domingo, 29 de maio de 2016

MANIFESTAÇÃO DOS COLÉGIOS À SOMBRA DA VELHA TORRE


"É fundamental que o estudante adquira uma compreensão
e uma percepção nítida dos valores”.
Albert  Einstein

Sobre os colégios portugueses com contrato de associação, fonte oficial dá-nos conta de um total de 2628 estabelecimentos de ensino na rede privada no continente - números de 2013/2014 -, incluindo pré-escolar, básico e secundário, acrescentando que há 79 colégios ou escolas privadas com contrato de associação com o Estado - escolas a quem o estado paga uma verba por turma/ano, para suprir fragilidades da rede pública -, que representam apenas 3% do total da rede de ensino privado. E mais adiantam  esses dados que desde 2001, foram eliminados 7.024 estabelecimentos de ensino público.

Sendo considerado o ensino na Finlândia um paradigma de incontroverso sucesso, extraio do blogue “Filandeando” (05/06/2014) alguns elementos relativos a esta temática que poderão ser comparados com os atrás apresentados. Assim, neste país escandinavo, existem escolas particulares na Finlândia sim, inclusive a universidade de Helsinki é privada agora ( porém continua gratuita). Imagine que na Finlândia tenha 40 mil escolas e 80 sejam particulares. é ridiculo o numero de escolas particulares, mas elas existem apenas porque por lei não podem ser fechadas, e são escolas com um método diferenciado ou religiosas ( ex. steiner ou católicas). As escolas privadas podem ter uma mensalidade ou não. Fato é: na Finlândia ter uma escola não é um negócio e ser professor não é profissão, é sacerdócio”.

Sempre considerei não voltar ao assunto dos colégios com contrato de associação, embora, como escreveu Eça, não fosse um vencido que se retirava; era um enfastiado que se safava. Não seriam, portanto e apenas, estes dados que me obrigariam a mudar de opinião por  serem possivelmente do conhecimento de leitores que se tenham debruçado sobre uma temática que desperta o interesse permanente dos media: jornais, rádio e televisão. Aliás, facto que se justifica plenamente porque, como foi reconhecido ainda pelo autor de “Os Maias”, “uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos pelos seus artistas”.

Faço-o, portanto, numa altura em que existe o risco de ser passada publicamente a mensagem de que quem discorda dos contratos de associação está com a Fenprof/PCP, situando a direita ao lado de quem se manifesta a favor dos contratos de associação. Isto porque não me quero tornar exemplo que não colhe por provas dadas na minha constante divergência pública para com uma forma de sindicalismo por parte da Fenprof que encontra na rua o palco para impor o direito da força à força do Direito.

Assim, a título de mero exemplo, colhido de entre muitos outros, em “Cartas ao leitor”, intitulada “A máscara”, escrevi: “Numa época em que, segundo Alexander Soljenitzyn, ‘o relógio do comunismo já soou todas as badaladas’, os verdadeiros interesses da sociedade, das escolas, dos professores e dos alunos estarão resguardados e bem servidos com um sindicalismo retrógrado e ultrapassado?” (Público, 17/04/2008).

Para além de outros idênticos, um acontecimento mais recente relacionado com uma manifestação pública levada a efeito por colégios com contratos de associação, levaram-me a repensar, esta minha posição inicial que tinha como definitiva. Reporta-se ele a esta notícia:

“Vestidos de amarelo, cerca de 300 professores, encarregados de educação e alunos de colégios com contratos de associação aproveitaram, a presença do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e do primeiro-ministro, António Costa, em Coimbra, para voltar a manifestar o desagrado com a decisão do Governo em não financiar turmas de início de ciclo nestas instituições.

Nas bermas da Rua Larga que dá acesso à Universidade de Coimbra, os manifestantes cantaram o hino nacional, empunharam cartazes de protesto e entoaram palavras de ordem como ‘liberdade’, ‘igualdade ‘ e ‘excelência’ (…) Primeiro a chegar à cerimónia de doutoramento ‘honoris causa’ de António Guterrres, António Costa foi directamente para a Porta Férrea tendo sido recebido com vaias, apupos e gritos ‘covarde’ pelos manifestantes” (Público, 23/05/2016).

Não posso deixar de registar o facto de, em citação incompleta dos princípios que nortearam a Revolução Francesa, liberté, egalité, fraternité, não terem os manifestantes das escolas com contrato de associação apelado à fraternidade para com o ensino oficial com um passado de excelência que tem sido descurado pela actual diminuição da sua população escolar, professores no desemprego ou deslocados para longe da sua zona habitacional por “horários zero” e degradação de instalações. Degradação que mereceu, inclusivamente, esta notícia jornalística  de página inteira: “PS-Porto lançou uma petição para recuperar a Escola Secundária Alexandre Herculano. Lá dentro  chove, as janelas perderam vidros, e paredes e chão esboroam-se e não é possível usar as novas tecnologias” (Público, 24/05/2016).

Finalmente, porque, colhendo novamente o exemplo da Finlândia, “seja lá o que o aluno vier a ser, ele terá que ter aprendido a ter ética profissional e ser gente”,  não pode deixar de me merecer forte repúdio a participação de crianças (as crianças senhores!) em manifestações de rua como se a solução para questões do vil metal envolvidas no caso das escolas com contrato de associação se resolvessem desta maneira e não em tribunais em que se dirimem causas em confronto litigioso.

Em flashback ao pórtico deste meu artigo, estará destinada a magna manifestação pública conjunta de dirigentes, professores, alunos e funcionários, marcada para hoje (anda que mesmo se isenta de vaias, apupos, e insultos anteriores), destinada a que “o estudante adquira uma compreensão  e uma percepção nítida dos valores”? Decididamente, acho que não!

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