segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Educação e ciência: um mês da Fundação Francisco Manuel dos Santos

Meu texto da última newsletter da rede GPS (Global Portuguese Scientists):


No Mês da Educação e Ciência de 2019 da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) há duas dimensões: uma, à qual poderemos chamar horizontal, de educação, e outra, que poderemos designar vertical, de ciência. Precisamos nas nossas vidas de educação e de ciência. As duas estão ligadas intimamente: A educação transmite os conhecimentos e os métodos da ciência desejavelmente ao maior número possível de pessoas enquanto a ciência, que assenta na educação, pode estudar a educação e contribuir para a sua melhoria.
A educação chega às pessoas principalmente pela escola, o meio que a sociedade quis  privilegiar para assegurar o seu futuro. A ciência chega às pessoas, no seu dia-a-dia, através da tecnologia. Mas a ciência é muito mais do que a tecnologia, pelo que os elementos básicos da ciência devem chegar às pessoas através da educação, tanto formal, na escola, como não formal, pelos media e outros meios de divulgação. No mundo de hoje, onde as condições de vida são determinadas pela ciência e tecnologia, mas onde a educação não conseguiu vencer uma ignorância muito disseminada, há que repensar a educação e a ciência para as ligar melhor. Esse deve ser um esforço não apenas de uns quantos, mas de todos.
A FFMS escolheu um conjunto de temas actuais de educação e de ciência e entrelaçou-os num programa coerente. Um ponto alto do programa será a Conferência GPS. A ciência é internacional, mas a ciência portuguesa é aquela que é feita por portugueses em Portugal ou no mundo. A FFMS convidou três cientistas portugueses da rede GPS, a falar sobre os humanos do futuro (Humanos do Futuro, Aveiro, 14/11). Não sabemos como serão, mas sabemos que a ciência dará algumas respostas. Diana Prata falará da inteligência artificial para fazer diagnósticos mais precisos de doenças neurodegenerativas. Sílvia Curado traçará o caminho da genética à medicina personalizada. E Joana Magalhães contará como a medicina regenerativa poderá ajudar no tratamento das doenças reumáticas.
Na área da ciência, depois de em anos anteriores termos coberto as áreas da matemática, física, biomedicina e psicologia, a Grande Conferência de Ciência, dirigida ao público geral, estará a cargo de um eminente professor de Química da Universidade de Oxford, Peter Atkins, que falará sobre o Universo (Pensar o Universo, com os olhos da Química, Lisboa, 9/11), acompanhado por Zita Martins (uma cientista GPS) e Carlos Romão.  Será lançado o seu livro Como surgiu o Universo, sobre o papel da ciência em questões que costumavam ser filosóficas: De onde vimos? Como foi o início de tudo? Como se passou do nada para o ser?
Apesar de Darwin não ter ido à Madeira, esta ilha contribuiu muito para a sua obra Origem das Espécies. Os biólogos Nuno Ferrand e Thomas Dellinger apresentarão, com a moderação de David Marçal (coordenador do GPS), a relação entre o cientista e a “pérola do Atlântico.”  A sua  conferência (Darwin na Madeira, Funchal, 16/11) será uma boa oportunidade para divulgar e discutir a teoria da evolução.
Na educação discutiremos a matemática na escola, designadamente do currículo que deve ser ensinado a todos (Ensinar matemática: importância do currículo, Lisboa, 20/11). O especialista americano em ensino da matemática William Schmidt e os presidentes da Sociedade Portuguesa de Matemática e da Associação de Professores de Matemática falarão das tendências mais recentes, tanto nos conteúdos de matemática como na sua exposição, e dos seus impactos na aprendizagem. 
Na Grande Conferencia de Educação, o famoso educador americano Eric D. Kirsch, autor de As Escolas que queremos: e porque não as temos, falará sobre conhecimento e escola na era da informação (Conhecimento, escola e era digital, Lisboa, 23/11). 
Na fronteira entre ciência e educação, analisaremos os contributos que as neurociências trouxeram à pedagogia. As neurociências têm conhecido enormes avanços nas últimas décadas e as suas aplicações aos processos de ensino e aprendizagem têm levantado numerosas questões. Uma conferência (Neurociências e educação: mitos e evidências, Coimbra, 19/11), com os neuropsicólogos José Morais (um cientista GPS) e Joana Rato, ajudará a esclarecer.
Por último, como afirmou Carl Sagan, o nosso mundo, apesar de baseado na ciência, está cheio de ignorância. Para enfatizar a distinção que importa fazer entre ciência e pseudociência um convidado especial estará  o médico britânico Ben Goldacre, o autor do best-seller Ciência da Treta (Ciência ou pseudociência?, Viseu, 6/11). Estarei com ele. 
Educação e ciência: precisamos das duas, juntas, o mais juntas possível!
Carlos Fiolhais
Coordenador do Mês da Educação e da Ciência da FFMS

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