terça-feira, 10 de outubro de 2017

O SILÊNCIO CONFESSIONAL DA ADSE


“O silêncio é uma confissão”  (Camilo Castelo Branco)

O comentário do leitor Carlos Soares, ao meu post “O soberaníssimo bom senso, preconizado por Antero” (30/09/2017) foi para mim um refrigério para a forma desumana como a ADSE encara a problemática dos gerontes, como se a população jovem de hoje velhos de amanhã (não adianta usar eufemismos, v.g., idosos) sem cuidados médicos apropriados, por quebra de um contrato que se julgava de cavalheiros entre a ADSE e os cônjuges idosos de beneficiários titulares, sem limite de idade. Parafraseando o pungente poema de Augusto Gil, “Balada da Neve”: Mas os velhos e doentes, senhores dignitários da ADSE, porque lhes dais tanta dor?! Porque padecem assim?!

 Reproduzo o supracitado comentário na íntegra: “Só para dizer-lhe que li a sua resposta, que agradeço. Mas aproveito para acrescentar que é preocupante e doentia uma certa ansiedade geral das indústrias atuais em corrida precipitada contra o tempo, numa espécie de fuga, não sei de quê, para o precipício. E, para trás, ficam os velhos, os doentes, as crianças e um planeta devastado”

 Para justificar leis imorais (o brocado dura lex, sed lex serve para lhes dar cobertura) afadigam-se os políticos de carreira”aqueles que fazem de cada solução um problema” (Woody Allen) em nomear comissões para estudar (ou mesmo em cabular leis do tempo do PSD!) as futuras reformas da ADSE tratando os cidadãos que levantam estes problemas sociais como “vozes de burro“ que não chegam ao Olimpo das suas preocupações em ganharem as próximas eleições. Por outras palavras, quando não enxergam a forma de justificarem a falta de moral ou de simples bom senso de uma lei da sua paternidade calam-se num silêncio de um estado social de fachada ou de uma democracia de faz de conta com o argumento de deixá-los falar que eles calar-se-ão.

Aqui se coloca, um vez mais, a questão de notícias ambíguas, de quem me parece andar à procura da rolha (ressalve-se o plebeísmo!), publicadas a conta-gotas nos media deixando a dúvida se a ADSE pretende com as novas regras emendar o que está mal ou continuar a expurgar os cônjuges idosos dos beneficiários titulares que usufruam, com descontos ou não feitos à Segurança Social (tratando desiguais como iguais), uma “escandalosa” reforma contributiva da Segurança Social (que chega, por vezes, a não atingir metade do ordenado mínimo nacional) e com deficiências com elevado grau de incapacidade, igual ou superior a 80 %! Parafraseando o belíssimo poema da Augusto Gil: Mas os velhos e doentes, senhores governantes , porque lhes dais tanta dor?! Porque padecem assim?

E porque “há algo de ameaçador num silêncio muito prolongado”, como pontificou o poeta trágico grego Sófocles, perante o perigo de não haver justiça ou simples bom senso desta instituição de assistência na doença, haja, pelo menos, vontade, da parte de quem tem poder institucional, de pôr cobro a este status quo que o meu civismo me desaconselha adjectivar!

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