quinta-feira, 22 de outubro de 2020

COIMBRA TEM MAIS ENCANTO NA HORA DA DESPEDIDA

Embora a Fisiologia, matéria de estudo do INEF, que muito me seduziu pela elegância de exposição do seu professor Tibério Antunes, antigo guarda-redes da Associação Académica de Coimbra, que foi meu meu amigo pessoal muito estimado até ao seu falecimento, depois de 25 de Abril. Foi ele meu arguente também da tese de licenciatura (1956), versando aspectos  da  fisiologia do mergulho de profundidade, tendo-me confirmado  o aprendido desde a minha  instrução primária, que o coração anatomicamente tem quatro compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos). Todavia, o meu coração afectivo docente tem apenas três compartimentos sem qualquer defeito de fabrico!

Um deles, os meus dezoito anos de docência na Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque, de Lourenço Marques, de que me orgulho de ter tido alunos ciosos do seu estatuto académico discente do antigo ensino técnico e da sua supremacia no campo de desporto escolar, longe de um tempo de choradinho igualitário que levou a unificar os antigos ensinos técnico e liceal na mescla de, nem carne nem peixe, do actual  ensino secundário. Outro no ensino médio na Escola do Magistério Primário de Coimbra, escola modelo na formação dos antigos professores do ensino primário. E um terceiro no ensino universitário, no ISEF da Universidade do Porto, por concurso nacional, e na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra como assistente convidado.

Porque o ser ou não ser tem o encanto ou desencanto da descoberta, longa e combativa  foi a luta pelo ingresso do INEF na Universidade Nova de Lisboa, que chegou a ser anunciada oficialmente antes de 25 de Abril, “tendo subido a pulso o caminho que o haveria de levar à  universidade”, segundo Roberto Carneiro”, uma das quatro escolas superiores extra muros universitários, a exemplo de Arquitectura de Belas-Artes, da Escola Superior de Estudos Superiores Ultramarinos, Escola Naval e Academia Militar. Finalmente, a Universidade de Coimbra, com o parecer unânime do seu Senado Universitário, criou a sua oitava e última faculdade, a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, em que  é da maior justiça referir o papel do então Reitor, Professor Rui de Alarcão, do  Professor de Medicina Poiares Baptista, do Professor de Farmácia Pinho Brojo e do Professor de Psicologia e Ciências da Educação Manuel Viegas  Abreu e, “last but not least”, seria lapso de memória imperdoável omitir o nome do Professor Jorge Bento, director da Faculdade de Ciências do  Desporto e Educação  Física da Universidade do Porto.

Aqui chegado, resta-me  dar notícia  do meu “coupe de foudre”, pela Academia de Coimbra, onde não cumpri nenhum plano de estudos de qualquer grau de ensino do ensino primário ao universitário, apenas em Luanda e Lisboa. Aconteceu este amor à primeira vista, por mero acaso, por me ter deparado na Net com a balada, salvo erro corria o ano 1993, desta academia intitulado “Coimbra tem mais encanto na hora da despedida”, da autoria de Fernando Machado Soares, com o Largo da Sé Velha  apinhada de milhares de estudantes em que, parafraseando o nosso vate  “que viu claramente visto”, senti claramente sentido, as provas de saudade e amizade dos seus muitos intérpretes  e assisti às lágrimas, caindo sem parar face abaixo, de despedida das margens do Mondego por parte das alunas finalistas da sua vetusta Academia numa mística difícil de descrever longe de idos tempos em que o traje académico obedecia a certas regras não como hoje em que as capas negras deixaram de esvoaçar ao vento por os rapazes trajarem calças e coletes pretos e camisas brancas e as raparigas saias pretas (valha-nos ao menos isso num tempo em que as saias foram trocadas por calças!) .

Bem sei que, regressando a Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, mas nem sempre pelos melhores motivos em que as modas se tornaram “démodé” e passados tempos passam a ser moda novamente. Também posso reconhecer que hoje, em que me tornei num “coimbrinha” dos quatro costados, a minha idade de quase nonagenário, me tenha tornado num velho jarreta  achando, em contramão em relação aos jovens do nosso tempo, ainda que remoçado com o calão da malta nova, de que antigamente era tudo "porreiro" ! Talvez sim, talvez não! 

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