sábado, 24 de novembro de 2018

UMA TRISTEZA E UMA VERGONHA

Que infelicidade caiu sobre uma significativa parcela do nosso povo, que rejeita, com o sorriso da ingenuidade ou da iliteracia, tudo o que convide a pensar, a reflectir, com verdadeiro conhecimento de causa, sobre o mundo que o rodeia. Um mundo, tantas vezes, nas mãos de políticos incompetentes e oportunistas de que a nossa sociedade está cheia, onde, de há muito, impera o vírus do futebol profissional e, agora, o dos admiráveis, tentadores e universalíssimos smartphones.

Uma parcela que bebe toda a alienação que lhe é servida de bandeja por uma comunicação social, em grande parte, prisioneira de interesses ligados ao grande capital?

No que respeita o nível e exigência de ensino nas nossas escolas, não aprendemos nada com o ideal da Instrução Pública posto em prática na primeira República. No preâmbulo do Decreto de 29 de Março de 1911, lê-se
“Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria-prima de todas as pátrias”. 
Cidadãos, diga-se, no verdadeiro sentido da palavra, tal como os gregos antigos a criaram nas suas “polis” (as cidade-estado, como Antenas, Tebas, Esparta e outras) para referir os “polítikoi”, ou seja, os homens livres e iguais, verdadeiros protagonistas da “demokratia” (palavra construída a partir dos elementos “demós”, povo, e “kratós”, poder) que ali se viveu e onde a fomos buscar.

Foi, ainda, na Grécia que, por volta do século VI a.C., nasceu “philosophia”, outra palavra que anda na boca de toda a gente, mas que nem todos sabem que quer dizer “gosto ou amor pelo saber”, e que foi criada com base nos elementos “philo“ (amor, gosto, interesse) e “sophia” (saber, conhecimento).
Não são, pois, “polítikoi”, isto é, cidadãos no verdadeiro sentido da palavra, os mais de 50% de portugueses que se abstém de exercer o dever cívico votar, um acto elementar em “demokratia”.

Não aproveitámos nada da verdadeira liberdade, em democracia, que nos foi oferecida, de mão beijada, pelos capitães de Abril. Mais de quatro décadas, em que o “gosto pelo saber” foi institucionalmente substituído pela preocupação das estatísticas, visando o “sucesso escolar”. Recuámos, mesmo, em relação ao tempo de Salazar e Caetano.

Neste quadro decepcionante todos perdemos. Perdem os professores, maltratados e amarrados que estão a ditames que não controlam, perdem os alunos e, em consequência, perdemos todos e perde Portugal.

Uma tristeza e uma vergonha
“De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”. 
Palavras ditas de improviso, em finais de 2016, pelo Primeiro Ministro António Costa. vêm ao encontro do que ando a dizer há muitos anos.
A. Galopim de Carvalho
Lisboa, 18 de Novembro de 2018

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Professor Galopim de Carvalho,
O golpe militar de 25 de Abril de 1974 desencadeia-se, essencialmente, para permitir a exploração fácil das províncias ultramarinas portuguesas por parte das grandes potências estrangeiras, comunistas e capitalistas, arredando assim os portugueses brancos para um autêntico calcanhar da Europa, onde as riquezas naturais mais abundantes são as batatas, as castanhas em Novembro, o vinho e a cortiça para fazer rolhas!
É evidente que um pobre país que se vê despojado, do dia para a noite, das suas ricas províncias ultramarinas só pode ficar mais pobre!
Os comunistas revolucionários não se atrapalharam, porque partiam do princípio de que fazendo de todos os portugueses doutores seríamos em pouco tempo todos ricos!
O primeiro-ministro António Costa tem toda a razão quando atribui o nosso atraso à ignorância e ao desconhecimento, portanto o diagnóstico está certo. O pior foi quando os doutores da educação, das chamadas Escolas Superiores e do Ministério, aplicaram as suas políticas suicidas de um ensino sem qualquer exigência, vazio de conhecimentos, mas de caráter obrigatório até ao 12.º ano de escolaridade, virado quase exclusivamente para a apresentação de resultados estatísticos e gráficos muito coloridos que demonstram a excelência dos professores e alunos do Portugal democrático! Só que a montagem desta enorme farsa da Escola Inclusiva das Aprendizagens Essenciais acaba por ter custos financeiros muito mais elevados do que os da Escola onde se ensina e aprende. As desastrosas consequências estão à vista de todos!

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