segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Votos de Boas Festas: Como educadores, temos de construir a esperança


"... em todas as profissões, 
quando não as exercemos por dinheiro, mas por amor,
chega um momento em que o avançar dos anos 
nos parece levar a um vazio."
Robert Musil, O homem sem qualidades.

"A educação é (…) onde decidimos se
amamos as nossas crianças o bastante para não as expulsar
do nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, 
nem lhes arrancar das mãos a oportunidade
de realizar alguma coisa nova e imprevista.”
Hannah Arendt, A condição humana.

“…a breve prazo sou pessimista… a longo prazo muito optimista, 
tal como poderia ser um homem que tivesse ideias sobre o futuro 
na altura em que fechou a Escola de Atenas, 
em que acabou o tipo de ensino ou de estudos greco-romanos.” 
Agostinho da Silva, Vida conversável.


Gostaria de deixar aqui, neste final de um estranho ano (não só, mas também) para a Educação, os meus votos para o ano que daqui a minutos aí estará, e que são inspiradas nos comentários dos Leitores ao meu post "Treinei-me para deixar de sentir" ou quando a Escola se desumaniza.

Entendo que fazer votos significa desejar que alguma coisa se realize e, em simultâneo, empenhar-se para que essa coisa se realize. Não é, ou não deve ser, uma simples declaração; deve ser uma atitude investida de busca.

Então, os meus votos são os seguintes: que a Escola Pública se (re)construa, possibilitando o acesso ao aperfeiçoamento humano.

Essa finalidade última, que parece não se vislumbrar em nenhum horizonte, requer professores e directores que não "abandonem" as crianças e os jovens aos seus próprios recursos, que não as "expulsem" do mundo fabuloso que é o pensamento académico. Palavras de Hannah Arendt.

Sabemos (a investigação apresenta-nos dados credíveis) que os melhores professores e directores estão esgotados e tristes, um sentimento de vazio perpassa as suas vidas. Talvez seja a idade e as contas a que ela obriga, ou o grande esforço que fazem todos os dias e que vêem desfazer-se como fumo. É a hipótese de Robert Musil, que eu não quero que esteja certa. A idade mais avançada e o amor de que fala, tal como Arendt tem de ser uma mais valia, é preciso que a procurem algures em si, pois as novas gerações dependem substancialmente dela.

Temos de ser (muito) optimistas, não idiotamente mas lucidamente. Lucidamente, como Álvaro de Campos. E talvez a longo prazo, como recomenda Agostinho da Silva.

Mas, como educadores não podemos perder a alma. Se deixarmos que isso aconteça, arrastaremos aqueles que dependem de nós. A nossa responsabilidade é grande demais!

Nota: Não, não falo dos políticos, nem dos investigadores, nem da sociedade... Não vale a pena. A educação pública tem de voltar à escola, à sala de aula, aos professores e aos alunos. É aí que reside a esperança.
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Referências bibliográficas:
- Arendt, H. (1957/2006). A crise na educação. In H. Arendt. A condição humana (pp.183-206). Lisboa: Relógio D’Água. 
- Musil, R. (2008) O homem sem qualidades. Lisboa: Dom Quixote, p. 45.
- Silva, A. da (1994). Vida conversável. Lisboa: Assírio e Alvim, p, 175.

"A biodiversidade e nós". Cartão de Boas Festas de Jorge Paiva de 2018

No final de um ano muito difícil para o Planeta Terrestre, partilho mais uma vez com os Leitores o postal de Boas-Festas que recebi do meu Amigo Jorge Paiva.
Muitos conhecerão o seu trabalho e empenho altruísta em prol do Mundo: físico, natural e humano. As suas palavras não são, pois, apenas palavras. São o resultado de uma vida de estudo. São palavras de quem sabe. Devemos dar-lhe atenção.

Os humanos (género Homo) surgiram (2,8 - 2,75 Ma) quando havia o máximo de Biodiversidade no Planeta Terrestre e numa região africana de elevada Biodiversidade. Dependemos, pois, não só das outras espécies como, também, do maior número possível delas. 
Quando a nossa espécie (Homo sapiens) saiu de África, deslocando-se para regiões de menor Biodiversidade (NE de África e SW da Ásia), domesticou animais, plantas e outros seres vivos (fungos, etc.) e reproduzi-os para se alimentar e para outros fins (animais de carga, de sela, de companhia e plantas para construção, mobiliário, lenha, medicinais, têxteis, etc.). 
Assim, a maioria das pessoas considera que só é portante preservar os seres vivos que nos são úteis. Este tem sido um clamoroso erro, pois constantemente se descobrem utilidades de seres que menosprezamos e até seres venenosos e letais (ex. teixos e víboras). 
Desta maneira, temos vindo a promover a extinção de muitas espécies por julgarmos que não nos são úteis ou por lhes destruirmos os ecossistemas. 
Um exemplo recente disso, é o que está a acontecer com os leões (Panthera leo). Há fósseis da subespécies de leões, extintas há cercade 10.000 anos, que testemunha, a sua ocorrência no continentes Norte-Americano (Panthera leo subsp. atrox) e no Continente Euro-asiático (Panthera leo L. subsp. fossilis). Porém, no século IV a.C. ainda existiam leões na Europa (Panthera leo subsp. atrox), como refere Aristóteles, na sua História dos animais ("Na Europa inteira só há leões entre os rios Aqueloo e Nesso", isto, no Nordeste da Grécia, entre a Acarnância e a Trácia). 
Esta subespécie que se extinguiu na Europa durante o século II d.C., ainda hoje existe em África na região ocidental do Rift (África Central e Ocidental) e na Ásia, no Parque Nacional da Floresta de Gir (Gujarat, Índia). No Norte de África o último exemplar foi morto no Atlas (Marrocos) em 1920. A outra subespécie ainda existente (Panthera leo subsp. melanochaita) ocorre na África Oriental e do Sul. 
Actualmente há apenas cerca de 400 leões na Ásia e 20.000 em África. 
Façamos votos para que a época festiva do final do ano ilumine a consciência de todos nós de modo a pressionarmos governantes e políticos a assumirem o compromisso de preservar a Biodiversidade.
Jorge Paiva, 2018.

BOM ANO DE 2019!


Venho desejar um Bom Ano de 2019 enviando o cartão do RÓMULO (de Rómulo de Carvalho = António Gedeão) com a tradicional árvore de Natal, feita inteiramente com livros de história militar.

Em 2019 vamos celebrar grandes génios: Leonardo da Vinci (2 de Maio, 500 anos da morte), Fernão de Magalhães (10 de Agosto, 500 anos do início da viagem de circum-navegação), Dmitri Mendeleiev (6 de Março, 150 anos da Tabela Periódica) e Albert Einstein (29 de Maio, 100 anos do eclipse que o consagrou). E a 20 de Julho passarão 50 anos sobre os  primeiros passos do homem na Lua (Neil Armstrong).

Cito Júlio Verne: "Nunca se fez nada grande sem uma esperança exagerada."

MEU PREFÁCIO AO LIVRO "O ÍNDIO QUE QUERIA CONHECER O MUNDO"



Meu prefácio ao livro infantil passado no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e publicado em edição de autores por Ana Cristina Tavares e Gilberto Pereira:

Um museu é um lugar mágico. Entramos neles como quem entra numa “máquina do tempo” para visitar o passado e saímos deles mais preparados para viver o futuro. O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra é um sítio extraordinário de memória da ciência, ao reunir colecções tão ricas e variadas como as do Laboratorio Chimico, do Gabinete de Física Experimental e da Galeria de História Natural. O visitante sente-se transportado ao século XVIII, quando a ciência experimental já tinha sido criada como meio de descobrir as leis da Natureza e as colecções de História Natural se acumulavam à espera dessa grande síntese que haveria de ser, no século XIX, a teoria de evolução de Darwin. A ciência, baseada na experimentação, na observação e no raciocínio lógico, afirmava-se nessa época como uma nova maneira de ver o mundo. Depois de sairmos do Museu da Ciência também nós passamos a ver o mundo com outros olhos: o mundo é maravilhosamente variado, mas é possível, com o método da ciência, descrevê-lo e compreendê-lo.

A história deste livro de Ana Cristina Tavares – uma botânica cuja sensibilidade literária para transmitir a ciência já nos tinha proporcionado o livro “A Alga que queria ser flor” - e de Gilberto Pereira – um químico que cuida com carinho das colecções museológicas - , passa-se no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Duas máscaras indígenas – uma masculina de Angola (Mukixi) e outra feminina do Brasil (Tikuna) – das colecções do Museu encarnam em personagens humanos que vão passear pelo museu à noite. E, porque há muito a descobrir no Museu, vão ter imensas surpresas. Os índios, dos dois lados do Atlântico, vão conhecer o mundo. Cito: “Teve uma ideia brilhante: para conhecer muitos mundos de uma vez e novas vidas, animais, plantas, conchas, instrumentos, ambientes, lições, livros, experiências, canções e outras tantas novidades e tesouros, nada melhor que entrar nas outras salas do grande Museu!” O Museu é para eles, como para qualquer visitante, um sítio de deslumbramento. O olhar encantado com que descobrem instrumentos, animais e plantas na gigantesca arca do tesouro onde antes estavam adormecidos pode ser também o nosso se, levados por este tão convidativo livro, quisermos entrar no Museu. Há histórias incríveis, mas verdadeiras, à nossa espera como a da coroa real que é um íman, a da planta de uma época geológica recuada, a do grande esqueleto de baleia onde podemos ser Pinóquios, ou a de um lince sobre o qual paira a ameaça de extinção.

Bela história, belo livro! Oxalá este livro – que combina a imaginação literária da Ana Cristina Tavares com o original estilo gráfico do Gilberto Pereira, juntando-se a arte dos dois ao seu conhecimento científico – sirva de inspiração a educadores, para que eles, com os seus educandos, se deixem, tal como os índios, maravilhar pelas histórias que o Museu conta. As crianças são naturalmente curiosas e os educadores só têm que dar asas à curiosidade infantil. Não é preciso muito: é preciso apenas, como os índios, decidir entrar na aventura do conhecimento.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Adira à nova moda: implante um "microship". É tão fácil e rápido como fazer um piercing!

Numa notícia da Euronews de ontem, passada na RTP, dizia-se que a implantação de microchips no corpo humano é, agora, além de uma questão de comodidade, de funcionalidade, de utilidade, uma questão de moda.
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Imagem recolhida aqui.
Na breve notícia  não se percebeu nenhum sobressalto na voz muito técnica de quem a leu, não se deu conta de nenhuma interrogação da parte de qualquer entidade e também não se introduziu nenhum comentário especializado. Apenas a declaração inequívoca e airosa de que o apetrecho garante destaque social, o que se torna tanto mais convincente por ser ilustrada com gente sorridente, jovem e bela.
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É moda, sublinho, na Europa, continente onde a escolaridade obrigatória anda pelos dez anos ou mais, onde se tem acesso fácil a livros, jornais, internet. Acresce que tanto os implantadores como os implantados parecem ser de um nível cultural, académico e social médio ou acima disso. Estes dois aspectos tornam ainda mais desconcertante a ausência de um toque de apreensão por parte dessas pessoas, já nem falo em crítica... É certo que os microchips também ganham adeptos na América, do Norte e do Sul, e na Oceania, mas é da Europa que me centro.

Parece que Estocolmo, com todo o seu conforto material, é, neste final de 2018, a cidade como mais "microchipados": o número, que vai para 4.000, subiu rapidamente nos últimos meses e espera-se que assim continue.

Abrir portas, usar computadores e impressoras, substituir bilhetes de transportes públicos, fazer pagamentos da mais diversa ordem, substituindo o cartão bancário, e monitorizar o funcionamento do corpo a todo o momento estão entre as grandes e maravilhosas vantagens apontadas aos microchips, além que não são caros e certas empresas têm a "amabilidade" de os oferecer. 

Há outros argumentos mobilizadores, talvez ainda mais potentes. Quem resiste a estes dois: "é como colocar um piercing", "não ter o microchip é estar ultrapassado"?

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Textos consultados: aquiaquiaquiaqui e aqui
Textos que escrevi antes sobre o assunto: "Tecnologia e dignidade. Aplicação de microchips em pessoas"aqui, aqui, aqui e aqui.

sábado, 29 de dezembro de 2018

"Treinei-me para deixar de sentir" ou quando a Escola se desumaniza.

Do Inquérito Nacional sobre as Condições de Vida e Trabalho na Educação em Portugal (2018), que antes comentei (aqui), retirei um depoimento de uma professora. Quem está no ofício, ou próximo dele, não encontra, infelizmente, nele qualquer novidade. É um depoimento que se repete por parte dos melhores professores, daqueles que, apesar de tudo, mantêm o ideal de ensino... até um dia, em que, não podendo continuar, desistem.
«A Escola sempre foi para mim um lugar de prazer onde me sentia mais inteira e mais eu. Onde encontrava o sentido para a vida. Na minha primeira escola, em terras africanas, descobri as outras crianças, as alegrias do recreio, as argolas, o trapézio e os baloiços. Nas carteiras da 4.ª classe, descobri o futuro que havia em mim. Logo ali disse que iria ser da História. Era a história narrativa daqueles primeiros anos que me prendia e me fascinava. Mais tarde, em Lisboa, reforcei essa vocação nas aulas de professoras que usavam métodos exclusivamente expositivos, hoje considerados ultrapassados, mas que me prendiam pela palavra. Também nos livros juvenis de ficção histórica, cuja trama me transportava para a Grécia Antiga e para as outras civilizações. 
Muitos anos se passaram. O futuro chegou e confirmou os sinais iniciais. Estudei História em três universidades de Lisboa (Clássica, ISCTE e Nova). Tornei-me professora de História. Comecei a dar aulas de História no dia 11 de abril de 1975, na Escola Comercial Veiga Beirão, num espaço que se tornou histórico na minha vida pessoal e na vida do país, o Largo do Carmo, em Lisboa. Foi ali que caiu a ditadura e chegou a liberdade. Tinha 21 anos e fui dar aulas a alunos de 16 a 18 anos. Era para ser apenas um trabalho provisório, enquanto não descobrisse outra ocupação. 
Militantemente, preparei uma aula cheia de ideias progressistas sobre a evolução humana e o papel da História. Os meus alunos não se interessaram. Só queriam saber quem eu era. Pediram-me que falasse de mim e falaram deles próprios. Cinquenta minutos depois, estava conquistada. Ali nasci como professora. Naquele momento, soube que era numa sala de aula repleta de alunos que eu gostaria de passar o resto da minha vida. Nunca esqueci os rostos desses primeiros alunos e a memória dessa primeira aula é uma das mais nítidas da minha vida. 
Passei por escolas em Grândola, Montijo, Amadora, Linda-a-Velha, S. João do Estoril e Paço de Arcos. A escola continuou a ser para mim, já como professora, um espaço de imenso prazer. O mês de setembro surgia, ano após ano, cheio de expetativa. Eram os novos alunos que chegavam. O novo desafio, todos os anos renovado, de conhecer as turmas, limar comportamentos, ganhar os alunos pelo interesse, motivá-los para o trabalho, envolvê-los em atividades extracurriculares interessantes, vê-los crescer ao longo de três anos letivos, do 7.º ao 9.ºano ou do 10.º ao 12.ºano. 
Foram 38 anos. Quase todos felizes. Só nos últimos deixei de sentir a alegria de cada começo e só esperava que chegassem ao fim. O cansaço, o desgaste, a desilusão vieram substituir a adrenalina que nascia todos os anos no mês de setembro. A escola mudou. 
Primeiro foi a imposição do eduquês. Depois, a proliferação de disciplinas que só serviam para uma compartimentação desnecessária do saber e para aumentar a carga horária dos alunos e o peso das suas mochilas. Simultaneamente, assistiu-se à desautorização sistemática dos professores perante muitos atos de indisciplina dos alunos que as direções desvalorizavam e deixavam avolumar-se. Nunca cedi perante o que passou a ser politicamente correto e sempre consegui, na sala de aula, o respeito dos alunos, prendendo-os à minha palavra, envolvendo-os no trabalho e nunca admitindo comportamentos menos apropriados. Como todos os professores, tive que me adaptar às novas tecnologias da informação e, depois das primeiras tentativas frustrantes, aderi com entusiasmo vendo o benefício que delas retirava na construção de materiais pedagógicos que davam mais cor e vivacidade às aulas. 
Depois, tudo piorou. Foi o princípio do fim. Chegou uma ministra que se gabava de não ter o apoio dos professores para as reformas que desejava implementar na educação. Começou por pôr “ordem na casa”, através de um concurso para titulares que dividia a carreira docente em professores de primeira e outros de segunda. A luta dos professores conseguiu acabar com tal aberração. Depois, em nome da qualidade, impôs uma malfadada avaliação, marcadamente injusta, que classificou os professores a partir de quadros, grelhas e relatórios com um número infindável de parâmetros que era preciso satisfazer. 
Uma avaliação mecanizada e que mecanizou os professores, esquartejando o seu trabalho, em detrimento de uma avaliação holística apoiada no bom senso. Detestei ver a minha atividade não letiva ser avaliada por colegas de outras áreas disciplinares que encaravam a Escola de uma forma diferente da minha e, também eles, vítimas de uma avaliação que privilegiava a quantidade em detrimento da qualidade. Para exemplificar, montar uma colorida árvore de Natal tinha o mesmo valor pedagógico que organizar uma semana de debates para comemorar o 25 de Abril. Era UMA atividade e por isso tinha o mesmo peso nos quadros de avaliação. Detestei avaliar colegas através de grelhas que eu tinha imensa dificuldade em preencher de modo a não os prejudicar. Reconheço que a avaliação é necessária, mas não aquela que nos foi imposta. Teve ainda o efeito de estragar definitivamente o ambiente nas escolas, semeando a divisão e desconfiança entre professores que eram obrigados a avaliarem-se entre si, na corrida pelo Excelente e Muito Bom que, mesmo obtido, podia não levar a lugar nenhum. 
Depois, chegaram as aulas de substituição para as quais nunca vi nenhuma utilidade. Numa sociedade onde a cultura do trabalho e do esforço são muito ténues, a ideia de obrigar 20 a 30 alunos a retirar utilidade de aulas com professores substitutos nunca colheu adeptos. Não lhes reconheciam autoridade e tentavam boicotar qualquer trabalho tentado. Ninguém queria revisões de História quando o professor que estava a faltar era de Físico-Química, para exemplificar. Poucos queriam aproveitar o tempo para estudar. Sonhavam com o furo que lhes dava mais um tempo saboroso de recreio. As direções, para ultrapassar o problema, obrigavam os professores que faltavam a deixar fichas para os alunos fazerem, levadas pelos professores substitutos. Como não se sabia quando se ia faltar, além do trabalho letivo, da burocracia e das reuniões sucessivas, todos os professores eram obrigados a criar uma bateria de fichas prontas para serem aplicadas. Tal como os alunos, também os professores não aderiram a estas aulas fictícias que, face às vicissitudes inerentes, desvalorizavam ainda mais o seu trabalho, transformando-os em entertainers
Muitos sentiam perder dignidade e eram humilhados pelos alunos. Muitas depressões tiveram origem nessas aulas de substituição. No meu caso concreto, tentei todas as estratégias: abordar assuntos de interesse geral, passar filmes, organizar jogos, distribuir as tais fichas. Sentia-me usada e mal aproveitada pelo sistema, e também desrespeitada pelos alunos, o que nunca acontecia com os meus alunos, nas minhas aulas de História. Acabei por desistir. Deixava-os estar à vontade na sala. Podiam estudar, conversar, ouvir música. Só não podiam fazer muito barulho para não prejudicar as outras salas. Quando fazia bom tempo, levava-os a passear pela escola ou dirigíamo-nos para o campo de jogos, para os rapazes jogarem futebol enquanto as raparigas ficavam a cochichar nas bancadas. Licenciada, com um mestrado em História, fazia de babysitter dos alunos dos outros professores. 
A par de todas as mudanças já enunciadas e na sequência das mesmas, a burocracia tomou conta da Escola. Toda a atividade humana passou a ser regida por regulamentos, regras, planificações a longo, médio e curto prazos, planos individuais de recuperação, planos individuais de desenvolvimento, grelhas, folhas excell, relatórios e toda uma infinidade de outros instrumentos de registo, em formato digital e em papel que nos passaram a infernizar, ocupando de forma estéril o nosso tempo. 
Particularmente penoso passou a ser o trabalho dos Diretores de Turma. Surgiram plataformas digitais que rivalizavam e se juntavam aos muitos papéis que aqueles professores eram obrigados a preencher, registando semanalmente tudo o que ia acontecendo. Com prazos para tudo. A utilização simultânea e permanente de todos aqueles registos burocratizou o trabalho dos professores e retirou-lhes tempo para viver e sentir a Escola e os alunos. 
Comecei por cumprir. Depois fui relaxando. Realizava o trabalho exigido, mas só quando dispunha de tempo, após as minhas tarefas letivas. Deixei de cumprir prazos. O meu estatuto de mais de 20 anos de escola e o sucesso dos meus alunos deram-me essa folga, mas sentia o stress dos meus colegas mais novos, aflitos com a falta de tempo por estarem tanto tempo na escola. 
Como elemento essencial da burocracia, a febre das reuniões aumentava ainda mais o tempo passado na escola. No início, no meio e no final dos períodos, aquelas assolavam a escola, por determinação superior. Ordinárias e extraordinárias. Reuníamos por turmas, mas também por departamentos (outra novidade que misturava professores de várias áreas) e por grupo disciplinar. Eram obrigatórias reuniões semanais. A ideia seria criar condições para o trabalho em grupo, mas imposto daquela forma e em espaços onde tudo faltava para realizar um útil trabalho criativo (materiais, computadores que funcionassem, acesso à Internet, impressoras disponíveis e, sobretudo, silêncio e recolhimento para a reflexão conjunta), aquelas reuniões obrigatórias eram um suplício e todos desejavam ir para casa para poderem trabalhar em paz e com os seus materiais. 
Escola desumanizou-se para se transformar cada vez mais numa empresa vocacionada para o sucesso, com professores cada vez mais padronizados e mecanizados. Tornaram-se mais individualistas, passaram a conviver menos. Abandonaram muitos projetos culturais extracurriculares, por falta de tempo e porque lhes exigiam ainda mais instrumentos de registo para preencher. 
Mudou o tempo de estar, o tempo de ser professor e aluno. O tempo de viver a Escola. Durante anos houve uma escola com tempo para enriquecer os conteúdos, tempo para ser criativo, para inventar, com os alunos, atividades fora da sala de aula, tempo em que aprendizagem era também feita de coisas que aconteciam simplesmente. Em que se planificava, preparava e avaliava, mas onde havia espaço para a liberdade e a criatividade. Tempo em que eramos nós próprios, inteiros e não peças de uma máquina a repetir tarefas impostas e padronizadas. Tempo para ser diferente e para criar aqueles laços fortes que duram uma vida inteira. Laços entre professores, entre professores e alunos. 
Decididamente, aquela já não era a Escola onde eu me sentia feliz. Quebrara-se o encanto. A adrenalina dera lugar ao desânimo, ao desgaste, à vontade de partir. 
Foi o que fiz, logo que a oportunidade surgiu. Aos 59 anos, pedi a reforma antecipada. Fui penalizada financeiramente por me faltar idade, mas salvei o meu equilíbrio emocional. Sempre pensei que me iria sentir triste na minha última aula e que a despedida dos alunos iria ser dolorosa. Não foi assim que aconteceu. Passou despercebida, até para mim própria. Eu que nunca esqueci os rostos dos alunos da minha primeira aula num dia de abril de 1975, não guardo qualquer recordação dos alunos da minha última aula. Não sei se eram alunos do Básico ou do Secundário. 
A sua memória perdeu-se para sempre, envolvida no desgaste e desalento dos últimos anos. Treinei-me para deixar de sentir e foi assim que deixei a profissão que tantas alegrias me deu durante mais de 35 anos.» 
 Testemunho de Ana Paula Torres,
 20 de Setembro de 2018

O trabalho do professor em sistemas educativos adversos: uma nota sobre um estudo realizado em Portugal

Imagem recolhida neste documento, pág. 23.

Em Outubro passado foi bastamente divulgada na comunicação social uma investigação sobre a condição docente, concretizada numa colaboração entre a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa e a Federação Nacional dos Professores (FENPROF).
O título é Inquérito Nacional sobre as Condições de Vida e Trabalho na Educação em Portugal (INCVTE), a coordenação é de Raquel Varela, professora dessa Faculdade.

Só agora tive oportunidade de ler o texto na integra, daí resultando uma apreciação bastante positiva. Faço apenas dois comentários:

1. A abordagem é acentuadamente sociológica, mas também histórica e psicológica, o que está de acordo com a composição da equipa de trabalho. Ganhar-se-ia em esclarecimento se se tivesse incluído, ainda que secundariamente, uma abordagem pedagógica (a referência a trabalhos realizados nesta área é pontual), no âmbito da qual conceitos como "condição docente" ou "mal-estar docente" encontraram sentidos precisos, tendo desencadeado investigação que faculta dados de grande interesse no respeitante a Portugal.

2. Se à altura da publicação do mencionado inquérito (início de um ano lectivo a decorrer, à escala nacional, sob a égide do "Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular") os seus resultados, pelo seu carácter revelador, deveriam ser bastantes e suficientes para deixar em alerta o sistema educativo, com destaque para o Ministério da Educação, agora, no final do primeiro período, estou em crer que a sua pertinência aumenta. Do que me é dado perceber, os factores de risco nele apontados acentuaram-se, o ponto a que chegamos é crítico, sobretudo no que concerne aos professores que mais investem no ensino (ver, a título de exemplo, o artigo "O entulho das escolas" de Carmo Machado, publicado na revista Visão do dia 17 deste mês).

Deixo, finalmente, um apontamento do estudo, extraído da sua Introdução.
Na segunda metade do século passado, o cientista social norte-americano Wright Mills cunhou a distinção entre o que chamou de “perturbação privada” (private trouble) e “questão pública” (public issue). As ditas perturbações diriam respeito ao caráter do indivíduo e às relações imediatas dele com os outros. Estão, assim, relacionadas com seu próprio self e com as zonas proximais da vida social que lhe dizem respeito, mais diretamente. Já as questões transcenderiam os ambientes e os locais do indivíduo e da sua vida mais íntima. Remeter-nos-iam a um ambiente social historicamente determinado, composto pela interpenetração de um avassalador número de ambientes pessoais e locais, pela sua inserção numa estrutura de vida social histórica, numa perspectiva de totalidade. É para essas questões públicas que a atenção de qualquer investigação social se deve dirigir, para o mundo real dos fenómenos políticos e sociais mais amplos, para o universo dos eventos históricos de vulto, quando influem na vida de muitos e os millieaux roçam a sociedade em sentido mais amplo.
Este estudo pressupõe o reconhecimento da centralidade do trabalho para a formação social (...) com uma preocupação comum – perceber o reflexo sintomal do que é o mundo laboral do trabalho na educação em Portugal –, o presente estudo social pretende responder a algumas «questões públicas»: Por que uma grande parte dos professores, ao final do dia, sentem-se esgotados? Quais são as causas do sentimento de exaustão emocional entre os docentes? De onde advém o stress laboral na educação escolar? Como compreender e/ou explicar um mal-estar tão difuso e generalizado nas funções, estrutura e dinâmicas desta atividade vital?

A CIÊNCIA EM 2019


Meu artigo no Público de hoje (na imagem, infografia sobre o famoso eclipse de 1919, que confirrmpu a teoria da relatividade geral de Einstein):


Einstein disse um dia: Nunca penso no futuro. Ele não tarda a chegar.” E aí está, pontualmente, o futuro, com 2019 a suceder a 2018. Na ciência haverá efemérides notáveis. A 29 de Maio fará cem anos que, na ilha do Príncipe, então uma colónia portuguesa, foi observado um eclipse solar por uma equipa britânica chefiada por Arthur Eddington que permitiu comprovar a teoria da relatividade geral, publicada por Einstein quatro anos antes. O Diário de Notícias titulou poeticamente: A luz pesa.” Com efeito, as fotos do eclipse mostravam que os raios de luz vindos de estrelas por detrás do Sol se curvavam ao passar perto deste. Passado um século, acumulámos muitas outras provas de que aquela teoria descreve bem a força da gravidade universal. Em 2017 o Nobel da Física foi para os físicos do observatório LIGO, que detectaram pela primeira vez as ondas gravitacionais provenientes de choques de buracos negros, que tinham sido previstas. Até agora foram registados dez eventos desse tipo e outros decerto se seguirão. O LIGO voltará a operar no início de 2019 e estão em construção vários observatórios similares, que ouvirão mais “sons” cósmicos.

Outra efeméride espacial será celebrada a 20 de Julho: os 50 anos dos primeiros passos do homem na Lua, dados pelo norte-americano Neil Armstrong, comandante da Apollo 11. Como Eugene Cernan, astronauta da Apollo 17, foi, em 1972, o último homem na Lua, o nosso satélite permaneceu sem presença humana durante quase meio século. E não vai tê-la tão cedo. Talvez em 2030, uma vez que existem projectos da Rússia, do Japão e da China (aposto que ganha a China!). À Lua continuarão a chegar missões não tripuladas, como a chinesa Chang’e 4, que pousará pela primeira vez no lado escuro da Lua a 3 de Janeiro. Está em aberto uma competição para a chegada da primeira missão privada à Lua, que se deve concretizar em 2019, tal como o primeiro voo espacial privado em órbita terrestre. Marte, onde chegou recentemente a missão robótica Insight da NASA para recolher dados sísmicos, continua a ser um sonho adiado. A NASA tem planos para 2033, mas são vagos.

2019 será, por decisão da ONU, o Ano Internacional da Tabela Periódica, para comemorar os 150 anos da proposta de ordenação dos elementos que foi feita pelo russo Dmitri Mendeleev em S. Petersburgo. Uma conferência realizar-se-á nessa cidade a 26 de Julho, sob os auspícios da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), que celebrará cem anos num congresso em Paris uns dias antes. Em 1869 havia 63 elementos conhecidos, hoje há 118, que compõem toda a matéria conhecida na Terra e no espaço. Há ainda a matéria escura, que ninguém sabe o que é, tal como ninguém sabe o que é a energia escura, uma força antigravitacional que se exerce a distâncias cósmicas.

Em 2019 haverá novos avanços na genética (por um lado, está mais perto a meta dos 100 dólares para a sequenciação completa do genoma humano e, por outro, a técnica CRISP oferece possibilidades inauditas de edição genómica) e na inteligência artificial (os algoritmos que já governam a nossa vida continuarão a crescer e a multiplicar-se, provocando lentamente uma disrupção social). As preocupações éticas, que excedem largamente a ciência, são prementes nessas áreas, exigindo a nossa maior atenção.

Em Portugal, espera-se que seja concluída a avaliação das unidades de investigação e desenvolvimento (I&D) que está em curso, emendando a vergonhosa avaliação anterior. E espera-se que haja financiamento decente. A seu favor o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, tem o bom encaminhamento da questão do emprego científico. Contra si tem o crescimento apenas incipiente do sistema científico nacional. Os dados de 2017 indicam que só 1,3% do PIB foi aplicado em I&D (dos quais cerca de metade no sector privado), o que está abaixo do pico de 2009 (1,6%) e da média da União Europeia (2,1%). A convergência com a Europa é um imperativo. António Costa declarou em 2017 que a meta para 2020 era 2,7% do PIB, mas, se não houver um esforço enorme nos próximos dois anos, tal meta não será atingida. A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), com um aumento de 11% em relação ao ano passado, vai ter o segundo maior orçamento de sempre, mas insuficiente para o objectivo pretendido. A FCT apoiará em 2019 a criação da Agência Espacial Portuguesa, que estimulará esforços privados para o lançamento de microssatélites na ilha de S. Maria nos Açores. É uma boa ideia para levantar Portugal.

Termino com duas preocupações. Em primeiro lugar, precisamos de mais e melhor cultura científica. José Mariano Gago percebeu que a ciência tinha de ter apoio social e por isso criou a Agência Ciência Viva. Mas esta instituição, florescente no início, tem estado sem a necessária dinâmica. Por exemplo, não está ainda definido nem o comissário nem o programa nacional do Ano Internacional da Tabela Periódica. E, para dar outro exemplo, são escassos os contributos que tem dado à discussão pública sobre novas questões éticas emergentes, como as que vêm da genética e da inteligência artificial. Já nem falo na falta de resposta aos inimigos da ciência, que incluem políticos ignorantes (e há-os no Parlamento português) e terapeutas alternativos (que pululam, com permissão legal). Desejo que a Ciência Viva se torne mais viva.

A outra preocupação diz respeito à Universidade de Coimbra, onde trabalho, que vai escolher um novo reitor em Fevereiro. O mandato do actual frustrou as melhores expectativas, designadamente com a queda progressiva na produção científica em relação às outras universidades. Nos últimos cinco anos, a razão do número de publicações por investigador a tempo inteiro dá um modesto 6.º lugar a Coimbra, com 2,7 (em primeiro está Aveiro, com 4,4, seguindo-se o Porto, com 3,6, e a Nova, com 3,5). Coimbra também não tem nenhum highly cited researcher nos últimos dez anos. O próximo reitor tem, neste como noutros sectores (o Museu da Ciência é uma pérola” abandonada), de fazer mais e melhor. Desejo que a Universidade de Coimbra acorde.

DUAS NOVAS OBRAS PIONEIRAS


(Ep. 41) "Comportamento : a biologia humana no nosso melhor e pior"

Podcast sobre Fé e Razão

O meu diálogo na Rádio Renascença  com o jesuíta Vasco Pinto Magalhães está aqui em podcast:

https://www.ffms.pt/podcasts/detalhe/2864/o-eterno-dialogo-entre-fe-e-razao

O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO NA SIC

Dei uma entrevista a Miriam Alves, jornalista de grande reportagem da SIC, para a série "Admirável Mundo Noite" sobre os últimos avanços da ciência que estreia a 29 de Novembro. O meu episódio será o último, passando no Jornal da Noite da SIC a 4 de Janeiro.

https://sicnoticias.sapo.pt/programas/admiravel-mundo-novo/2018-12-29-Os-protagonistas

LIVROS DE CIÊNCIA PARA O NATAL



A  revista "Artes entre as Letras" publicou no seu último uma lista de livros de ciência, ligeiramente editada, que já tinha saído em alguns jornais regionais. Reparei agora que faltam três livros dignos de nota: Arte e Ciência do historiador de arte Paulo Pereira, em quatro volumes (Círculo de Leitores);  A Ordem do tempo, do físico teórico  italiano  Carlo Rovelli (Objectiva); e O Iluminismo Agora do psicólogo cognitivo canadiano-americano Steven Pinker (Presença). O primeiro é uma original colecção ilustrada que liga a arte portuguesa à ciência, o segundo é um ensaio sobre o tempo e o terceiro é um ensaio muito bem documentado que mostra que em muitas áreas nunca estivemos tão bem, isto é, que pelo menos nalguns domínios o progresso existe.

Apresento aqui a minha selecção de livros de ciência publicados em Portugal para o Natal de 2018. São treze livros, que surgem (excepto os dois últimos) pela ordem do apelido do autor:

 - Almeida, Onésimo Teotónio, O Século dos Prodígios. A Ciência no Portugal da Expansão (Quetzal), O professor da Universidade Brown fala, neste volume com o rinoceronte de Duerer na capa, dos Descobrimentos lusos num tempo em que a palavra “Descobrimentos” se tornou maldita, defendendo a tese de que eles foram o prelúdio da Revolução Científica

 - Atkins, Peter, Como surgiu o Universo. As origens das leis naturais. (Gradiva). O químico da Universidade de Oxford, que é um consagrado pedagogo, aventura-se aqui pelos mistérios do início do Universo, sustentando que talvez não tenha sido nada de muito especial. Para ele, Deus não foi necessário no momento da criação. Fiz-lhe uma entrevista, que saiu no Público.

 - Bernardo, Luís Miguel, Visão, Olhos e Crenças (Gradiva). Da autoria de um físico da Universidade do Porto, trata-se de uma história do nosso conhecimento da visão, no mundo e em Portugal, não esquecendo as lendas que imperam no saber popular.

 - Buescu, Jorge, Curvas Ideais, Relações Desconhecidas e Outras Histórias da Matemática (Gradiva). O autor, matemático da Universidade de Lisboa, delicia-nos em mais um volume seu da colecção “Ciência Aberta” (é o sexto volume do autor) com surpreendentes questões matemáticas. O químico e crítico de arte Jorge Calado escreveu um sedutor prefácio para a segunda destas obras.

 - Franco, José Eduardo (coord.), Dicionário dos Antis (Imprensa Nacional – Casa da Moeda). É um original dicionário em dois espessos volumes, em tiragem limitada, em que todas as entradas começam por “anti.” Com um “antiprefácio” do jurista António Araújo, é, pela amplitude e qualidade da edição, um dos grandes lançamentos do ano. Só algumas entradas se referem à ciência, mas a ciência aparece aqui, como deve ser, integrada na cultura.

 - Hawking, Stephen, Breves respostas às grandes perguntas (Planeta). Com prefácio do actor Edie Redmayne que fez de Hawking em “Teoria de Tudo” e introdução de Kip Thorne, o Prémio Nobel da Física de 2017, o livro foi deixado inacabado pelo autor. A filha Lucy Hawking, que escreve um posfácio, ajudou a completá-lo com respostas já antes dadas por Hawking. Não tem nada de muito novo, mas é mais um escrito do inigualável físico.

 - Kaku, Michio, O Futuro da Humanidade (Bizâncio). O famoso físico teórico norte-americano de origem japonesa faz futurologia neste seu tão interessante livro que se soma a outros seus sobre o inesgotável tema do futuro: O subtítulo é sugestivo: “Terraformação de Marte, Viagens interestelares, Imortalidade e o nosso destino para lá da Terra.”

 - Patrão Neves, Maria do Céu e Carvalho, Maria da Graça (coords.), Ética Aplicada, vol. XII, Investigação Científica (Edições 70). A professora da Universidade dos Açores especialista em Ética e a assessora da Comissão Europeia que já foi responsável pela pasta da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior fazem neste volume colectivo uma introdução às questões éticas ligadas à ciência, o que interessa sobremaneira num mundo confrontado com desafios tremendos como os da inteligência artificial e da genómica. Escrevi um dos artigos.

 - Piedade, António, Íris Científica 5 (ed. autor), Quinto volume de crónicas sobre ciência da autoria de um bioquímico que, com o projecto “Ciência na Imprensa Regional,” e com mais uma bem-sucedida temporada “Ciência às Seis” no Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, se tornou um dos mais conhecidos divulgadores de ciência em Portugal. Escrevi o prefácio.

- Sapolsky, Robert M., Comportamento. A biologia humana no nosso melhor e pior (temas e Debates / Círculo de Leitores). O professor de Biologia e Neurologia da Universidade de Stanford passa em revista, num grande volume, as bases biológicas do comportamento humano.

 - Wilson, Edward O., Homo Creator. O Génio e a perversidade da espécie que dominou o mundo (Clube de Autor). O eminente autor da sociobiologia, vencedor de dois prémios Pulitzer, fala aqui do essencial da natureza humana.

 Finalmente, se me é permitido a auto-citação, sugiro ainda a “entrevista de vida”que o jornalista e escritor José Jorge Letria me fez para a colecção “O Fio da Memória” da editora Guerra e Paz com o título A arte de criar paixão pela ciência e o volume Primeiro Tratado de Botânica- Colóquio dos Simples, de Garcia da Orta, que coordenei com Jorge Paiva para a série Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, um projecto meu e do historiador José Eduardo Franco) que está a sair no Círculo de Leitores.

 Boas leituras!

EFEMÉRIDES EM 2019

Escolhi um conjunto de efemérides que ocorrerão no ano que está agora à porta:

CIÊNCIA E TÉCNICA

- 500 anos do início da volta ao mundo de Fernão de Magalhães
- 500 anos da morte de Leonardo da Vinci
- 250 anos de Alexandre von Humboldt
- 200 anos de Léon Foucault
- 150 anos da Tabela Periódica de Mendeleev (Ano Internacional)
- 150 anos de Gago Coutinho
- 100 anos da IUPAP
- 100 anos da Citroën
- 100 anos do eclipse da ilha do Príncipe (confirmando Einstein)
- 50 anos da chegada à Lua

LITERATURA

- 400 anos de Cyrano de Bergerac
- 300 anos do "Robinson Crusoe"
- 200 anos de Waklt Whitman
- 200 anos de Hermann Melville
- 150 anos de Eugénio de Castro
- 100 anos da Faculdade de Letras do Porto
- 100 anos de Sophia de Mello Andersen
- 100 anos de Fernando Namora
- 100 anos de Jorge de Sena
- 100 anos de João José Cochofel
- 50 anos do edifício da Biblioteca Nacional de Portugal

ARTE

- 200 anos de Clara Schuman
- 200 anos de Jacques Offenbach
- 200 anos do Museu doi Prado
- 150 anos de Calouste Gulbenkian
- 150 anos de Francisco de Lacerda
- 100 anos da Bauhaus
- 100 anos de Margot Fonteyne
- 50 anos do Museu Gulbenkian

HISTÒRIA

- 700 anos da Ordem de Cristo
- 600 anos da Crónica de Portugal de Fernão Lopes
- 600 anos da chegada à ilha da Madeira
- 250 anos de Napoleão
- 250 anos de Wellington
- 200 anos da Rainha Vitória
- 200 anos de D. Maria II
- 200 anos de Fontes Pereira de Melo
- 150 anos de Mahatma Ghandi
- 150 anos da abolição da Escravatura em Portugal
- 100 anos da Organização Internacional do Trabalho
- 100 anos de Joel Serrão
- 75 anos do dia D (desembarque na Normandia)
- 50 anos da crise académica de 1969



quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

TOPTEN DOS POSTS MAIS LIDOS DE SEMPRE DESTE BLOGUE

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9 - A vida depois do Google Jul 9, 2010, 3 comments 6638 pageviews
10 -  "Ratio Studiorum" dos Jesuítas Jan 20, 2010, 13 comments, 6623 pageviews

É curioso que apareça  nsta lista um poema de Dylan Thomas (4.º lugar) e um texto sobre o método pedagógico dos Jesuítas (10.º lugar),  dois tópicos que à partida não prometiam ser tão populares.

Os mais lidos em 2018 de "Crítica na Rede"


Informação recebida do professor de Filosofia  Desidério Murcho:


Os artigos mais lidos em 2018


  1. A teoria moral de Kant: 66 mil visitas
  2. A teoria da justiça de John Rawls: 39 mil visitas 
  3. Dicionário escolar de filosofia: 37 mil visitas
  4. Algumas noções de lógica: 36 mil visitas
  5. Argumentação e retórica: 36 mil visitas
  6. A relação entre a ciência e a filosofia: 30 mil visitas
  7. O racionalismo de Descartes: 27 mil visitas
  8. O que é a teoria do conhecimento? 26 mil visitas
  9. A ética de John Stuart Mill: 23 mil visitas
  10. O empirismo de David Hume: 23 mil visitas
 

NOVO RANKING DE CIENTISTAS PORTUGUESES

Fernando Pacheco-Torgal, investigador da Universidade do Minho, colocou em circulação uma lista de alguns cientistas portugueses ordenados pelo K-índex (um índice que, ao contrário do índice h, leva em conta o número de citações dos artigos que nos citam, medindo de modo mais perfeito o impacto na comunidade científica; em particular, correlaciona melhor com a atribuição do Prémio Nobel do que o índice h). A lista não é exaustiva: não estou na lista, mas, segundo informação do autor,  o meu índice é 248. O índice delta, também tabelado, indica a diferença entre os valores do índice K  com e sem auto-citações, dividindo pelo índice K sem auto-citações. Estão assinalados os mais recentes HCR, Highly Cited Reserchers, isto é, os cientistas portugueses com mais impacto nos últimos anos.

Autor
Afiliação
Área
K-index
Δ
Nuno Peres    HCR
Universidade do Minho
Física
312
0.01
Miguel Seabra
Universidade Nova
Ciências biomédicas
220
0.02
Miguel B. Araújo HCR
CSIC
Ciências biológicas
214
0.03
Rui Reis
Universidade do Minho
Engenharia de Tecidos
201
0.02
João Rocha
Universidade de Aveiro
Química Eng Q.
194
0.02
Fátima Carneiro
Universidade do Porto
Ciências biomédicas
190
0.02
Paula Moreira
Universidade de Coimbra
Ciências biomédicas
190
0.02
João Mano
Universidade de Aveiro
Engenharia de Tecidos
180
0.03
Sobrinho Simões
Universidade do Porto
Ciências biomédicas
179
0.02
Mário Figueiredo HCR
Universidade de Lisboa
Engenharia Comput.
168
0.04
Helena Freitas
Universidade de Coimbra
Ciências biológicas
163
0.01
Maria Carrondo
Universidade Nova
Engenharia Química
155
0.01
Alexandre Quintanilha
Universidade do Porto
Ciências biomédicas
154
0.01
Elvira Fortunato
Universidade Nova
Ciência Eng Mat
141
0.04
António Amorim (UP)
Ciências biomédicas
Ciências biomédicas
134
0.01
Isabel Sá-Correia
Universidade de Lisboa
Ciências biológicas
115
0.01
João Coutinho
Universidade de Aveiro
Química Eng Q.
116
0.08
Verónica Bermudez
UTAD
Ciência Eng Mat
105
0.04
Adelino Canário
UALG
Ciências biológicas
99
0.03
Mara Freire
Universidade de Aveiro
Química Eng Q.
86
0.09
Madalena Alves
Universidade do Minho
Biotecnologia
84
0.02
Fátima Montemor
Universidade de Lisboa
Química Eng Q.
83
0.11
Pedro Santa-Clara
Universidade Nova
Economia
77
0.01
Isabel Ferreira HCR
Politéc. Bragança
Bioquímica
77
0.10
José Mata
Universidade Nova
Economia
75
0.03
Luís Pereira
Universidade de Lisboa
Agronomia
71
0.03
José Tribolet
Universidade de Lisboa
Engenharia Comput.
68
0.01
Nuno Crato
Universidade de Lisboa
Matemática
66
0
Pedro Portugal
Universidade Nova
Economia
63
0.05
Lilian Barros   HCR
Politéc. Bragança
Bioquímica
60
0.08
Sebastião F. Azevedo
 Universidade do Porto
Química Eng Q.
50
0.04
Pedro Pita Barros
Universidade Nova
Economia
42
0
João Gabriel Silva
Universidade de Coimbra
Engenharia Comput.
39
0
Rui V. Mendes
Universidade de Lisboa
Matemática
31
0.03
J.P. da Ponte
Universidade de Lisboa
Matemática
10
0

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...