Meu artigo no Público de ontem:
“Auto” tanto pode ser uma peça de um processo judicial como uma peça de teatro. Os autos da Operação Lex fizeram-me lembrar o Auto da Barca do Inferno, que Gil Vicente escreveu em 1517. Neste último há um corregedor, carregado de papéis, que o diabo manda entrar na sua barca. O diabo, que é velho, não tem dúvidas em condená-lo por corrupção. Diz-lhe, misturando latim: “— Quando éreis ouvidor/ Nonne accepistis rapina? [não aceitastes subornos?]/ Pois ireis pela bolina/ onde nossa mercê for.../ Oh! que isca esse papel/ pera um fogo que eu sei!” Quando o juiz se defende – “Sempre ego justitia fecit [sempre fiz justiça]” –, o diabo responde: “— E as peitas [subornos] dos judeus/ que a vossa mulher levava?” O corregedor culpa a esposa: “— Isso eu não o tomava,/ eram lá percalços seus.” Surge depois um procurador, carregado de livros, que beija os mãos do corregedor e afirma: “— Eu mui bem me confessei,/ mas tudo quanto roubei/ encobri ao confessor... (...)
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https://www.publico.pt/2020/10/01/opiniao/opiniao/barca-inferno-1933436
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