Meu artigo no último "As Artes enter as Letras" (a exposição e hologramas "Janelas de Luz" está no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra):
Algumas
formas de arte devem a sua origem à ciência e tecnologia. É decerto esse o caso da fotografia e do cinema
que surgem no século XIX com base nos extraordinários desenvolvimentos da óptica e da química que caracterizaram esse século: o francês Nicéphore Niépce conseguiu realizar fotografias rudimentares em
papel de cloreto de prata com uma pequena câmara em 1816 e os, também franceses, irmãos Auguste e Louis Lumière apresentaram a primeira sessão pública de cinema, em Paris, em 1895, que mostram a
saída de operários da Fábrica Lumière (a
sua empresa de películas fotográficas). É curioso que os irmãos, chamados “luz”, tivessem inaugurado a
sétima arte na “cidade luz”.
Mas, no século XIX, o desenvolvimento do laser – uma ideia do físico suiço de origem alemã Albert Einstein em 1917 apenas concretizada com
luz visível pelo
norte-americano Theodor Maiman em 1960 permitiu novos desenvolvimentos artísticos baseados na ciência. Sem os lasers não teria sido possível, por exemplo, a nova arte da holografia.
O
pai da holografia é o engenheiro electrotécnico e físico húngaro mas naturalizado britânico Dennis Gabor: nasceu em Budapeste em 1900
(pertenceu a uma geração
de húngaros tão
extraordinários,
que já foram
chamados “marcianos de Budapeste” por não parecerem deste
mundo) e morreu em Londres em 1979. Foi um dos cientistas que fugiu da
Mitteleuropa nazi passando a trabalhar nos países aliados. Recebeu sozinho o prémio Nobel da Física de 1971 pela sua
invenção da holografia realizada na empresa British Thomson-Houston, em Rugby
(a modalidade desportiva chama-se assim por ter nascido nessa cidadezinha do
interior da Inglaterra), no ano de 1947. Sim, decorreram 24 anos entre a
invenção e o reconhecimento com o maior prémio científico do mundo! De
facto, o primeiro holograma só pôde
ser concretizado em 1964, quatro ano após a primeira luz do laser de Maiman. Até lá não passava de uma ideia, surgida no contexto dos
microscópios
electrónicos,
mas sem possibilidade de realização prática.
Um
holograma consegue-se fazendo incidir luz laser sobre um object que a devolve
para uma película fotográfica ao mesmo tempo que parte da mesma luz laser (desviada por vidros
semi-espelhados) incide na mesma película. O padrão gravado fotograficamente resulta da
interferência dos dois feixes de luz. Iluminado com um
laser por detrás
o padrão formado dá origem, por um fenómeno optico óptico chamado difracção, a um holograma, uma imagem
tridimensional do objecto (estes são hologramas ditos de “transmissão”). A holografia é muito mais do que um meio de obter tridimensionalidade: é um meio de gravação num formato compacto de informação sobre um objecto
tridimensional.
Existem
outros tipos de hologramas além daquele muito simples que foi descrito. Há, por exemplo, hologramas que podem ser vistos não com luz laser, que é monocromática, mas com luz branca, que é policromática. São hologramas de luz branca aqueles que podem ser vistos nas
imagens brilhantes que surgem nos cartões de créditos
e notas de banco que mostram uma das grandes aplicações da moderna holografia:
a autentificação como garantia de segurança, uma vez que não é fácil fazer hologramas deste tipo (chamados
hologramas de “transmissão de arco-íris”). E são também hologramas de luz branca aqueles que normalmente produzem imagens holográficas em que a luz branca está do mesmo lado que o observador (hologramas de
"reflexão").
Na
película formada
está codificada
informação sobre o objecto original que permite a reconstituição tridimensional da sua imagem. Quando se grava um holograma, a impressão de perspectiva é fantástica. Parece-nos que o
objecto real está lá quando
efectivamente não está. Com a extraordinária diminuição do preço dos lasers tornou-se
possível a
qualquer pessoa, desde que domine a tecnologia, fazer hologramas. Muitos
artistas tornaram-se assim autores de imagens holográficas. Já havia a fotografia estereoscópica e o cinema a três dimensões, mas a holografia é uma técnica diferente, oferecendo aos artistas novas
possibilidades de expressão. O pintor surrealista espanhol Salvador Dali, que
se revelou sempre
atento aos progressos da ciência, se não foi o primeiro artista a fazer hologramas foi,
pelo menos, o primeiro artista famoso a expor hologramas, numa exposição que
montou em Nova Iorque em 1972. O físico norte-americano,
professor do MIT, Stephen Benton, criador em 1968 dos hologramas de “transmissão de arco-íris”, foi também um artista. Para ele a holografia era a “intersecção da arte, ciência e tecnologia”. A colecção dos seus hologramas artísticos ficou de posse da sua escola, onde
co-fundou o famoso MIT Media lab, um espaço de investigação ao mesmo tempo artística, científica e tecnológica.
No
Ano Internacional da Luz foram apresentadas, em Portugal e em todo o mundo,
exposições de hologramas. A Comissão Nacional do Ano Internacional da Luz
comissionou a Fábrica Ciência
Viva da Universidade de Aveiro a preparação de uma exposição interactiva sobre
holografia, denominada “Janelas de Luz , que não só apresentava
uma colecção de doze hologramas de reflexão como convidava os visitantes a produzirem eles próprios os seus hologramas. O espaço principal é um
laboratório fotográfico munido de
lasers e películas de modo a gravar hologramas (o “Hololab”, laboratório de
hologramas). Um monitor ajuda em sessões destinadas a todos, embora
principalmente aos mais jovens, a fazer hologramas. A exposição foi preparada para poder ser itinerante. Abriu no átrio da Reitoria da
Universidade de Aveiro e depois disso já esteve no Cine-Teatro municipal da Guarda, Covilhã, Santa Comba Dão, estando agora no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. O visitante pode aprender a história e aplicações da
holografia, de modo a dissipar os mistérios dessa tecnologia baseada na luz.
As imagens holográficas são fotografias tridimensionais que se podem ver sem óculos especiais. Cinema holográfico ainda não existe. Mas os filmes de grande audiência têm mostrado a ideia da holografia. Nos filmes da “Star Wars” apareceu várias vezes o uso de hologramas para reunir pessoas a grandes distâncias. No filme “Superman II”, um dos personagens usa a holografia de uma forma bastante original: foge da prisão deixando um holograma de si próprio de modo a iludir os guardas...
As imagens holográficas são fotografias tridimensionais que se podem ver sem óculos especiais. Cinema holográfico ainda não existe. Mas os filmes de grande audiência têm mostrado a ideia da holografia. Nos filmes da “Star Wars” apareceu várias vezes o uso de hologramas para reunir pessoas a grandes distâncias. No filme “Superman II”, um dos personagens usa a holografia de uma forma bastante original: foge da prisão deixando um holograma de si próprio de modo a iludir os guardas...
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