Imagem retirada daqui. |
Quem conhece a realidade (e eu acho que conheço um bom bocado dela) só pode temer e tremer. Explico-me, de seguida.
Esta "infiltração" das autarquias e das "forças vivas da comunidade" não é nova, mas tem-se mantido mais ou menos na periferia do núcleo curricular (quero dizer, das disciplinas reconhecidamente escolares). É certo que a ideia de que a escola deve contextualizar as aprendizagens nas vivências pessoais e sociais, e estabelecer e manter ligações próximas à comunidade de que faz parte, tem feito com que certas orientações programáticas e programas disciplinares apelem a uma participação dessas tais "forças vivas".
Na verdade, essas forças são isso mesmo: "forças"; e vê-se que estão bem vivas pois têm aproveitado todas as portas e janelas, e, ainda, as friestas, para entrarem na escola e instalarem-se nela.
Umas entram com a arrogância de quem (também) tem direito de decidir e de fazer, acotovelam os (poucos) professores que lhes opõem alguma resistência. E... passam. Outras, a maioria, usam a simpatia, o encanto, até se dizem muito preocupadas com os meninos, afirmam sorridentemente só querer o bem deles... mostram altruísmo e oferecem. E, evidentemente, passam.
A falta de crítica sobre tudo isto, a cegueira, a negação da realidade, têm replicado as entidades que gravitam à volta das escolas. São pessoas singulares, são grupos e grupelhos, são associações de todo o género, são federações com mais voz forte, são conselhos disto e daquilo, são... E, agora, são muitas empresas, grandes e potentes empresas que prometem e dão mundos e fundos.
Acresce (e isto faz muita diferença) que este cenário apresenta-se como idílico, crê-se como idílico. Ai de quem o conteste!
Mas se tivermos a paciência e a coragem de começar a escavá-lo percebemos uma coisa muito, muito simples: que estamos a empenhar o futuro das crianças e dos jovens, da sociedade e da cultura civilizacional que recebemos e que temos por obrigação legar aos que chegarão a este mundo.
E, percebemos que não são as crianças nem os jovens, nem a sociedade nem a cultura civilizacional que importa, o que importa são os horizontes limitados, auto-centrados e, não raras vezes, interesseiros dessas entidades.
Abriu-se agora mais um pouco a porta da escola. Talvez não tenha sido muito, mas era o que faltava para o currículo ficar definitivamente a saque.
2 comentários:
Um disparate sem medida, esta de deixar a definição dos curricula à solta!! Em nome de quê? Da "autonomia" das autarquias? Da "autonomia" das escolas? Tretas!! Assumam-se no MEC!!
Enquanto e continuar a tentar criar melhores professores, a Escola vai continuar a sre destruída 'by design'.
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