quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Salve-se quem puder

O Ministério da Educação afirma reiteradamente querer implantar uma "educação humanista": no final da escolaridade obrigatória os alunos sairão com um "perfil humanista". A palavra "humanista" é o novo slogan da educação nacional. Acontece que a equipa ministerial da Educação pertence a um governo, que, recordamos, tem um programa geral. O humanismo integra, explícita ou implicitamente, os princípios desse programa. Ora, face à imensa catástrofe provocada pelos fogos de Junho e de Outubro, que fizeram mais de cem mortos, nas cruéis circunstâncias que sabemos, ouve-se dizer, no mesmo momento televisivo:

1. ao Primeiro-ministro:
"Nós voltamos a ter este incêndio (...) e vamos ter seguramente mais incêndios desta dimensão (...) nunca haverá algum dispositivo que possa evitar e prevenir situações desta natureza”
2. à Ministra da Administração Interna:
“Para mim seria mais fácil, pessoalmente, ir-me embora e ter as férias que não tive (...) as comunidades se tornem mais resilientes às catástrofes",
3. ao Secretário de Estado da Administração Interna:
"Têm de ser as próprias comunidades a ser proativas e não ficarmos todos à espera que apareçam os nossos bombeiros e aviões para nos resolver os problemas. Temos de nos autoproteger". 
Este discurso significa que os incêndios são uma fatalidade e, perante eles, o lema será "salve-se quem puder". Eu sei que estes três representantes do Governo, a quem cabe cuidar da segurança dos seres humanos que vivem em Portugal, não disseram só isto, mas foi o que registei e foi o que muitas outras pessoas também registaram. São palavras que, pela insensibilidade que denotam para com as vítimas, se tornaram "forma", ficando as restantes como "fundo".

Não posso deixar de perguntar se é este o "humanismo" que os alunos têm de aprender.

1 comentário:

Anónimo disse...

A maioria dos alunos, à saída da escolaridade obrigatória, não sabe ler nem escrever!
A sua cultura é tudo menos livresca. Os jogos de computador não são os meios mais apropriados para transmitir valores humanistas. Mas também não podemos dizer que a culpa foi toda da ministra Constança e seus correligionários! Uma quota parte muito substancial das culpas recai sobre as pedras abundantes que tornam muito pobres a maior parte dos solos agrícolas de Portugal, já para não falar de muitas magníficas lezírias do Ribatejo que, em vez de alimentarem milhares de famílias com legumes saborosos e nutritivos, só servem para engordar touros de lide. Assim, sem pão para a boca, deu-se a debandada geral, iniciada ainda no tempo do consulado do Doutor Salazar, do povo das aldeias, que deixou campos e florestas desprotegidos perante o avanço muito rápido das chamas!

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