Uma associação de professores de matemática faz correr uma petição contra a aplicação do Programa de Matemática - mais precisamente de Matemática A - do Ensino Secundário, que se encontra homologado. As razões que invoca são, no essencial, as seguintes: grau de abstracção do programa, abordagem extremamente formalista e teórica, que se distancia da aplicação da Matemática ao dia-a-dia. São razões muito estranhas, pois:
1. As aprendizagens escolares tendem, por princípio, para a abstracção; a abstracção é o seu fim. Não nos podemos esquecer que o conhecimento abstracto constitui e alimenta a inteligência;
2. A Matemática é uma linguagem abstracta e formalizada, a sua natureza é essa. É a linguagem universal que as áreas científicas ditas "duras" usam justamente por ser... abstracta e formalizada. Mudando-lhe a natureza será qualquer outra coisa, mas deixa de ser Matemática.
3. Aprende-se Matemática antes de mais, para... saber (o tal "valor em si" do conhecimento, de que nos estamos sempre a esquecer), depois, como disse em 1, para ampliar certas capacidades que se traduzem em inteligência, e só depois, se for o caso, para aplicar no dia-a-dia. Por isso, não, a Matemática não pode ficar refém da aplicação que pode ter no dia-a-dia... O dia-a-dia é demasiado restritivo para as potencialidades que a Matemática tem;
4. Estamos a falar do Ensino Secundário, mais concretamente do Programa de "Matemática A". Isto significa que é a Matemática mais avançada que se oferece no Ensino Secundário, destinada a alunos que pretendem ingressar no Ensino Superior na área das Ciências (Física, Química, etc, todas as Engenharias, a Economia).
sábado, 8 de novembro de 2014
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O QUE É FEITO DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS?
Passaram mil dias - mil dias! - sobre o início de uma das maiores guerras que conferem ao presente esta tonalidade sinistra de que é impossí...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
6 comentários:
É desse mal que enferma o nosso ensino, desde há largos anos, e que se vem acentuando: tudo tem de ter uma aplicação "prática", passe a redundância. Ainda me lembro das "célebres" técnicas de "motivação", em que se propunha ao professor que, para introduzir qualquer matéria, em qualquer aula, tinha que, em primeiro lugar, motivar o aluno para a aprendizagem desses conteúdos. De modo que, o professor era quase obrigado a fazer o pino. Assim, muitas vezes, o professor passava mais tempo a "motivar" do que a leccionar a "matéria" da aula! E de tudo isso o que resultava? Se o aluno não queria aprender, não havia nada que o motivasse. Mas o aluno, especialmente no ensino secundário, tem de estar na aula para aprender, essa é a sua motivação. Por isso a "abstracção" também é combatida, porque exige atenção, reflexão, trabalho, estudo... e isso, na era da tecnologia, parece que não interessa... O exemplo vem de cima. Se houvesse mais reflexão, mais estudo, não estaríamos nesta situação...
Não sou professor.mas vejo bem que se o ensino passar para as autarquias, como está a passar cada vez mais, então é que a bagunçada vai ser completa. Será a demissão completa do Ministério numa área em que deveria existir coluna vertebal. Os frutos ver.se-ão a seguir. Há-de ser lindo... mas estes governantes de faz-de-conta acham o contrário. Quando é que este povo acorda?!...
Quando leio ou verifico a realidade deste tipo de problema coloco-me a derradeira questão:
- Será isto um mero acaso, uma mera aplicação de ciência educativa?
- Deverá ser a Educação reduzida ao espaço de uma ciência e os professores reduzidos ao papel de simples funcionários?
- Não será esta redução, uma necessidade de quem deseja esconder um declínio de toda uma sociedade e uma transformação ruinosa de uma realidade?
Ora vamos lá ver,
- é a Helena Damião por acaso especialista em matemática ou no seu ensino?
- conhecerá suficientemente o actual e antigo currículo e respectivos conteúdos e níveis de exigência?
- terá o necessário conhecimento e competência para fazer uma comparação objectiva e informada a este respeito?
- por acaso terá a pretensão de perceber mais a este respeito que os professores da disciplina?
Confesso-me perplexo com tamanha prepotência. À falta de outras credenciais, sustenta-se nas suas inclinações ideológico-políticas para emanar este tipo de comentário ignorante, desinformado e inconsequente, julgando fazê-lo com a devida propriedade.
Cada vez mais me convenço que a sua presença como autora neste blog (e comparando com o nível dos seus congéneres neste espaço) foi um tremendo erro de "casting".
Como? Só os especialistas (o que quer que isto signifique) podem ter opinião? E votar? "Deixem os que sabem decidir" é?
Pois eu (como milhares de cidadãos) opino e voto sobre assuntos que estou longe de conhecer bem. Até já permiti um intervenção cirúrgica (no meu próprio corpo) a propósito de um problema que ainda não entendi. Por acaso eu creio que a presença de Helena Damião não foi um erro de casting. As opiniões dela dão-me sempre muito que pensar.
A mim, parece-me uma tentativa de ridicularizar o ensino público, eventualmente levando à sua destruição. Não sei se por motivos políticos, se para dar vantagem a escolas privadas geridas por membros dos partidos no poder.
Eu diria que matemática para o dia-a-dia é o que se ensina no ensino primário. Daí em diante, arrisco dizer que a matemática deixa de ser o "com quantas maçãs fica o Joaquim", e passa a ser uma ferramenta científica. Mas isto se calhar é um ponto de vista não informado de engenheiro...
Enviar um comentário