segunda-feira, 16 de outubro de 2017

As condições "excepcionais" não são nada excepcionais

Uma maior número de dias com ondas de calor e períodos prolongados de seca no Verão, com concomitante risco acrescido de incêndios são o novo normal e não deveriam ser surpresa para ninguém. Os impactos das alterações climáticas em Portugal estão previstos há mais de uma década, designadamente através dos contributos do projecto  Alterações Climáticas Em Portugal: Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação (SIAM, na sigla inglesa). A Europa é dos continentes mais afectados e Portugal enfrenta uma das maiores subidas regionais da temperatura. Lisboa pode vir a ter a temperatura média anual de Rabat.

As jornalistas Filomena Naves e Teresa Firmino chamam no seu livro “Portugal a Quente e Frio” ao Verão de 2003 o Verão que veio do futuro. Nesse ano arderam 450 000 hectares, cinco por cento do território nacional e uma área quatro vezes superior à media anual entre 1980 e 2004. 

Até ao final de Setembro de 2017 arderam em Portugal 216 000 hectares, quase o dobro da média anual dos 10 anos anteriores. Havendo uma redução de 10% de incêndios em relação ao ano anterior, estes são de maior dimensão. E a estes números, terão ainda que se acrescentar os fogos de Outubro. O futuro dos incêndios já chegou.

Parte do aquecimento global é já inevitável e as condições “excepcionais” estão cá para ficar. O próximo Verão até pode ser melhor, não sabemos. Mas a tendência geral é para ser igual ou pior. Obviamente que o reeordenamento da floresta para ser mais resiliente aos incêndios é um imperativo, moral, social e económico. Mas os incêndios não vão desaparecer de um dia para o outro. O velho mantra de gastar mais na prevenção e menos no combate, não sei até que ponto será verdadeiro. Certamente teremos que apostar mais na prevenção, mas nos próximos anos parece irrealista pensar num alivio dos esforços de combate. Terá de haver um combate duro, que de preferência que seja o mais bem informado possível pela ciência.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo que a Ciência, enquanto fonte de onde jorra a água viva do conhecimento, pode dar uma ajuda preciosa no combate aos incêndios florestais. Mas, sem política e sem dinheiro, nada se faz. O tempo de funcionarmos como um protetorado de Inglaterra já não faz grande sentido. No início do século XIX, para mantermos o Brasil, sujeitámo-nos a ser invadidos pela França, porque com a armada inglesa contra nós iríamos dizer adeus ao Brasil. No início do século XX, entrámos de roldão na Primeira Guerra Mundial, para defender Angola e Moçambique da cobiça de algumas potências inimigas da Inglaterra. Pois bem, neste fim de ano de 2017, Brasil, Moçambique e Angola já lá vão! Um Estado, como o português, que não dispõe de meios para tentar evitar mortes de dezenas de pessoas, vítimas de pavorosos incêndios florestais, que se repetem, ano após ano, entrou em falência. Assumindo, de uma vez por todas, a nossa atual irrelevância político-económica no contexto internacional, uma saída deste mar de chamas poderia passar por propor a Espanha a criação de uma federação ibérica que incluísse Portugal. Dado o triste estado a que chegámos, a própria Inglaterra não veria com maus olhos a nossa união com Espanha. Como a união faz a força, teríamos, pelo menos, acesso a mais dinheiro e mais meios disponíveis para um combate eficiente aos fogos florestais. Por outro lado, a Catalunha teria de enfiar a viola no saco!

João Silva

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