“Há épocas de tal corrupção que, durante elas, só o excesso de fanatismo pode, no meio da imoralidade, servir de escudo à nobreza e à dignidade das almas rijamente temperadas”
(Alexandre Herculano).
Pedro Abrunhosa virou filantropo com o dinheiro dos contribuintes ao defender o aumento dos ordenados dos deputados da Assembleia da República.Perguntas que me
obrigo a fazer numa altura em que Portugal atravessa uma
grave crise financeira a ponto de “nuestros hermanos” estarem a pensar diminuir
o número dos seus deputados bem menor quando comparado com os nossos
deputados, medida que seria bem vinda para o nosso país pelas
respectivas implicações económicas.
Será que ele, Abrunhosa, julgue que os
vencimentos auferidos pelos deputados se reduzem à declaração feita para
efeitos de pagamentos de impostos sem tomar em linha de conta prebendas com seja o restaurante gourmet da AR
onde pagam por lautas refeições dez reis de mel coado? Ou o facto de serem subsidiados por morarem longe de Lisboa. Claro que se essa deslocação se fizer a pé,
nem que sejam simples metros de
distância, é um sacrifício que gasta
solas devendo ser bem recompensados por os sapatos da moda custarem os
olhos da cara. E isto para já não falar
no facto, ao que se diz, da AR ser um mercado rendoso de trocas de influências
e favores? Serão apenas as más línguas a falar? Mesmo que assim seja, com respaldo
num ditado latino, “à mulher de César
não basta ser honesta, tem que o parecer!”
Como é sabido, os artistas, por vezes, têm devaneios que a sua imaginação prodigiosa justifica. Pelo que deduzo, Abrunhosa com voz rouca de tanto gritar num mundo de lamúrias por justiça social chegue ao exagero de pedir o aumento de deputados, uns tanto deles, que se não fosse a política estariam no desemprego aumentando os cerca de 8% (ou mais?) de desempregados, alguns licenciados outros doutorados, conquanto Leite Pinto, ministro da Educação do tempo do Estado Novo, ter dito haver duas maneiras de mentir: "Uma é não dizer a verdade, outra fazer estatística".
Por hipótese, concedamos que os deputados ganham pouco tendo, quando escolheram esta “profissão miseravelmente paga”, prescindido de ordenados chorudos acenados de outras bandas. Então sim, o povo teria a obrigação de lhes dever eterna de gratidão pelo sacrifício devotado à causa pública!
Libertando-nos de situações meramente congemináveis, comunguemos do desânimo de Eça no século XIX.
“No meio de tudo isto que fazer? Portugal tem atravessado crises igualmente más, mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e caracter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não – pelo menos o Estado não tem - e os homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior – e sem cura”.
Resta-nos a ténue esperança que os raros homens, de que nos falava Eça, se os há neste século, apareçam à luz do dia sacrificando-se pela Pátria, embora a palavra pátria tenha entrado no rol das palavras indesejáveis na tentativa de refazer a História de Portugal de que dei conta num post, por mim publicado recentemente no “DRN” (28/09/2020), intitulado: “Texto de António Barreto para Meditação”. Meditemos, portanto, que a hora que o país atravessa assim o exige!
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