Eugénio De
Andrade
Poema do livro Obscuro Domínio:
Escrito no muro
Procura a maravilha.
Onde a luz coalha
e cessa o exílio.
Nos ombros, no dorso,
nos flancos suados.
Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.
Ou a sombra espessa.
Na laranja aberta
à língua do vento.
No brilho redondo
e jovem dos joelhos.
Na noite inclinada
de melancolia.
Procura.
Procura a maravilha.
Federico García Lorca
Tenho medo de perder a
maravilha
Tenho medo
de perder a maravilha
de teus
olhos de estátua, e o acento
que de noite
me põe em plena face
a solitária
rosa de teu alento.
Tenho pena
de ser nesta imagem
tronco sem
ramos; e o que mais sinto
é não ter a
flor, polpa ou argila,
para o verme
de meu sofrimento.
Se tu és o
meu tesouro oculto,
se és a
minha cruz e minha dor molhada,
se sou o cão
do teu senhorio,
não me
deixes perder o que ganhei
e decora as
águas do teu rio
com folhas
do meu Outono alienado
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