domingo, 29 de maio de 2016

Razões para se defender a escola


“Os alunos merecem tudo, salvo a indiferença” 
Cécile Ladjali, 2005. 

“Quem pretende educar converte-se, de certo modo, 
em responsável pelo mundo (…), como muito bem assinalou 
Hannah Arendt, se lhe repugna esta responsabilidade,
mais vale que se dedique a outra coisa e que não estorve." 
 Fernando Savater, 1997. 


Sim, a escola pública têm de ser defendida. Tal como a escola privada.
Está escrito na Lei de Bases do Sistema Educativo e é certo que assim seja.

Independentes claro - não como acontece nesta desordem repleta de injustiças tanto para o sistema privado e cooperativo como para o sistema público -, mas com direito a coexistirem.

Centro-me agora apenas e só na escola pública, que é dela de que nos lembramos quando a vemos ameaçada (ou quando nos vemos ameaçados por a vermos ameaçada), digo que se a queremos defender temos de reconsiderar o que andamos a negligenciar, temos de superar os graves erros que estamos a cometer.

-  Temos, nomeadamente, de dar primazia ao "superior interesse" dos alunos, que é a aprendizagem. E para isso temos de os ensinar (sim, ensinar). Essa é a razão e a essência da escola.

- O "superior interesse" dos alunos não é, em primeiro lugar, satisfazer os seus "interesses individuais", eventualmente influenciados pelo "contexto local"; é levá-los a aprender, de modo formal, o que não podem aprender noutro lado, nem de qualquer maneira, pelo menos com a extensão e profundidade que a escola proporciona ou tem obrigação de proporcionar.

- Trata-se de um "interesse superior" porque esse ensino e essa aprendizagem podem permitir aceder a uma certa consciência do mundo, de si próprio, da existência; podem conduzir a um certo discernimento que, como civilização, construímos e que temos obrigação moral de fazer passar às novas gerações.

- Para isso temos de voltar a colocar no centro das nossas preocupações o conhecimento fundamental, aquele "conhecimento poderoso" que forma o pensamento se, a partir dele, estimularmos o desenvolvimento de capacidades cognitivas, afectivas (não no sentido corrente, mas no sentido que tem em Pedagogia) e motoras;

- Temos de ver a escola como escola. O espaço e o tempo onde só devem entrar e estar aqueles que se sentirem profundamente empenhados nesse desígnio, aqueles que, sem outro interesse que não seja o "superior interesse" dos alunos, de modo altruísta, queiram ensinar e cuidar.

- E isto é tarefa dos professores. Tarefa que não pode ser assumida por não profissionais e muito menos por empresas e por recursos tecnológicos, cada vez mais infiltrados na educação escolar. Os professores, os bons professores, têm de se afirmar como profissionais intelectuais que, com base em informação diversa, são capazes de decidir os desígnios da sua acção. Os professores não podem, enfim, deixar que o seu nobre lugar lhes seja sonegado, seja de que modo for.

(Entenda-se que isto não significa, de maneira alguma, que se recusem os recursos tecnológicos, sejam eles antigos ou novos, significa apenas e só que o ensino não pode ser transferido para esses recursos).

Assim, a defesa da escola pública não pode ficar pelo slogan "Eu amo a escola pública". Quem ama a escola - seja pública seja privada - tem de defender a aprendizagem e o ensino, os alunos e os professores, o direito de aprender e o direito de ensinar. Quem ama a escola tem de reafirmar a importância do conhecimento e da sua fruição, bem como das ideias/valores a que conduz, entre as quais está liberdade. Quem ama a escola tem de reafirmar também aquilo que já há muito deixou de ser falado: a "relação pedagógica", no âmbito da qual, de modo "artesanal" e não raras vezes com grande esforço, professore(s) e alunos "constroem" a aprendizagem.

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