O professor americano de bioquímica Bruce Ames, agora com 87 anos, choca por vezes as suas audiências com uma afirmação aparentemente paradoxal: os pesticidas contribuem para a diminuição do cancro!
A explicação, se pensarmos um pouco, faz sentido: os pesticidas permitem uma maior e mais económica produção agrícola, tornando as frutas e legumes acessíveis a um maior número de pessoas. Como a alimentação saudável faz diminuir muito mais o risco de cancro do que a presença ou contacto com resíduos insignificantes de pesticidas o faz aumentar, confirma-se a plausibilidade da afirmação. Mas, repita-se, é de resíduos insignificantes que se fala - perto dos baixíssimos níveis actualmente detectáveis - assim como de pesticidas cada vez mais seguros - outros não seriam aceites nem permitidos.
O cancro é individualmente, quase sempre, uma questão de azar ou sorte, mas no limite dos grandes números podem prever-se tendências. A alimentação pode, em geral, ser relacionada com cerca de um terço dos cancros; outro terço pode ser ligado a infecções e viroses crónicas, assim como a factores genéticos. O outro terço pode ser relacionado com factores múltiplos como o fumo do tabaco, o consumo exagerado de álcool, a exposição solar e outros factores comportamentais e ambientais, em boa parte naturais. Também o normal evelhecimento faz, como é sabido, aumentar o risco de ter cancro.
O glifosato é um herbicida relativamente seguro em termos toxicológicos comparado com outros herbicidas como o paraquat. A sua persistência no ambiente é também relativamente breve. Por isso, numa sociedade que só tem 1% das pessoas a trabalhar na agricultura e não tem forma de voltar a arrancar ervas à mão ou com uma sachola - o que seria verdadeiramente biológico, mas utópico em larga escala - é considerado uma mais valia por ser um dos herbicidas mais seguros conhecidos, com a vantagem de ser agora genérico e não dependente da famigerada Monsanto. Para além disso, a discussão sobre a suspeita deste herbicida ser cancerígeno e disruptor endócrino tem origem em estudos envoltos em polémica. (Veja-se a bibliografia seleccionada de algumas linhas que escrevi sobre o glifosato há alguns meses, num contexto mais vasto e de forma livre e solitária, não adivinhando as notícias recentes).
É fundamental que as pessoas (também os profissionais da ciência) tenham sentido crítico. Se estamos predispostos a desconfiar de algumas coisas, não podemos em seguida confiar cegamente noutras. Mesmo a literatura científica e as notícias que esta origina devem ser lidas com saudável cepticismo (tanto mais que nem sempre as notícias correspondem ao conteúdo real dos artigos). E quanto maior for a nossa propensão para acreditar mais devemos forçar-nos a fazer essa análise crítica.
É raramente notado que a forma com a literatura científica se organiza, realçando a originalidade e os avanços técnicos, como sejam níveis de detecção cada vez mais baixos, faz com que a atenção se desloque para aspectos insignificantes para a segurança do público, afastando-nos dos problemas muitas vez mais reais, mas por serem comuns são em geral quase invisíveis. Ter fumado um cigarro, ou respirar regulamente os vapores dos combustíveis e dos escapes dos automóveis faz, em termos estatísticos, aumentar mais a probabilidade de ter um cancro do que comer uma maça com um resíduo insignificante de um pesticida, mas a focagem é em geral para o último caso que poderá ser novidade, não os outros, já bem conhecidos.
Também é preciso procurar ler o real sentido das afirmações. Ser considerado suspeito de ser cancerígeno é muito diferente de ser comprovadamente cancerígeno. Para além disso é preciso ter alguma ideia da origem dos dados. Por exemplo, os testes com animais são realizados com doses muito altas e nem sempre são extrapoláveis nem o resultado é válido devido à inadequação dos modelos animais e das doses exageradas. Acresce que a esses resultados se associam factores multiplicativos de segurança. Muitas vezes as provas contra os suspeitos não são muito fortes, mas por segurança indica-se a sua condição de suspeito, não se dando por vezes atenção a todos os outros comprovados culpados mais comuns e menos mediáticos.
Convém também notar que a fracção de cancros comprovadamente atribuíveis a “químicos” é menos de um por cento, já considerando “químicos” de origem natural como o estragole do mangericão - só para citar um exemplo pouco conhecido -, entre outros.
No entanto, o pavor dos “químicos” faz as pessoas perder a cabeça. Numa petição recente a pedir a proibição do glifosanto, há dezenas de comentários a pedir o fim de todos os “químicos”! Dizer que somos “químicos”, respiramos e comemos “químicos”, mais ou menos naturais, é trivial. Todos os alimentos naturais estão cheios de “químicos”, como a maçã da figura. Mas, mais do que isso, é importante que as pessoas percebam que é devido aos “químicos” que temos alimentação, água potável e segurança alimentar para cada vez mais pessoas; que temos medicamentos, maior esperança de vida e confortos modernos e que, em última análise, diminuimos o número de cancros e a mortalidade devida a eles.
A explicação, se pensarmos um pouco, faz sentido: os pesticidas permitem uma maior e mais económica produção agrícola, tornando as frutas e legumes acessíveis a um maior número de pessoas. Como a alimentação saudável faz diminuir muito mais o risco de cancro do que a presença ou contacto com resíduos insignificantes de pesticidas o faz aumentar, confirma-se a plausibilidade da afirmação. Mas, repita-se, é de resíduos insignificantes que se fala - perto dos baixíssimos níveis actualmente detectáveis - assim como de pesticidas cada vez mais seguros - outros não seriam aceites nem permitidos.
O cancro é individualmente, quase sempre, uma questão de azar ou sorte, mas no limite dos grandes números podem prever-se tendências. A alimentação pode, em geral, ser relacionada com cerca de um terço dos cancros; outro terço pode ser ligado a infecções e viroses crónicas, assim como a factores genéticos. O outro terço pode ser relacionado com factores múltiplos como o fumo do tabaco, o consumo exagerado de álcool, a exposição solar e outros factores comportamentais e ambientais, em boa parte naturais. Também o normal evelhecimento faz, como é sabido, aumentar o risco de ter cancro.
O glifosato é um herbicida relativamente seguro em termos toxicológicos comparado com outros herbicidas como o paraquat. A sua persistência no ambiente é também relativamente breve. Por isso, numa sociedade que só tem 1% das pessoas a trabalhar na agricultura e não tem forma de voltar a arrancar ervas à mão ou com uma sachola - o que seria verdadeiramente biológico, mas utópico em larga escala - é considerado uma mais valia por ser um dos herbicidas mais seguros conhecidos, com a vantagem de ser agora genérico e não dependente da famigerada Monsanto. Para além disso, a discussão sobre a suspeita deste herbicida ser cancerígeno e disruptor endócrino tem origem em estudos envoltos em polémica. (Veja-se a bibliografia seleccionada de algumas linhas que escrevi sobre o glifosato há alguns meses, num contexto mais vasto e de forma livre e solitária, não adivinhando as notícias recentes).
É fundamental que as pessoas (também os profissionais da ciência) tenham sentido crítico. Se estamos predispostos a desconfiar de algumas coisas, não podemos em seguida confiar cegamente noutras. Mesmo a literatura científica e as notícias que esta origina devem ser lidas com saudável cepticismo (tanto mais que nem sempre as notícias correspondem ao conteúdo real dos artigos). E quanto maior for a nossa propensão para acreditar mais devemos forçar-nos a fazer essa análise crítica.
É raramente notado que a forma com a literatura científica se organiza, realçando a originalidade e os avanços técnicos, como sejam níveis de detecção cada vez mais baixos, faz com que a atenção se desloque para aspectos insignificantes para a segurança do público, afastando-nos dos problemas muitas vez mais reais, mas por serem comuns são em geral quase invisíveis. Ter fumado um cigarro, ou respirar regulamente os vapores dos combustíveis e dos escapes dos automóveis faz, em termos estatísticos, aumentar mais a probabilidade de ter um cancro do que comer uma maça com um resíduo insignificante de um pesticida, mas a focagem é em geral para o último caso que poderá ser novidade, não os outros, já bem conhecidos.
Também é preciso procurar ler o real sentido das afirmações. Ser considerado suspeito de ser cancerígeno é muito diferente de ser comprovadamente cancerígeno. Para além disso é preciso ter alguma ideia da origem dos dados. Por exemplo, os testes com animais são realizados com doses muito altas e nem sempre são extrapoláveis nem o resultado é válido devido à inadequação dos modelos animais e das doses exageradas. Acresce que a esses resultados se associam factores multiplicativos de segurança. Muitas vezes as provas contra os suspeitos não são muito fortes, mas por segurança indica-se a sua condição de suspeito, não se dando por vezes atenção a todos os outros comprovados culpados mais comuns e menos mediáticos.
Convém também notar que a fracção de cancros comprovadamente atribuíveis a “químicos” é menos de um por cento, já considerando “químicos” de origem natural como o estragole do mangericão - só para citar um exemplo pouco conhecido -, entre outros.
No entanto, o pavor dos “químicos” faz as pessoas perder a cabeça. Numa petição recente a pedir a proibição do glifosanto, há dezenas de comentários a pedir o fim de todos os “químicos”! Dizer que somos “químicos”, respiramos e comemos “químicos”, mais ou menos naturais, é trivial. Todos os alimentos naturais estão cheios de “químicos”, como a maçã da figura. Mas, mais do que isso, é importante que as pessoas percebam que é devido aos “químicos” que temos alimentação, água potável e segurança alimentar para cada vez mais pessoas; que temos medicamentos, maior esperança de vida e confortos modernos e que, em última análise, diminuimos o número de cancros e a mortalidade devida a eles.
29 comentários:
Este artigo fez-me lembrar deste gráfico no "Skeptical Environmentalist" do Bjorn Lomborg que mostra que tomar café 3x ao dia oferece um risco de cancro 100x maior do que a maioria dos pesticidas.
https://books.google.pt/books?id=JuLko8USApwC&pg=PA234#v=onepage&q&f=false
E é mesmo para lembrar! A precepção do risco potencial não deve ser confundida com o risco real ou estimado. É milhares de vezes mais seguro andar de avião que de carro, mas a nossa percepção do risco engana-nos. Olhando para trás e corrigindo eventuais erros que existem nesse livro, aliás prontamente reconhecidos pelo autor vê-se facilmente que Lomborg é que estava certo em relação aos excessos de pessimismo. Da mesma forma que olhando para trás vemos que Raquel Carson, descontando também os erros que tem o seu livro, tinha razão em relação aos exageros no optimismo. É curioso que estes dois livros, muito citados mas pouco lidos, sejam acusados ou louvados pelo que não têm. O primeiro nunca negou o aquecimento global e o segundo nunca negou completamente a utilização de "químicos".
A Org M de Saúde classificou o glifosato na cat 2A de carcinogenicidade (causa cancro em animais de laboratório e provavelmente causa cancro em humanos). Se a escolha é entre o mal menor - comida com pesticidas tóxicos por um lado e falta de comida por outro - então eu diria que não só precisa de se atualizar quanto à produtividade da agric biológica como de ganhar consciência de que esse é o último argumento que sobra à "famigerada" indústria. O glifosato está associado a agricultura que induz a erosão, declínio da biodiversidade, privatização do germoplasma e, a nível alimentar, uma degradação da vitalidade em virtude do megaprocessamento. Isto é tudo o mesmo pacote, e a mesma lógica. E o Sérgio está a defender que a gente se contente... Espero bem que os seus filhos mereçam melhor.
Aquilo que a literatura (com as incorrecções que todos lhes possamos apontar) indica é que, ainda não há absoluta certeza sobre os efeitos, como não há com muitos dos "quimicos" que actualmente se utilizam, se não vejamos, muitos deles estão há menso de 20 anos no mercado, por isso o efeito macivo sobre as populações, não pode ainda ser estudado, mais ainda, a acumulação de residuos ocorre principalmente no tecido adiposo e, como todos sabemos, a obesidade está a aumentar a um ritmo assustador... conhece algum estudo que defina qual a quantidade deste ou de outros químicos que se acumula no organismo de um obeso, pré-obeso ou da população em geral com estatura normal? E os efeitos a médio/longo prazo nos processos de divisão celular? Foram testados?!
Além disso, o facto da pessoa consumir mais fruta e legumes não significa que esteja a comer melhor, com mais qualidade, significa sim que está a comer com mais segurança, isso da qualidade é outra história onde os quimicos, para tristeza de muitos, ficam à porta...
Deixe-me que discorde da questão de não se poder produzir mais "com sachola"... o modo de produção biológico tem provas dadas do ponto de vista económico, ambiental e nutricional... basta olhar para Portugal e ver os hectares e hectares que estão em pousio na beira, em trás-os-montes, no alentejo... e depois vemos a produção massiva no oeste, com alguns bons exemplos é certo, mas com outros tantos muito maus...
Não, os quimicos não são bons, não são opção, não o podem ser e felizmente há já países a restringir o seu uso em maior ou menor escala!
Aquilo que a literatura (com as incorrecções que todos lhes possamos apontar) indica é que, ainda não há absoluta certeza sobre os efeitos, como não há com muitos dos "quimicos" que actualmente se utilizam, se não vejamos, muitos deles estão há menos de 20 anos no mercado, por isso o efeito massivo sobre as populações, não pode ainda ser estudado, mais ainda, a acumulação de residuos ocorre principalmente no tecido adiposo e, como todos sabemos, a obesidade está a aumentar a um ritmo assustador... conhece algum estudo que defina qual a quantidade deste ou de outros químicos que se acumula no organismo de um obeso, pré-obeso ou da população em geral com estatura normal? E os efeitos a médio/longo prazo nos processos de divisão celular? Foram testados?!
Além disso, o facto da pessoa consumir mais fruta e legumes não significa que esteja a comer melhor, com mais qualidade, significa sim que está a comer com mais segurança, isso da qualidade é outra história onde os quimicos, para tristeza de muitos, ficam à porta...
Deixe-me que discorde da questão de não se poder produzir mais "com sachola"... o modo de produção biológico tem provas dadas do ponto de vista económico, ambiental e nutricional... basta olhar para Portugal e ver os hectares e hectares que estão em pousio na beira, em trás-os-montes, no alentejo... e depois vemos a produção massiva no oeste, com alguns bons exemplos é certo, mas com outros tantos muito maus...
Não, os quimicos não são bons, não são opção, não o podem ser e felizmente há já países a restringir o seu uso em maior ou menor escala!
O álcool é um agente carcinogénico bastante pior que o glifostato. Há muito sítio por onde nos preocuparmos antes de eliminarmos essa componente da nossa comida.
Caro anónimo: Eu posso, se quiser, optar por beber água e não bebidas alcoólicas. Não tenho o mesmo direito no que toca ao glifosato. É uma enorme diferença... Além disso, parece estar a implicar que há uma lista hierarquizada de prioridades de "preocupação". Gostava de saber onde está, quem a fez, e quais os critérios. Se os consumidores vão apanhar os cancros que o glifosato vier a causar, os consumidores deviam ter uma palavra a dizer no ordenamento dessa lista, não acha?
Margarida e Ana, muito obrigado pelos comentários. Estamos hoje muito melhor do que há umas décadas atrás em termos de controlo e segurança alimentar. Todas as alternativa melhores devem ser consideradas, claro. Mas é preciso que sejam mesmo melhores em todos os aspectos. Recupero aqui umas frases que escrevi no Facebook: Só "defendo" (e faço-o apenas com a minha consciência e liberdade científica) o uso de pesticidas (uma palavra onde na UE cabe quase tudo, desde herbicidas e insecticidas a reguladores de amadurecimento) como o último recurso numa agricultura racional e sustentável. Gosto muito da agricultura biológica que no seu nicho de 1% do mercado até é lucrativa (embora possa não ser sustentável em termos globais), mas esta não consegue alimentar o mundo (vejam o link do artigo que publiquei no boletim da SPQ). Quisessem mais pessoas voltar à agricultura em vez de termos uma economia baseada nos serviços financeiros que nada produzem, masa enfim essa é outra questão... Quanto à qualidade: Há muitos artigos a analisar a qualidade dos alimentos biológicos em relação aos obtidos de forma mais tecnológica e não são conclusivos, são até em alguns casos paradoxais. Também a questão da sustentabilidade tem muito que se lhe diga. Há uns tempos apareceu um artigo a mostrar que a carne era mais sustentável do que os vegetais e os legumes! Verificou-se noutros que isso só era assim nos EUA onde se gasta demasiada água, mas não se aplicava à leguminosas e cereais. Enfim é muito difícil formular opiniões sensatas no meio de tanta informação, deesinformação e mal-entendido...
Margarida, pode sempre comprar ou cultivar legumes e frutas biológicos. O zero não existe (embora nanogramas ou picogramas seja bastante perto, em termos realistas disso), mas há sempre alternativas. Ninguém pode garantir que não possa existir alguma relação ente alguma coisa e outra (a ciência não tem certezas, apenas grandes ou equenas probabilidades), mas os artigos que consultei, incluindo um que foi retirado pelo editor e republicado e que cito no link referido) não permitem concluir que haja evidência do efeito carcinogénico do glifosato. É preciso que se note que o possível efeito carcinogénico não é tudo. Há venenos naturais e mortais que matam sem serem nada cancerígenos (vejo algumas das plantas que os produzem todos os dias nos caminhos que percorro). Tudo o que comemos nos afecta por mais natural que seja. Até os famosos antioxidantes podem em alguns casos ser prejudiciais (se já tivermos um cancro). Viver é sempre morrer um pouco. Viver com demasiadas preocupações em medos é menos suadável do que confiar um pouco (mas não demasiado) nas instituições que nos rodeiam.
Caro Sérgio,
Claro que posso comprar bio. Mas, se estudar a literatura, vai ver que isso não é suficiente. Há glifosato no ar e na água em quantidades significativas, por exemplo. E quem come em cantinas não tem escolha nenhuma. É impossível, por muito que eu queira, criar uma bolha de proteção à volta da minha família. Portanto, ao contrário do que diz, não há sempre alternativas a não ser uma: impedir o uso comercial de todos os químicos (sintéticos ou naturais) sobre os quais se saiba o suficiente no que toca a impactos negativos na saúde e no ambiente (seja cancro ou outra coisa qualquer).
E sim, há artigos que não permitem tirar conclusões entre o glifosato e cancro. Mas há outros que permitem. E esse foi o trabalho feito pela Org Mundial de Saúde. Portanto por aí estamos conversados - o glifosato está na categoria 2A e espero que não desvalorize essa classificação.
É triste que me fale em medos quando eu estou a falar em dados concretos. Os que criticam não são obscurantistas... e os que acham que falam em nome da ciência tendem a ter tantas assunções inconscientes que mais lembrariam altos sacerdotes de uma qualquer religião.
Se a ciência não quer cair na armadilha do dogma então vamos desmistificar! A partir do momento em que o glifosato tem tudo para causar cancro (além de desregulação hormonal e defeitos de nascimento, impactos que nem sequer se coadunam com nano ou picogramas porque não são lineares e não permitem estabelecer limiares de segurança) ele deve ser suspenso. Essa é a forma de proteger as pessoas face à incerteza e ignorância científica. Quando houver uma decisão final, e se o glifosato afinal for inocente, então que se autorize de novo.
Até lá, caramba, vamos ser honestos e evitar a mistura de alhos com antioxidantes.
Não podemos cair na falácia do miscroscópio! As nossas capacidades analíticas são assombrosas mas isso não aumenta o perigo apenas permite detectar quantidades cada vez menores. Há tudo no ar e em todo o lado. Há uns anos notaram que nos EUA havia mais amianto no ar que o valor mínimo permitido dentro das escolas. Que metade das notas dos EUA tinham estado em contacto com moléculas de cocaína (bastou que uma tocassem nas outras)! Que o nível de dioxinas no ambiente mais puro e preservado não pode ser nulo. Que podemos detectar e identificar microparticulas de carbono prevenientes de impressoras e escapes dos carros, etc. Temos de contexturalizar. Saber é melhor que não saber. E temos de comparar. Nada pode ser separado. A separação só está na nossa cabeça. A primeira vez que tentaram destilar água, destilaram-na centenas de vezes e ainda não era pura.
Caro Sérgio,
Por essa lógica tudo faz mal e tudo não faz mal. Isso leva ao imobilismo que dá cheque em branco a quem polui. Quando os cancros estão a aumentar (mesmo ajustando para a longevidade), quando as doenças degenerativas em geral ganham uma preponderância nunca dantes vista, alguma coisa tem culpa e alguma coisa tem de mudar. Não conseguimos resolver tudo de uma vez, mas que tenhamos alguma ação defensiva pelo menos nos casos em que há provas suficientes de toxicidade. Infelizmente, os seus raciocínios, vão noutro sentido.
Cumprimentos,
Margarida
Caro Sérgio,
Um certo relativismo tomou conta deste blogue, limitem-se a falar dentro da vossa área de especialização,porque logo que saem daí, é só asneira!!!
Caro Sérgio.
Concordo consigo em quase tudo... excepto numa questão fundamental. É que o facto de não haver certezas, não significa que não haja dúvidas....e, como tal, todos os seus argumentos caem por terra. Como diz a Margarida Silva, deve ser impedido o uso comercial de todos os químicos (sintéticos ou naturais) sobre os quais se saiba o suficiente no que toca a impactos negativos na saúde e/ou no ambiente (seja cancro ou outra coisa qualquer).
Cara Maria Sousa, também concordo consigo no que concerne à possível falácia da dúvida versus certeza (i.e. existir ou não uma não implica não exclui a outra). Ademais, não há certezas em ciência, mas isso não a torna relativa. Continua a ser a coisa mais precisa e eficaz que temos para agir sobre a realidade material e sobre este tipo de assuntos. E, claro, todas as as dúvidas devem ser seguidas e estudadas, o que de resto é feito e refeito todos os dias pela comunidade científica que faz os possíveis por criar avanços científicos e arriscar sair das suas zonas de conforto e não se limita a explorar particularidades confortáveis do "jogo das contas de vidro". O excesso de optimismo tem-se pago caro em alguns casos; um exemplo foi a talidomida que, de resto, encontrou uma "nova vida" no tratamento da lepra. Mas, seria uma falácia dizer que este caso é semelhante e que por isso temos de fazer mais estudos. Já foram feitos muitos e sem provas razoáveis contra uma coisa que funcionam há décadas, não há grandes razões para as proibir. Muitas das coisas que nos rodeiam não são completamente conhecidos, ou temos ideia erradas sobre eleas, mas isso não é razão para as proibir até termos mais certezas, ou acharmos que as temos. Há muitos assuntos sobre os quais sabemos pouco (mesmo e apesar de estarmos na presença de centenas de artigos sobre o assunto); e mesmo os "grandes especialistas" dizem por vezes asneiras, mesmo nas suas áreas de eleição. Errar é uma das possibilidades da ciência que se vai corrigindo com mais ciência.
Sem querer achar que tenho a última palavra sobre este assunto, gostaria de deixar bem claro que não tenho certezas absolutas sobre ele - como de resto não tenho sobre nenhum assunto -, mas não o considero relativo. Podemos tomar sobre ele decisões objectivas e informadas. Finalmente, há que referir que estas coisas não são de todo relativas. Há coisas verdadeiramente cancerígenas, como por exemplo o fumo do tabaco ou os compostos aromáticos presentes na gasolina, e outras verdadeiramente venenosas. E há escalas, doses e dados para quase tudo isso. A fixação num composto apenas - uma espécie de bode expiatório dos nossos medos - pode ser confortável e fácil, mas não dá conta da complexidade da realidade.
Reflexão muito importante: a percepção humana, sem recurso ao estudo dos dados, é sempre limitada.
E, neste caso, talvez a primeira e mais importante limitação seja esquecer que falamos da alimentação em termos globais. A quantidade de alimentos de origem agrícola que é necessária - para todos, de todos os níveis de rendimento - não se compadece com tecnologias de produção limitadas ou artesanais, inevitavelmente mais caras.
A qualidade pretende-se melhorada, sempre. De resto, tal esteve sempre na vontade de quantos, na História, produziram tais alimentos - não se prospera com maus produtos! Nenhuma tecnologia de produção de alimentos agrícolas se avolumou sem intervenções humanas - quer químicas, quer genéticas. E o resultado ficou patente: menos fome e melhor desenvolvimento, obra maior em sede de Humanismo.
Certamente que a segurança alimentar em Saúde Pública deve ter prioridade absoluta, diria mais, deve ser Cultura. E a Cultura Científica é a que, até hoje, mais procura objectividade, mais disponível ao escrutínio público se encontra, melhor assumiu erros e inflectiu procedimentos nefastos.
Não será a ideal - tal não existe, convenhamos - mas é a única que tem no seu desenho e na sua praxis a responsabilidade assumida de filtrar da espuma dos dias os dados relevantes, permitindo a todos a produção de Conhecimento em igualdade, sem dogmas.
Sérgio, a produtividade da agroecologia tem aumentado muito nos últimos tempos e já se fala noutro paradigma que vai para além da dicotomia entre o uso de herbicidas e o uso da sachola. Dá uma olhada por exemplo nos vídeos da Agenda Gotsch (procura no google) e vais ficar espantado com os ganhos de produtividade na agroecologia com o recurso da tecnologia e conhecimento científico, inclusivamente aplicado à larga escala o que é uma autêntica revolução. Isso rebate um pouco a linha central do teu texto em que o avanço científico está necessariamente relacionado com o uso de "químicos". A ciência, quando se quer, também pode ser direcionada para formas agroecológicas de produção é só mudar um pouco o chip.
Cara Margarida: faço minhas as suas palavras.
Caro Sérgio,
Por essa lógica tudo faz mal e tudo não faz mal. Isso leva ao imobilismo que dá cheque em branco a quem polui. Quando os cancros estão a aumentar (mesmo ajustando para a longevidade), quando as doenças degenerativas em geral ganham uma preponderância nunca dantes vista, alguma coisa tem culpa e alguma coisa tem de mudar. Não conseguimos resolver tudo de uma vez, mas que tenhamos alguma ação defensiva pelo menos nos casos em que há provas suficientes de toxicidade. Infelizmente, os seus raciocínios, vão noutro sentido.
Cumprimentos,
Obrigado Luís e Frederico pelos comentários. Frederico não fiquei convencido que esse projecto resolva o problema global nem os seus textos dão essa indicação (http://agendagotsch.com/texts/). Para uma palestra que fiz e o artigo que escrevi a partir dela (http://www.spq.pt/magazines/BSPQ/672/article/30002015/pdf) realizei alguma pesquisa sobre a economia e a ciência da agricultura biológica (veja-se as referências). O que é realçado nos EUA é que é cerca de 30% menos produtiva, mas mais de 30% mais lucrativa. Não é certo que estes valores se mantenham para aumentos de percentagens de agricultura biológica (que nos EUA é de 1%). Claro que talvez fosse bom caminhar-se para um outro tipo de sociedade preconizada por esse projecto, mas essa utopia é social e política e não científica e técnica. Em qualquer um dos casos penso que dificilmente se poderia, com os níveis de população actuais, avançar para experiências dessas em larga escala sem incorrermos em porblemas de sustentabilidade e produtividade. É que a famosa pegada ecológica também se aplica à agricultura tradicional e biológica...
O título deste artigo evidencia mais um daqueles usos falaciosos e enviesados da estatística, algo que é sempre de lamentar, especialmente num blogue científico. O sensacionalismo do texto também é evidenciado quando a única alternativa proposta aos herbicidas é a monda manual ou com a "sachola" - o autor já terá ouvido falar de roçadeiras? Concordo em absoluto que há que combater a disparatada paranóia contra os "químicos", mas não me parece que esta seja a melhor maneira. Mais ponderação e menos sensacionalismo, sff.
Não tendo o autor ouvido falar de roçadeiras, suponho que muito menos terá ouvido falar de inovações como o "eletroherb "...
https://www.youtube.com/watch?v=MR-Ccw65Jdw
Sérgio, li o teu texto e percebo a tua linha de raciocínio. Em todo o caso no que concerne à agricultura e ao uso de adubos químicos e pesticidas (bem como questões associadas à monocultura e outras) a tendência e o caminho é outro. Não te preocupes que a química será sempre importante mas o modelo dominante desde a revolução verde que no fundo é o que preconizas tenderá a acabar. O trabalho que referes é marginal. Para teres melhor noção do estado da arte a nível global e das implicações sociais, econômicas e ambientais dá uma olhada aqui. Não se trata apenas de alimentar a população mundial em quantidade, trata-se de qualidade, de defender o desenvolvimento rural, dar qualidade de vida às populações rurais, proteger florestas e ecossistemas sensíveis, qualidade de solos e água, etc. O conceito melhor para isso é a agroecologia (diferente de agricultura bio ou os seus derivados que referes no teu texto e vai muito para além do uso de químicos ou não), dá uma olhada no que se faz no brasil por exemplo e vê os relatórios globais que vão saindo da FAO ou UNCTAD, vais-te espantar como o mainstream das organizações internacionais tem vindo a evoluir neste tema. Um abraco http://iatp.org/blog/201309/new-un-report-calls-for-transformation-in-agriculture
Obrigado pelos comentários. O título é chamativo mas não é mais sensacionalista do que os típicos "x provoca o cancro"... O conteúdo é honesto em termos científicos. Acresce que o autor, pessoa com origem no campo, conhece e sabe usar uma grande parafrenália de alfaiais agrícolas, em particular sacholas, enxadas e roçadeiras, assim como sabe usar foicinhos, foices, gadanhas e forquilhas. Também sabe que cortar as ervas não chega, é preciso ir mais fundo e arrancar as suas raizes ou então sufocá-las, remexendo a terra ou usando técnicas de empalhamento, por exemplo. Remexer muito a terra é um problema pois acelera a erosão. Não conhecia esse electroherb... Poderá ser uma boa ideia - e se for óptimo, passamos bem sem pesticidas se não forem necessários - mas tenho algumas dúvidas que se matem ervas de forma eficiente assim. Voltando às roçadeiras. São muito barulhentas, usam combustíveis e obrigam a bastante mão de obra, não sendo muito mais eficientes do que a sachola que é mais silenciosa e pode retirar as ervas pela raiz - eu sei que já produzi o meu suor a usá-las. Nesse aspecto são comos os sopradores de folhas, parecem uma boa ideia, mas o que se perde em barulho, dores de costas e combustíveis ganha-se em paz com uma vassoura, em cujo cabo nos podemos apoiar, e um ansinho. Nada desta conversa pitoresca resolve os problemas do mundo.
Obrigado Frederico. Já conhecia esse relatório e documentos no mesmo sentido, mas vou ler outra vez. Quando dizes aqui referes-te ao que está no final, certo? Infelizmente muito deste debate é ideológico -o sentido menos nobre da cegueira dos preconceitos - e (pelo lado da indústria e dos especuladores financeiros que a dominam, por vezes) económico. Falaste do fim da revolução verde e lembrei-me da Vandana Shiva e a "Violência da revolução verde". Não fique convencido. Podemos encontrar melhores soluções, claro, mas não em muita da retórica que se lê hoje. Não receio que a química acabe, esta continuará a ser importante para o desenvolvimento de melhores soluções, mas não podemos vencer a termodinâmica...
"Voltando às roçadeiras. São muito barulhentas"
Antes a poluição sonora que a química, não acha?
"usam combustíveis"
Há roçadeiras elétricas. São aliás bem mais silenciosas. Podem ser usadas em pequenos quintais, à volta de casas, com umas extensões (eu uso uma, numa pequena casa de campo). Numa propriedade grande não se podem usar roçadeiras elétricas de um modo simples, mas em contrapartida já não há vizinhos para se queixarem do barulho.
"obrigam a bastante mão de obra"
Uma pessoa opera uma roçadeira, e pode cobrir grandes extensões em pouco tempo. Claro que dá menos trabalho atirar com uns herbicidas para cima, mas operar uma roçadeira não custa muito. Eu opero uma.
"não sendo muito mais eficientes do que a sachola"
Aqui entramos completamente no delírio. Quem defende que uma roçadeira não é mais eficiente que tecnologias anteriores à revolução industrial não pode estar a falar a sério. Este "argumento" é do mesmo nível do do título.
Sergio Rodrigues, obrigado por um dos artigos mais pseudocientíficos que já li. Pela sua ordem de ideias não é o tabaco que provoca cancro, mas o facto de respirarmos. Se não respirassemos não inalariamos o tabaco logo não teriamos cancro. O Sérgio salta de falácia em falácia até se começar a contradizer e começar a defender os biológicos. Defende uma coisa e o seu contrário produzindo uma opinião absolutamente nula! Para atingir este resultado bem podia nunca ter escrito nada que nos poupava a tanta imbecilidade!
A 'conspiração' do bórax - Como se impediu a cura da artrite
http://saude.acordem.com/blog/27147
A realidade é do caraças!
Comecei a escrever em blogues por volta de 2003. Por essa altura aprendi rapidamente que não valia a pena argumentar em caixas de comentários nem ligar a insultos ou pessoas que julgam saber tudo. Agradeço ao Filipe Moura e a um outro comentador acima por me recordarem uma lição que já tinha esquecido. O texto pode, claro ser discutido, mas por mim não tenho mais nada a dizer nestas caixas de comentários.
Isto não é uma resposta é um desabafo, pois sempre me disseram que só os tolos argumentam com os tolos. Mas tenho de assinalar -e só agora o notei - que esta absurdidade foi escrita por alguém que se identifica com o nome de um naturopata acumpunturista que pratica a pseudociência mais básica (procurar na literatura científica justificações para a sua "medicina alternativa" (melhor seria chamar-lhe negócio) - o que até é fácil na parte que em que esta se confunde com a farmacognosia, a fitoquímica e a etnobotânica) e que aparece na televisão com soundbites sobre bróculos que são super-alimentos e outras tolices e mezinhas, promovendo as suas "consultas". Posto isto devolvo ao João Beles com toda a delicadeza e urbanidade as "falácias" e a "imbecilidade". De resto, como disse abaixo já aprendi a lição e não discutirei mais em caixas de comentários.
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