terça-feira, 8 de setembro de 2015
REGRESSO AO PASSADO NA CIÊNCIA
Os recentes cortes brutais na ciência e tecnologia, da lavra do actual governo, representam, sem dúvida, um regresso ao passado na ciência em Portugal. É ciência para poucos, agravada pelo facto de, após a desastrada avaliação da FCT/ESF, eles não serem necessariamente os melhores. E o que há no passado? Em Portugal há um sistema político chamado Estado Novo, cujas ideias para a ciência estão num recorte para o qual Gonçalo Velho me chamou a atenção (sublinhados meus):
"REORGANIZEM-SE E DOTEM-SE OS CENTROS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA cujas actividades devem ser coordenadas e intensificadas Foi este o voto emitido pela Assembleia Nacional Na Assembleia Nacional prosseguiu e terminou ontem o debate acerca do aviso-prévio sobre a maneira como tem sido considerada a investigação científica em Portugal.
O sr. comandante Sarmento Rodrigues declarou que, se investigação científica é fonte de alegria para os homens de ciência, para o homem político ela é sobretudo, um motivo de fortes preocupações. Tão fogosa actividade não é, sequer, preocupação ou descoberta dos tempos moderno. Citou grandes investigadores desde a antiguidade até aos tempos de hoje, para demonstrar que, como geográficos, meteorologistas e em muitos outros ramos, prestámos dos maiores serviços à Humanidade. A investigação científica não é coisa nova, nem rara; mas, como tem hoje de ser organizada, passou para o domínio comum, competindo aos governos promovê-la, estruturá-la e orientá-la. Está fora da realidades da vida fazer ciência apenas pela ciência - disse, baseando-se nas palavras do presidentes Benés. E concluiu, nesse passo, que, no caso português será inadmissível desligar a investigação científica da ideia de criar bem. estar para a colectividade.
Analisando aquilo que poderemos fazer, e que será conveniente fazer, considerou que, sendo o nosso País de reduzida população e de limitados recursos financeiros, não poderíamos pensar em certas fantasias, que só podem podem ser tornadas realidades pelos Estados Unidos e poucas mais nações. temos, no entanto, possibilidade e necessidade de investigar.
Citou o prof. Egas Moniz como exemplo das nossas possibilidades e a aclão desenvolvida por vários institutos de investigação na Metrópole e no Ultramar, e salientou que, sempre que a investigação seja indispensável e possível, não lhe devemos regatear os meios, nem os incentivos, nem as condições de trabalho. Considerou que, não fazendo sentido que fossemos procurar descobrir o que já estava descoberto se imponha, antes de mais nada, fazer a recolha dos ensinamentos que vão sendo intensamente produzidos nos centros dr investigação internacionais. (...) "
O SÉCULO. 18/Março/1950
PS) Benés foi presidente da Checoslováquia no pós-guerra.
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