quinta-feira, 29 de novembro de 2018

TURISMO DE NATUREZA E GEOTURISMO


Estive ontem, a convite da organização, no “Congresso, Ciência, Cultura e Turismo Sustentável”, a decorrer na Academia das Ciências de Lisboa e confirmei com satisfação que a Geologia, tão mal tratada que sempre foi no nosso ensino, começa a ter expressão a nível nacional, com destaque para a divulgação promovida pela Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica – Ciência Viva, através de alguns dos seus Centros de Ciência e do seu programa Geologia no Verão, e dos Geoparques da UNESCO em Portugal, onde a cultura geológica, a Geoconservação e o Geoturismo ganham visibilidade.

O texto que aqui trago hoje é uma adaptação actualizada do que publiquei no Jornal “Tempo Livre”, do INATEL, n.º 3, Jan-Fev, 2017, sob o título “Turismo de Natureza”.
Mais de mil milhões de turistas percorrem o mundo, fruindo o que cada um deles procura, gerando um potencial económico de valor amplamente reconhecido, nomeadamente, no emprego, no comércio, indústria e serviços que o suportam. 
Devido ao clima, à História, à cultura, ao bom acolhimento e à simpatia natural e espontânea do povo português, à gastronomia regional e, ainda, à sua posição geostratégica, Portugal é actualmente um dos destinos turísticos mais procurados. O número de turistas que anualmente recebe nunca foi tão grande. Só no primeiro semestre do ano que passou, bateu todos os recordes, com mais de 8,5 milhões. 
Entre as diversas motivações dos que nos visitam, debruço-me, em particular, sobre o Geoturismo (uma parte substancial do Turismo de Natureza menos divulgada) que, por razões ambientais, culturais, pedagógicas e económicas, entendo dever ser devidamente promovido. 
No Turismo de Natureza, em assinalável desenvolvimento no nosso país, compete-me, pois, chamar a atenção para a vertente geológica da natureza sempre arredada das preocupações e do conhecimento de quem decide nestas matérias. 
O convite oficial ao Turismo de Natureza que, naturalmente, inspira as agências de viagem, não deve ficar-se, pois e apenas, como tem sido a prática entre nós, pela observação da paisagem pela paisagem, sem terem conta o respectivo suporte geológico, ou da elevada diversidade de habitats naturais, com observação de aves e outras espécies.  
Territorialmente pequeno, Portugal tem grande diversidade geológica o que determina uma igualmente grande variedade geomorfológica e elevada diversidade de geossítios e geomonumentos, sendo insignificante o número dos oficialmente reconhecidos e classificados. 
Há, pois, que dar relevo condizente com as respectivas importâncias a ocorrências como, entre outras, o Complexo Metamórfico da foz do Douro, o Polje de Mira-Minde (Alcanena), as Pedras Parideiras, na Serra da Freita, as Buracas do Casmilo (Condeixa-a-Nova), o Vale do Lapedo (Leiria), a Conha de São Martinho do Porto, os Monumentos Naturais do Cabo Mondego, das Portas de Ródão e das Pegadas de Dinossáurio da Serra d’Aire e de Sesimbra, as de Vale de Meios (Santarém), ainda por classificar e proteger, o Campo de Lapiás da Granja dos Serrões (Sintra), a Arriba Fóssil da Caparica, a Pedra Furada em Setúbal, a Rota da Conheiras de Vila de Rei, a Livraria do Mondego (Penacova), o Pulo do Lobo, os Passadiços do Paiva, a Ponta da Piedade, em Lagos, a Discordância Angular da Praia do Telheiro (Vila do Bispo) e a grande e belíssima diversidade de geossítios e geomonumentos próprios da natureza vulcânica dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. 
Criado sob a égide da Comissão Nacional da UNESCO, em 2011, o Fórum Português de Geoparques Mundiais tem apoiado a entrada de Geoparques Nacionais que pretendam integrar a Rede Mundial de Geoparques. São membros deste Fórum, sob a coordenação da Comissão Nacional da UNESCO, o Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional, o Geoparque Arouca, o Geoparque Açores e o Geoparque Terras de Cavaleiros e outros em projecto. 
Tendo por objectivos promover o desenvolvimento de novos Geoparques em Portugal, fornecendo-lhe apoio técnico e científico, coordenando iniciativas conjuntas e avançando com projectos, tendo em vista a valorização do nosso património geológico, o Fórum Português de Geoparques Mundiais da UNESCO, com o apoio de alguns dos colegas da minha e de outras Universidades, é uma importante mais valia na incrementação, não só do Turismo de Natureza, em geral, como também da Geoconservação e do Geoturismo, em particular. 
Uma outra mais valia para a Geoconservação e o Geoturismo, com relevância científica e pedagógica, são os Centros de Ciência Viva do Alviela, de Estremoz, do Lousal, dos Açores e da Madeira.
A. Galopim de Carvalho

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