. Mas, em simultâneo, é preciso atender a necessidade e interesses dos alunos, que são diferentes dos de gerações anteriores, são nativos digitais;
  • Promover competências flexíveis, adaptáveis à mudança de emprego que acontecerá durante a vida e a empregos que irão surgir no futuro. Entre essas competências destacam-se as de empreendedorismo.
  • Assegurar o ensino ao longo da vida e a adultos que queiram ou precisem de voltar a estudar, criando cursos diversos e mais curtos;
  • Tornar os currículos flexíveis a diversos níveis: torná-lo menos pesado e mais aberto uma vez que se vê muito cheio e rígido; possibilitar a cada aluno desenhar em parte o seu próprio percurso académico;
  • Diminuir a carga lectiva dos estudantes, sobretudo de aulas teóricas. Eles não podem passar tanto tempo a ouvir o professor, têm de participar mais, têm de ser mais activos. Além disso, a informação está disponível em diversas fontes, que podem consultar livremente;
  • Tornar a pedagogia mais interactiva. A relação pedagógica estrutura-se ainda a partir da transmissão, é preciso transformá-la em colaboração (entre alunos e professores e entre os alunos). O que tem sentido no quadro de trabalho de projectos, de análise de problemas, etc.;
  • O acima dito implica a reconversão dos professores em termos de formação pedagógica e de capacitação digital. Além disso, há que prever a contratação de profissionais que os vão ajudar em novas tarefas;
  • Implica também a reestruturação das instalações: espaços mais restritos, funcionais para o trabalho em equipas, em grupos, devidamente equipados tecnologicamente. 

Trata-se, como se percebe, da já clássica narrativa do século XXI/do futuro, onde se destaca a uniformização de pensamento, no caso, económico, político e académico, vendo-se este a corroborar os anteriores. E, evidentemente, não falta o argumento TINA: não há alternativa a esta uniformização.

Para melhor se compreender esta síntese, transcrevo abaixo breves passagens do mencionado artigo, convidando o leitor a cruzá-las com o essencial do relatório da OCDE.

"Há uma transformação profunda a ser preparada no ensino superior: menos horas de aulas, lições gravadas e ouvidas à distância a qualquer hora do dia ou da noite, encontros presenciais na universidade sobretudo para discutir ideias e desenvolver projetos e cursos com currículos flexíveis, cada vez mais desenhados em função do mercado de trabalho e dos interesses de cada aluno. 
A revolução foi precipitada pela pandemia, mas tornou-se inevitável para responder às exigências de uma sociedade em acelerada mudança e de uma nova geração muito distinta das anteriores (...)
A ideia é criar um modelo de 'ensino híbrido', em que as aulas teóricas são disponibilizadas online e o tempo na universidade é reservado sobretudo para aulas práticas, discussão de ideias e realização de projetos, que dão aos estudantes um papel mais ativo no processo de aprendizagem (...).
'Antes, havia uma enorme desproporção de conhecimento entre aluno e professor. O aluno ia à aula porque a maneira mais rápida de adquirir informação era ouvir o professor, mas já não é totalmente assim. Hoje há uma grande quantidade de informação a que pode aceder de forma rápida, o que faz com que parte do que era a função docente, que era transmitir informação, se tenha tornado grandemente redundante. Se um estudante tiver de sair de casa para vir a uma aula minha a uma hora específica, para eu dizer aquilo que pode ficar a saber a qualquer hora, através do telemóvel ou do computador, vai pensar duas vezes antes de vir', justifica (...). 

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