sábado, 3 de novembro de 2018

"Só pode ensinar quem sabe"

Vale a pena ler o artigo sobre o actual momento de formação contínua de professores, assinado por Paulo Guinote, intitulado "Formação ou propaganda?" e saído no último dia do mês de Outubro no jornal Público. A terminar diz:
 A “formação” passou a confundir-se com uma variante de comício, com direito a discursos sem contraditório e aclamação de pé, a menos que se aspire ao index local. A par da proletarização docente, aposta-se numa desqualificação profissional, desprezando-se a actualização dos conhecimentos científicos, de acordo com uma ideologia que volta a promover um pretenso saber “holístico” em construção. Associada à ruptura geracional que já se verifica no recrutamento docente, esta opção terá graves efeitos a médio prazo. Porque, ao contrário de certos chavões simplistas, só pode ensinar quem sabe.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou plenamente de acordo com esta análise - original, sintética e desempoeirada -, que o Doutor Paulo Guinote faz da formação contínua dos professores. Pela minha parte, à problemática, de contornos "históricos" recentes, da "proletarização docente", "da desqualificação profissional" e da máxima retrógrada "só pode ensinar quem sabe", ajuntaria a abjeta Carreira Única dos Professores do Ensino Básico e Secundário e dos Educadores de Infância como mais um dos principais fatores do aviltamento completo dos professores que têm a infelicidade de nunca terem lecionado em escolas do 1.º ciclo, nem em jardins de infância!
O que está em causa é muito mais grave do que "só pode ensinar quem sabe": as autoridades governamentais, não contentes com as experiências desastrosas do ensino recorrente, das novas oportunidades e do ensino profissional, antecâmaras da pouca vergonha que são as Aprendizagens Essenciais da Escola Inclusiva, já não perdem tempo com disfarces, maquilhagens e "melhorias das aprendizagens", proclamando, à cidade e ao mundo, o sucesso educativo obrigatório para todos. Se os filhos das classes mais desfavorecidas, em sentido lato, não se sentirem confortáveis com uma ou outra coisa que se ensina e aprende na escola, a solução óbvia é deixar de ensinar e aprender o que é um bocadinho difícil e fazer de todas as escolas paraísos inclusivos.
Os alunos, há uns anos atrás, achavam aborrecido estudar diferentes tipos de movimento na cinemática. Pois bem, os "cientistas da educação" propuseram logo uma estratégia infalível de contornar essa dificuldade: os professores, em vez de lecionarem, com rigor e exigência, o assunto "difícil", deviam seguir os novos programas e fazer de conta que ensinavam o GPS, cujo estudo sério envolve relatividade e física quântica, só para manter as aparências...! Agora, como o sucesso educativo está garantido, já nem é preciso GPS!

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