sábado, 14 de maio de 2016

ENSINO OFICIAL "VERSUS" ENSINO CONVENCIONADO



"Qualquer ideia proferida, desperta outra ideia contrária"
Johann Goethe 

Recebi um mail que me foi endereçado pelo professor Bruno Amaral, leitor do meu post publicado aqui no DRN (10/05/2016), titulado “Utilidade, privilégio e abuso dos colégios com contrato de associação”. Pela achega trazida a esta temática, transcrevo-o integralmente:
“Exmo. Senhor Rui Baptista
Hoje, ao ler um artigo seu sobre os contratos de associação fiquei incrédulo e triste. É notável a falta de conhecimento que tem sobre estas escolas e a forma fácil como toma a parte pelo todo. Sou professor num Colégio Católico com contrato de associação e posso assegurar-lhe que no meu Colégio, grande parte dos aprendentes são oriundos de famílias com baixos rendimentos, sendo alguns deles institucionalizados, logo sem família.
O serviço que prestamos não serve os tais meninos ricos que insinua. Não temos piscinas, nem campos de ténis, e não precisamos deles para que as crianças que o frequentam se sintam felizes.
Como sabe, os contribuintes irão pagar muito mais pelo fim destes contratos do que pagariam caso estes continuassem a vigorar.
Quanto aos 8000 professores e funcionários que irão para o desemprego, ainda aumentarão mais o peso da contribuição dos portugueses. Esta medida é uma ação de substituição de professores por outros professores, só que estes "outros", sindicalizados.
Estamos perante uma ação muito comum em países com regimes totalitários. A Venezuela aqui tão perto!
Continuação de uma ótima semana para si e para os seus.”
Sempre tenho defendido, à outrance, o direito ao contraditório como a forma democrática de discutir opiniões diferentes das nossas sem o recurso a silenciar os que de nós discordam.

Desde já, para evitar interpretações que possam, eventualmente, pecar por querer descortinar razões políticas motivadoras das minhas tomadas de posição sobre uma polémica em que parece haver a tendência em catalogar de esquerda quem está a favor da escola pública e de direita quem se coloca numa trincheira pronta a rechaçar os inimigos dos colégios com contrato de associação (não confundir com colégios pagos pelos pais dos alunos), me assumo como politicamente de direita como prova o facto de, depois de, durante 12 anos, ter sido presidente da Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados (SNPL) me ter demitido desse cargo por este organismo sindical ter aderido à chamada Plataforma Sindical de que se tornou porta-voz Mário Nogueira, presidente da Fenprof, em apropriação de uma citação de Mário Soares, “num voltar aos tempos da instrumentalização dos sindicatos como correia de transmissão do PCP” ( “Diário de Notícias”, 29/01/2008).

Assim, a minha posição nesta guerra que me atrevo de enunciar, por vezes, como simples contas de merceeiro por discutir qual o ensino que fica mais barato se o oficial ou o com contrato de associação.

Por desleixo propositado ou não dos diversos governos (ao arrepio de um passado de glória em que o Liceu Pedro Nunes teve como docente, por exemplo, Rómulo de Carvalho e como discente o actual Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa), ainda que mesmo partindo da premissa de que o ensino convencionado é menos dispendioso para a fazenda pública que o ensino oficial poderá este ressurgir em força com um poder negocial que ditará novas e mais prementes leis no mercado da educação, nunca no respeito à indagação de Cícero: “Que presente melhor poderíamos oferecer à República além de educar os nossos jovens?”

Aqui chegado, como diziam os latinos, amicus Plato, sed magis amica veras, só indo por onde me mandam os meus próprios passos (José Régio) feitos num percurso de quarenta e tal anos na docência oficial numa antiga escola industrial, num estabelecimento de ensino liceal (crismado de ensino secundário) e nas Universidades do Porto e de Coimbra, corro o risco de, ao dizer o que penso “de um saber de experiência feito”, passar por reacionário por quem diz o que lhe manda o partido ser tido por progressista.

Atenho-me, portanto, a factos, por saber, de antemão, que a generalização é sempre perigosa , como, por exemplo, apresentar em defesa de uma determinada tese o caso do colégio (com contrato de associação) onde leciona o professor Bruno Amaral dizendo ele que aí “grande parte dos aprendentes são oriundos de famílias com baixos rendimentos, alguns deles institucionalizados, logo sem família”.

O antigo ministro da Educação do Estado Novo, Leite Pinto, professor catedrático do IST, sobre a própria estatística , escreveu com ironia: “Há duas maneiras de mentir: uma é não dizer a verdade: outra é mentir”! Acresce que no comentário do professor Bruno Amaral se detecta uma irónica inverdade geográfica, apimentada com pós de verrina política: “A Venezuela aqui tão perto!”

Bem eu sei que nos regimes totalitários só existe o ensino oficial, mas também sei, em contrapartida, que na social-democracia da Finlândia, endeusada pelo seu sistema educativo, o ensino é, como li alhures, quase todo ele oficial.

Quanto às razões ou não razões deste diferendo, que tanta tinta tem feito correr, e fará, certamente, correr ainda, para não me tornar juiz em causa própria, apelo, em nome de uma riqueza argumentativa, a possíveis comentários de leitores, embora sabendo da dificuldade em se alcançar um consenso sobre argumentos tão contraditórios em defesa de meias-verdades porque, por vezes, como escreveu Bernard Shaw, “imaginamos o que desejamos, queremos o que imaginamos e, por fim, acreditamos no que queremos!”

2 comentários:

Rui Baptista disse...

Nas palavras finais do penúltimo parágrafo do meu post, rectifico: quase todo ele oficial.

António Pedro Pereira disse...

Senhor Bruno Amaral:
O desemprego já vai em 8000?
Como a demagogia não tem limites.
Quem ler esta sua patranha e acreditar pode pensar que o governo quer terminar todos os contratos de associação com todos os colégios que os têm.
Não, só quer cumprir o que está nesses contratos: estes só devem prosseguir, havendo mudança de ciclo, nos casos em que não existir alternativa na escola pública.
Mas nos casos em que haja continuação de ciclo os alunos acabarão o mesmo nos colégios com associação, mesmo que haja alternativa na escola pública
Afinal, estamos mais perto da Venezuela do que pensamos, da demagogia venezuelana, entenda-se.
Só que desta vez fomos pela estrada menos óbvia: a da Direita (a que aponta todos os males do mundo à Esquerda, mas que se comporta como ela mentindo sempre que tal lhe dá jeito).

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