segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

MEU PREFÁCIO AO LIVRO "O ÍNDIO QUE QUERIA CONHECER O MUNDO"



Meu prefácio ao livro infantil passado no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e publicado em edição de autores por Ana Cristina Tavares e Gilberto Pereira:

Um museu é um lugar mágico. Entramos neles como quem entra numa “máquina do tempo” para visitar o passado e saímos deles mais preparados para viver o futuro. O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra é um sítio extraordinário de memória da ciência, ao reunir colecções tão ricas e variadas como as do Laboratorio Chimico, do Gabinete de Física Experimental e da Galeria de História Natural. O visitante sente-se transportado ao século XVIII, quando a ciência experimental já tinha sido criada como meio de descobrir as leis da Natureza e as colecções de História Natural se acumulavam à espera dessa grande síntese que haveria de ser, no século XIX, a teoria de evolução de Darwin. A ciência, baseada na experimentação, na observação e no raciocínio lógico, afirmava-se nessa época como uma nova maneira de ver o mundo. Depois de sairmos do Museu da Ciência também nós passamos a ver o mundo com outros olhos: o mundo é maravilhosamente variado, mas é possível, com o método da ciência, descrevê-lo e compreendê-lo.

A história deste livro de Ana Cristina Tavares – uma botânica cuja sensibilidade literária para transmitir a ciência já nos tinha proporcionado o livro “A Alga que queria ser flor” - e de Gilberto Pereira – um químico que cuida com carinho das colecções museológicas - , passa-se no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Duas máscaras indígenas – uma masculina de Angola (Mukixi) e outra feminina do Brasil (Tikuna) – das colecções do Museu encarnam em personagens humanos que vão passear pelo museu à noite. E, porque há muito a descobrir no Museu, vão ter imensas surpresas. Os índios, dos dois lados do Atlântico, vão conhecer o mundo. Cito: “Teve uma ideia brilhante: para conhecer muitos mundos de uma vez e novas vidas, animais, plantas, conchas, instrumentos, ambientes, lições, livros, experiências, canções e outras tantas novidades e tesouros, nada melhor que entrar nas outras salas do grande Museu!” O Museu é para eles, como para qualquer visitante, um sítio de deslumbramento. O olhar encantado com que descobrem instrumentos, animais e plantas na gigantesca arca do tesouro onde antes estavam adormecidos pode ser também o nosso se, levados por este tão convidativo livro, quisermos entrar no Museu. Há histórias incríveis, mas verdadeiras, à nossa espera como a da coroa real que é um íman, a da planta de uma época geológica recuada, a do grande esqueleto de baleia onde podemos ser Pinóquios, ou a de um lince sobre o qual paira a ameaça de extinção.

Bela história, belo livro! Oxalá este livro – que combina a imaginação literária da Ana Cristina Tavares com o original estilo gráfico do Gilberto Pereira, juntando-se a arte dos dois ao seu conhecimento científico – sirva de inspiração a educadores, para que eles, com os seus educandos, se deixem, tal como os índios, maravilhar pelas histórias que o Museu conta. As crianças são naturalmente curiosas e os educadores só têm que dar asas à curiosidade infantil. Não é preciso muito: é preciso apenas, como os índios, decidir entrar na aventura do conhecimento.

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