domingo, 25 de outubro de 2020

Sistemas de ensino públicos e fins particulares


O texto que publiquei antes foi, devo dizer, substancialmente inspirado no que identifico acima, a partir de um recorte do jornal Público da passada semana (ver aqui). Nele, o seu autor, um professor residente em Inglaterra explica, com grande acutilância, como certos poderes se associam ao político para direccionar o currículo, para fazer valer os seus próprios interesses. De modo muito claro, servem-se dos sistemas de ensino públicos para fins particulares.

Eis o essencial da sua explicação:
[Em finais de Setembro], "o Governo britânico baniu das escolas todos os livros e materiais escolares associados à promoção do fim do capitalismo. Assim sendo, nas escolas não se deve ensinar ou promover princípios opostos a uma economia cujo objecto único e primordial é a obtenção de lucro, de capital (...). 
O mesmo capital responsável pela desregulação desenfreada do mercado de habitação, incluindo o fim da habitação social bem como o direito universal à mesma, obrigando milhares de famílias a viver, literalmente, na rua. O capital responsável pelo desemprego acelerado, ainda para mais em tempo de pandemia, o capital do fim dos sindicatos, o capital dos trabalhadores despedidos em catadupa e rapidamente convertidos em colaboradores com metade do ordenado, sem contrato nem direitos para além do direito a trabalhar (...). O capital onde só estuda quem tem dinheiro para uma educação privada e quem não tem dinheiro não estuda, não aprende, não pensa, assina de cruz para o resto da vida. O capital da saúde apenas ao alcance dos bolsos mais fundos (...). 
A reescrita do currículo escolar, o controlo primário e primitivo da informação a que os jovens têm acesso, começando desde logo pelo controlo dos professores e do ensino. Começando pelo controlo de quem ousa pensar. De quem ousa falar."

Vale também a pena ponderar na palavra em destaque no artigo a que me refiro: Bücherverbrennung

"em alemão, significa queima dos livros. Este é um termo associado à propaganda nacional-socialista na Alemanha de Hitler, à data responsável pela organização de grandes piras em várias cidades para a destruição de todos os livros críticos ou contrários ao regime vigente. O objectivo? Purificar a literatura de todos os elementos estranhos passíveis de alienar a cultura alemã."

Em complemento, deixo a referência de um texto assinado por Mattha Busby e publicado no jornal The Guardian de 27 de Setembro passado com o título Schools in England told not to use material from anti-capitalist groups (aqui

Sem comentários:

CARTA A UM JOVEM DECENTE

Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente .  N...