Sendo de ordem distinta daquele de que me ocupei, optei por referi-los num novo texto.
Antes de os enunciar devo esclarecer que não sou contra a educação para a cidadania em contexto escolar, nem o poderia ser. De facto, com esta ou com outra designação, desde a Antiguidade Clássica que nas melhores propostas de ensino (orientadas para a perfectibilidade do ser, para o funcionamento da sociedade e para o progresso da humanidade) consta a formação dos mais jovens para participarem na vida da polis, da cidade, no que é público, enfim, para participarem no que é de todos e a todos diz respeito. Penso que este esclarecimento é importante para que se perceba que criticar "esta" educação para a cidadania que temos implantada nos sistemas educativos ocidentais não significa negar ou menosprezar a importância da educação para a cidadania
Então, voltando aos tais aspectos,
o primeiro aspecto, já corriqueiro, refere-se ao tipo de recursos disponibilizados: atirados ao acaso para o sítio, dispensam qualquer ancoragem, sentido ou ordenação. A qualidade é inqualificável. Em última instância, qualquer relação quer com a "educação", quer com a "cidadania" é pura coincidência.
o segundo aspecto é a falta de rigor do que, pelo menos sob o ponto de vista formal, são as determinações do Ministério da Educação quanto ao currículo para a escolaridade obrigatória: a "educação para a cidadania" integra quinze áreas (ver aqui), entre as quais se contam "Educação financeira" e "Educação para a saúde e sexualidade", não inclui uma área designada por "educação para a cidadania". Ou seja, a "educação para a cidadania" inclui áreas não é uma área de si mesma. De notar a expressão "Ambiente" não denomina qualquer área reconhecida pela tutela.
Se, como destaquei no texto anterior, este sítio é para ensinar os professores a ensinar, estamos mesmo muito mal!.
o terceiro aspecto é novo, diria mais, surpreendentemente novo: inclui-se a "religião" na "educação para a cidadania". Ou será "religiões"? Ficamos sem saber, pois na lista acima, à direita, que é uma reprodução de parte da informação do mencionado sítio lê-se "religião", mas do mesmo sítio, logo abaixo, num item designado por "Temas", é a expressão "religiões" que surge. No caso "singular" e "plural" fazem toda a diferença.
Estou em crer que a inclusão da(s) religião(ões) na "educação para a cidadania" é da iniciativa da Rádio Televisão Portuguesa, à revelia das determinações do próprio Ministério, pois nada no sítio online desta entidade (aqui) permite sequer suspeitar desta inclusão.
Termino dizendo que se há quem defenda, mesmo sendo ateu, que o pensamento religioso deve ter lugar no currículo uma vez que a sua especificidade ajuda a compreender o pensamento humano (ver por exemplo, a posição do filósofo Richard Kearney aqui), não é, certamente, associando-o a uma "educação para a cidadania" (que nem sequer o é) que esse propósito se concretiza.
Nota: Tentei abrir os recursos para (o que deverei chamar?) ensinar, aprender, educar para a(s) religião(ões) (?), mas, confesso, preciso de novo alento para o fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário